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Republicanos aceitam que o FBI investigue Kavanaugh antes de confirmá-lo na Suprema Corte

Comitê de Justiça do Senado aprova a nomeação do juiz acusado de abusos, que agora irá ao plenário. Em uma sessão dramática, o senador republicano Jeff Flake pediu uma semana de prazo para a investigação, depois de ser repreendido por uma vítima de violência sexual

Amanda Mars
O senador Jeff Flake, do Arizona, ouve Kavanaugh no Senado, nesta quinta-feira.
O senador Jeff Flake, do Arizona, ouve Kavanaugh no Senado, nesta quinta-feira.REUTERS
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Os republicanos aceitaram nesta sexta-feira que o FBI investigue durante mais uma semana a conduta do juiz conservador Brett Kavanaugh, cuja sabatina de nomeação para a Suprema Corte está sendo marcada por uma denúncia de abuso sexual, num drama político televisionado em tempo real. A bancada governista na comissão começou o dia cerrando fileiras em torno de Kavanaugh. Com maioria republicana de 11 x 10 votos, o Comitê de Justiça do Senado votou a favor de submeter sua nomeação ao plenário da Câmara Alta, onde se dará a confirmação final. Mas um dos conservadores, o senador Jeff Flake, que tinha duvidado sobre seu voto até o final, exigiu na última hora que a votação do plenário seja adiada em uma semana, para que o FBI tenha tempo de investigar as acusações. Antes, o senador foi repreendido duramente diante das câmeras de televisão por uma vítima de violência sexual que chorava desconsoladamente. Os republicanos aceitaram.

Na véspera dessa decisão, Christine Blasey Ford, de 51 anos, depôs durante quatro horas sobre uma suposta tentativa de estupro cometida por Kavanaugh contra ela há mais de 30 anos. Ele falou em seguida, negando taxativamente a acusação. Os republicanos acreditaram no indicado de Donald Trump, mas os democratas exigiram uma investigação aprofundada por parte do FBI, além da convocação de testemunhas, antes de elevar Kavanaugh a um cargo vitalício.

Isso dependia da reunião da comissão nesta sexta-feira, e todos os olhos estavam voltados para Flake, um conservador moderado, muito crítico do presidente Trump, que vinha manifestando dúvidas sobre Kavanaugh devido à acusação. Pouco antes de começar a reunião, entretanto, o legislador informou que tinha acreditado no juiz e o respaldaria. Essa decisão, logo no começo da manhã, decantava a sorte em favor de Kavanaugh e deu lugar a uma cena dilacerante no elevador do Senado, onde duas mulheres o repreenderam chorando durante vários minutos.

De dentro do elevador, e perante as câmeras, Flake escutou em silêncio o pranto de uma delas, vítima de agressão sexual, que assim o questionava: “O que você está dizendo a todas essas mulheres? O que está me dizendo? Olhe para mim quando eu falo. Está me dizendo que minha agressão não importa, que o aconteceu comigo não importa, e que você vai levar quem faz essas coisas ao poder. Isso é o que estará me dizendo quando votar nele. Não afaste o olhar de mim”.

A sequência durou cinco minutos eternos para Flake, que visivelmente empalidecia dentro daquela cabine. As imagens foram repetidas insistentemente na televisão e nas redes sociais. Por volta de 13h30 (hora local), quando os membros da comissão deviam votar, houve um recesso imprevisto e Flake saiu da sala para falar com um grupo de republicanos e democratas. Quando retornou, anunciou seu voto a favor, mas exigindo que o plenário do Senado adie a confirmação final em uma semana, para que o FBI possa investigar um pouco mais o caso. Se isso não ocorrer, disse, não se sentirá “cômodo” aprovando o juiz nessa sessão plenária.

Donald Trump, que na quinta-feira à noite reafirmou seu apoio a Kavanaugh, disse que o depoimento da mulher que acusa o juiz tinha soado “muito convincente”, mas que a decisão cabia aos senadores. O Partido Republicano quer resolver a nomeação do juiz antes das eleições legislativas, que podem fazê-lo perder o controle do Congresso, mas seguir adiante com a votação em meio a tanta polêmica poderia ter consequências nas urnas.

O caso Kavanaugh reabriu feridas nos Estados Unidos. Trouxe à memória o processo de confirmação do juiz Clarence Thomas, em 1991, que foi acusado de assédio sexual contínuo por uma ex-subordinada dele, Anita Hill, mas acabou sendo nomeado para a Suprema Corte. Os legisladores daquela época não acreditaram em Hill, e os de agora não acreditaram em Christine Blasey Ford. Essa professora de estatística da Universidade de Palo Alto (Califórnia) aponta Kavanaugh como autor de uma tentativa de estupro. Na quinta-feira, com voz embargada, ela relatou no Senado que em 1982, quando tinha 15 anos, o hoje juiz, dois anos mais velho, e um amigo dele chamado Mark Judge a colocaram à força dentro de um quarto, durante uma festa. Lá, Kavanaugh supostamente montou sobre ela e tentou despi-la enquanto lhe tampava a boca para abafar seus gritos.

Os republicanos baseiam seu apoio ao indicado na negação enérgica do juiz e na ausência de provas materiais ou na corroboração de testemunhas, enquanto os democratas querem deter o processo, convocar testemunhas e deixar que o FBI investigue. Ford foi submetida a um detector de mentiras e se mostra disposta a participar do processo. Também a Ordem dos Advogados dos EUA pediu uma investigação federal antes da confirmação de Kavanaugh para um cargo vitalício tão crucial. Mas, depois do primeiro empurrão da comissão nesta sexta-feira, a votação está pronta para a decisão no plenário, talvez já na próxima semana.

A fratura ficou evidente nesta sexta-feira. Alguns democratas abandonaram a reunião em sinal de protesto quando viram que sua causa estava perdida. No Senado, os republicanos dispõem de uma maioria mínima, que lhes permite levar seu nomeado à Suprema Corte, podendo sofrer no máximo uma deserção. Em caso de empate por 49 a 49, o voto do vice-presidente dos EUA, Mike Pence, define o resultado.

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