Governo Trump impõe sanções contra Rússia por interferência eleitoral e ciberataques
Washington penaliza 19 cidadãos e cinco organizações. Entre eles estão os acusados pelo promotor especial que investiga a trama russa
Em plena tensão internacional com o Kremlin, os Estados Unidos assumiram a liderança e lançaram seu golpe mais direto. O Departamento do Tesouro anunciou a imposição de sanções a 19 cidadãos e cinco empresas russas, tanto por sua participação na produção e divulgação de notícias falsas durante a campanha eleitoral de 2016 quanto por uma série orquestrada de ataques cibernéticos contra os principais setores da economia. A punição, o maior golpe dado até agora por Donald Trump contra Moscou, amplia a distância internacional em relação a Vladimir Putin a três dias da eleição presidencial russa.
O aviso da reação norte-americana havia sido dado. Há quase um mês, o promotor especial da trama russa, Robert Mueller, revelou a fábrica de notícias falsas e acusou 13 cidadãos e três empresas russas de terem construído uma gigantesca operação, batizada de Projeto Latkha, destinada a interferir nas eleições por meio da intoxicação das redes sociais e ativismo de base. Era a prova mais palpável até então da interferência e da capacidade de se sobrepor às leis estrangeiras.
Um caso que agora foi repetido com o envenenamento do ex-espião russo Sergei Skripal e de sua filha com gás nervoso em 4 de março, na cidade inglesa de Salisbury. Ataque que os EUA, França, Reino Unido e Alemanha consideraram em uma declaração conjunta "o primeiro uso ofensivo de um agente nervoso na Europa desde a Segunda Guerra Mundial" e "um ataque à soberania britânica" que "ameaça a segurança de todos".
Neste horizonte de Guerra Fria, os Estados Unidos escolheram o momento de acionar um morteiro que estava sendo preparado há dias e que havia sido alertado tanto pela porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, quanto pela embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Haley. Foi um disparo político sobre o caso que mais irritou a opinião pública norte-americana e que se tornou o antecedente mais claro de outras interferências russas no Ocidente. Mesmo assim, Trump, seguindo um costume que não deixa de suscitar suspeitas, conteve sua proverbial loquacidade e não disse nada sobre Putin nem sobre as sanções. No dia, até negou a principal e resumiu tudo a "uma invenção dos democratas".
As penalidades implicam o bloqueio das propriedades dos afetados nos EUA e a proibição de operar e fazer negócios no sistema dos EUA. Algumas das organizações punidas, como os serviços de espionagem russos e de inteligência militar, já estão sujeitas a represálias dos EUA por suas ações na Ucrânia. Entre os penalizados está Yevgeny Prigozhin, cérebro da interferência, um empresário russo que tem sob seu controle o financiamento do Kremlin e que é considerado um aliado de Putin.
"A Administração está enfrentando e lutando contra as atividades cibernéticas malignas da Rússia, incluindo suas tentativas de interferir nas eleições dos EUA, falamos de ataques cibernéticos destrutivos e intrusões que apontam para infraestruturas críticas", disse o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, em um comunicado.
Um dos ataques cibernéticos, que Washington e Londres atribuem ao Exército russo, é o chamado NotPetya, que se originou em junho de 2017 na Ucrânia e se espalhou por boa parte do mundo, afetando o comércio mundial e a distribuição de medicamentos. É considerado o ataque cibernético mais destrutivo e caro da história.
Paralelamente, o Tesouro revelou que, desde março de 2016, os hackers ligados ao Kremlin tentaram atacar organizações governamentais dos EUA e setores essenciais da primeira potência mundial, como o de eletricidade, nuclear, água e aviação. Essa informação, até então desconhecida, sem dúvida alimentará o debate político nos EUA sobre as manobras desestabilizadoras da Rússia.
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