_
_
_
_
_

Brett Kavanaugh, algoz do impeachment de Clinton e o escolhido por Trump para a Suprema Corte

Indicado para a vaga de Anthony Kennedy tem estreitas relações com o mundo conservador, mas alguns republicanos o consideraram moderado demais

Donald Trump conversa com Brett Kavanaugh e sua família no ato da Casa Branca
Donald Trump conversa com Brett Kavanaugh e sua família no ato da Casa BrancaAlex Brandon (AP)
Mais informações
Donald Trump consolida guinada conservadora na Suprema Corte
Protesta contra endurecimiento de la ley del aborto en Polonia
Aborto, questão-chave na indicação de Trump para o Supremo dos EUA
Aposentadoria de juiz moderado no Supremo dos EUA abre caminho a nova guinada à direita

Poucos conhecem melhor os mesentérios judiciais de Washington que Brett Kavanaugh, o escolhido por Donald Trump para a vaga aberta na Suprema Corte dos Estados Unidos. O jurista, de 53 anos, encarna o establishment judicial conservador e tem estreitas vinculações políticas. Foi assistente de Kenneth Starr, o promotor independente que investigou uma operação imobiliária de Bill Clinton que acabou levando a um processo de impeachment (destituição) contra o presidente democrata, em 1998. Também trabalhou na campanha do republicano George W. Bush no polêmico processo de apuração dos votos da Flórida nas eleições de 2000, e depois foi assessor do presidente na Casa Branca. Desde 2006, é juiz federal de recursos na capital federal.

Na noite desta segunda-feira, dia 9, ao anunciar sua nomeação – que ainda deverá ser confirmada pelo Senado –, Trump elogiou as “credenciais impecáveis” de Kavanaugh e o descreveu como “uma das mentes jurídicas mais agudas do nosso tempo”. O jurista, que foi com sua mulher e duas filhas ao ato na Casa Branca, declarou-se “agradecido e lisonjeado”. Salientou que a independência judicial é a “joia da coroa” dos Estados Unidos e prometeu ter uma “mente aberta em cada caso”.

Suas declarações tinham um claro destinatário: os senadores que devem decidir nas próximas semanas se aprovam sua designação para um cargo vitalício e a partir do qual poderá alterar o rumo social do país durante décadas. O perfil de Kavanaugh, por sua ligação com o mundo republicano, garante que o processo de votação será turbulento. Não era a escolha preferida do líder da maioria no Senado, o republicano Mitch McConnell, porque Kavanaugh tem uma extensa bagagem política e de decisões judiciais que sem dúvida os democratas tratarão de usar contra ele. Por exemplo, quando Bush o nomeou em 2003 para a Corte de Apelações do Distrito de Columbia, os democratas se queixaram de que era um candidato com excessivo peso partidário.

Kavanaugh, que estudou Direito na Universidade de Yale e também foi assessor na Suprema Corte, é um juiz de crenças conservadoras. Já fez, por exemplo, uma interpretação ampla do poder executivo de um governante, defendeu o direito de portar armas e se mostrou crítico com algumas normas de proteção ambientais. Mas não se situa num extremo ideológico. Por exemplo, alguns republicanos criticaram que suas decisões em assuntos relacionados a saúde e aborto não são suficientemente conservadoras. Esse perfil pode jogar a seu favor, se atrair o voto de republicanos moderados e democratas que em novembro disputam a reeleição em Estados conquistados por Trump nas eleições de 2016.

Kavanaugh nasceu em Washington, numa família de bacharéis em Direito. É filho único e estudou num colégio jesuíta. Sua mãe foi professora de um colégio público da cidade e também juíza em um condado próximo a Washington. Seu pai trabalhou numa associação comercial. Seus dois progenitores foram ao evento desta segunda-feira na Casa Branca. Kavanaugh é um apaixonado pelo esporte e atua como treinador de basquete nos times de suas filhas.

Um dos temores de grupos progressistas é que um novo magistrado, mais conservador que Anthony Kennedy, que renunciou recentemente à sua vaga na Suprema Corte, se mostre contrário à sentença de 1973 que legalizou o aborto. Kavanaugh, que é católico, pode avivar esse medo. Recentemente, votou contra a decisão do tribunal de recursos de Washington de autorizar o aborto em uma imigrante indocumentada menor de idade que estava sob custódia policial.

Outro assunto que pode lhe perseguir é seu papel no impeachment de Clinton. Na época, defendeu uma interpretação jurídica ampla para tentar destituir o presidente, o que poderia voltar a fazer agora caso Trump sofra um eventual processo de impeachment por causa da investigação sobre a interferência russa nas eleições de 2016.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_