Novas sanções dos EUA agravam a crise na Rússia
As medidas, que entram em vigor nesta quarta-feira, coincidem com uma queda de apoio à política externa de Putin, de 22% para 18%
O pacote de novas sanções norte-americanas contra Moscou, em resposta ao caso do ex-espião russo Serguei Skripal, alvo de uma tentativa de assassinato em março em Londres, com sua filha, entrou em vigor nesta quarta-feira. Bastou o anúncio das novas medidas para produzir há duas semanas uma drástica queda do rublo, que depois se recuperou e nos últimos dias se estabilizou, embora com perdas. No entanto, a pressão sobre a moeda local continua, e agora que começam a ser aplicadas as medidas tomadas por Washington muitos prognosticam que continuará perdendo valor. Isso causa irritação nos russos, à qual se soma o descontentamento pela decisão governamental de aumentar a idade de aposentadoria, algo que a imensa maioria da população rejeita, o que vem se traduzindo em queda de apoio a Putin.
As sanções, que chegam em um momento em que Putin pede popularidade por sua política externa e o modo como os russos avaliam sua defesa dos interesses do país no mundo, contemplam uma série de limitações às exportações da Rússia, entre as quais se destacam as que podem ser destinadas tanto a finalidades pacíficas como à esfera militar, como é o caso de alguns equipamentos eletrônicos utilizados nos aviões.
No entanto, essas medidas não são o problema, segundo os especialistas, mas, sim, o segundo pacote que Washington promete aplicar dentro de três meses se o Kremlin não der garantias de que não utilizará armas químicas (Skripal e sua filha foram envenenados pelo agente nervoso novichok).
Esse outro pacote atingirá os bancos, suspenderá os voos da Aeroflot para os Estados Unidos e reduzirá o intercâmbio comercial ao mínimo, entre outras medidas. Se no final de novembro essa nova rodada de sanções for aplicada, a situação, segundo os prognósticos pessimistas, se tornará catastrófica e poderia desembocar em uma bancarrota como a de 1998 —os otimistas, por sua vez, argumentam que o sistema financeiro russo é estável, que o Banco Central dispõe de grandes reservas em dólares e que não haverá nenhum colapso—.
Mas o cidadão comum, como em ocasiões anteriores, está convencido de que, qualquer que seja o cenário, situação vai piorar e os que têm poupança em rublos pensam em como gastá-la (desde o início do ano, o dólar ganhou quase 10 rublos, passando de 57,6 a 67,1) antes que se desencadeie a inflação que a apreciação da moeda norte-americana provoca.
Esse mal-estar ganha maior dimensão com a decisão governamental de aumentar a idade de aposentadoria, dos atuais 55 anos para 63 no caso das mulheres, e de 60 a 65 para os homens. O processo será gradual e se encerrará em 2028, de acordo com o projeto de lei já aprovado em primeira leitura. A rejeição tem sido tanta que dois partidos —Rússia Justa e o Comunista— pediram um referendo sobre a questão e o Governo teve de dar espaço para negociações. Mas o que está claro é que a elevação da idade para obter a aposentadoria ocorrerá de qualquer maneira.
Aumenta também o descontentamento com a política externa do Kremlin. Segundo uma pesquisa publicada neste mês pelo Centro Levada, os russos gostariam que o Governo parasse de ajudar outros países e esses recursos fossem destinados a melhorar a situação da população. Isso se traduz em uma queda de apoio à política externa de Putin —de 22% em 2016 a 18%—. Houve uma redução também no número de pessoas que gostam da maneira como o presidente defende os interesses da Rússia: de 25% a 17%
Os russos, que já sofrem as consequências das sanções decorrentes da anexação da Crimeia, impostas pela União Europeia, Estados Unidos e outros países, estão fartos delas e não veem como poderão ser reduzidas. Washington ameaça com novas punições e o Reino Unido, por intermédio de seu ministro de Relações Exteriores, Jeremy Hunt, pediu na terça-feira sua ampliação. Ainda está para ser visto como esse novo estado de espírito da população influirá nas eleições locais previstas para 9 de setembro.
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