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Relato de um caso de abuso encurrala o candidato de Trump ao Supremo

Christine Blasey Ford afirma que Brett Kavanaugh, embriagado, tentou estuprá-la em 1982

Brett Kavanaugh, em 6 de setembro, no Senado.
Brett Kavanaugh, em 6 de setembro, no Senado.J. Scott Applewhite (AP)

Christine Blasey Ford decidiu vir a público. Ela é a mulher que acusa Brett Kavanaugh –indicado por Donald Trump para o cargo de juiz da Suprema Corte– de abuso sexual três décadas atrás, quando ambos eram menores de idade. A denúncia foi ouvida na última quarta-feira, após uma carta enviada a uma senadora democrata, mas sem revelar o nome da suposta vítima nem ela contar sua versão. Ford decidiu neste domingo fazer as duas coisas em uma entrevista a The Washington Post. Ela acusa Kavanaugh, que ela diz que estava muito embriagado, de tentar estuprá-la nos anos 80 durante uma festa em uma casa nos arredores de Washington. O jurista conservador nega taxativamente, mas o fato de Ford ter decidido dar um passo a frente irá, sem dúvida, alimentar o caso e complicar a nomeação de Kavanaugh, que até agora parecia garantida.

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“Ele estava tentando me atacar e tirar minha roupa", diz Ford, 51, que trabalha como professora de psicologia na Califórnia. "Pensei que ele poderia me matar sem querer", acrescenta na entrevista. Ela não se lembra da data exata, mas acredita que os eventos alegados ocorreram no verão de 1982. Estava com 15 anos e terminava seu segundo ano do ensino médio na Holton-Arms Women's School, em Bethesda, Maryland. Kavanaugh tinha 17 anos e estava no terceiro ano na escola secundária masculina em Georgetown, North Bethesda. Ambos se conheciam por frequentar os mesmos círculos sociais. Desde então, ela diz, eles nunca mais se falaram.

Os adolescentes estavam em uma pequena reunião social em uma casa sem nenhum adulto presente. De acordo com a versão de Ford, ela subiu ao andar de cima para usar o banheiro e, de repente, foi empurrada para um quarto. A música estava tocando no volume máximo. Kavanaugh e seu colega Mark Judge estavam "bêbados" a ponto de "tropeçar". Todos na festa tinham bebido cerveja, mas os dois garotos estavam bebendo havia muitas horas. Enquanto Judge observava, Kavanaugh atacava Ford para colocá-la na cama. Prostrado sobre as costas dela, ele tentou tirar suas roupas, segundo relatou. Quando ela tentou gritar por ajuda, ele cobriu sua boca. A garota finalmente conseguiu escapar quando Judge se jogou em cima dos dois na cama. Todos caíram e ela foi capaz de fugir para o banheiro, onde se trancou até ouvir os dois descerem e depois saírem da casa apavorados, afirmou Ford.

Ford diz que decidiu esquecer o que aconteceu e não contou aos pais por medo de ser repreendida por estar em uma festa em que menores tomavam bebidas alcoólicas. A primeira vez que falou sobre o suposto abuso sexual foi em 2012, quando foi com o marido para uma terapia de casal. Ela garante que é um trauma que arrastou por toda a vida e a afetou emocionalmente. O Post reviu algumas das notas do psicoterapeuta de Ford, nas quais, sem mencionar Kavanaugh, descreve um ataque de "meninos de escola de elite" que se tornaram "altos representantes da sociedade de Washington".

De acordo com o jornal, a mulher recentemente contratou uma advogada de Washington especializada em casos de abuso sexual, que lhe recomendou que fizesse um teste com um polígrafo, ante o temor de que fosse acusada de mentir. O exame concluiu que Ford estava dizendo a verdade quando explicou a acusação. O Post analisou também o livro escolar do ano de graduação de Kavanaugh, no qual ele faz várias referências ao álcool. De sua parte, Judge, cineasta e escritor, escreveu um livro sobre seu vício em álcool que inclui uma possível menção a Kavanaugh e uma intensa noite de bebedeira.

No início de julho, a mulher contatou o Post quando Kavanaugh apareceu como um dos favoritos para ser nomeado por Trump para a vaga no Supremo. No entanto, nas semanas seguintes ela decidiu que não queria falar do suposto abuso sexual por causa do impacto que a revelação de sua identidade teria. Tudo mudou na semana passada, quando vieram à tona as primeiras informações sobre a carta que enviou a uma senadora democrata, sob a condição de que não fosse divulgada, mas que acabou vazando.

É uma incógnita o impacto que a revelação pode ter sobre o processo de nomeação de Kavanaugh em plena era do movimento MeToo contra o encobrimento dos abusos sexuais. O juiz, que teria um cargo vitalício e reforçaria a maioria conservadora do tribunal, testemunhou na semana passada no Comitê Judiciário do Senado e, em seguida, sua nomeação parecia encaminhada para a aprovação pelo Senado, graças aos votos da maioria republicana, antes das eleições legislativas de novembro. O caso evoca o de Clarence Thomas, que em 1991 foi nomeado membro do Supremo Tribunal Federal. Pouco antes ele fora acusado de assédio sexual por uma mulher, Anita Hill, e negou.

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