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2.500 reais de bilheteria em seu último filme: será o fim de Kevin Spacey?

O mais recente filme do ator, vencedor de dois Oscar e que enfrenta várias acusações de abuso sexual, já é o maior fracasso cinematográfico do ano. O filme, orçado em cerca de 50 milhões de reais, quase não teve promoção

A carreira do ator Kevin Spacey atingiu o fundo do poço com seu mais recente trabalho.
A carreira do ator Kevin Spacey atingiu o fundo do poço com seu mais recente trabalho. ANGELA WEISS (AFP)

Seis pessoas. Essa é a média de espectadores por sessão de cinema que viram o último filme de Kevin Spacey no fim de semana de estreia. O último, talvez com todo o significado da palavra, agora que a estrela de Beleza Americana —que arrecadou mais de $300 milhões de dólares (1,2 bilhão de reais no câmbio atual) nas bilheterias— atinge o fundo do poço com apenas 127 dólares (cerca de 520 reais) arrecadados no primeiro dia da estreia de seu mais recente trabalho. Billionaire Boys Club (ainda sem data de estreia no Brasil), a resposta em forma de discoteca light para O Lobo de Wall Street, não pode transportar seu título para sua trajetória comercial, depois de arrecadar ridículos 620 dólares (2.500 reais) nos 11 cinemas norte-americanos que se atreveram a projetar o filme no fim de semana passado, segundo o The Hollywood Reporter. Há menos de um ano, Spacey triunfava com a nova temporada de House of Cards, por sua interpretação como John Getty, em Todo o Dinheiro do Mundo, estava entre os cotados para receber a estatueta, Em Ritmo de Fuga: Baby Driver era considerada uma das propostas mais interessantes do mundo cinematográfico e estava se preparando para dar vida ao escritor Gore Vidal, em um filme produzido pela Netflix. Depois das múltiplas acusações de assédio sexual contra ele, hoje só cabe uma pergunta: este fracasso significa o fim da carreira do vencedor de dois Oscar?

"Não consigo entender a razão pela qual alguém escolheria estrear Billionaire Boys Club, quando há pelo menos 15 vítimas públicas de Spacey". Foi assim que a jornalista do New York Post, Sara Stewart, reagiu em julho passado ao lançamento da produtora Vertical Entertainment, que anunciava a estreia nos cinemas de seu mais recente filme. Baseado em uma história real e estrelado por também brilhantes promessas de Hollywood como Ansel Elgort (Baby Driver), Taron Egerton (Kingsman: O Círculo Dourado) e Emma Roberts (American Horror Story), havia sido lançado anteriormente em plataformas de streaming, transformando a estreia em um processo quase burocrático e condenado ao ostracismo. O nome e a imagem Spacey foram eliminados do cartaz promocional, e a produtora emitiu um comunicado justificando uma decisão "difícil": "Esperamos que as alegações angustiantes contra o comportamento de uma pessoa —que não eram públicas na época da filmagem há quase dois anos e meio e pertinentes a alguém que tem um pequeno papel secundário no filme— não manchem a estreia do filme". No eterno debate sobre se o aspecto pessoal do profissional deve ser levado em conta nesse tipo de caso, o grande público expressou sua opinião com clareza.

A revista especializada Variety, que classifica o fracasso de "abismal", afirma que, embora não seja o primeiro filme do ano com bilheteria de menos de 1.000 dólares em seu primeiro fim de semana, deve ser destacado como o primeiro com quatro grandes estrelas de Hollywood em seu elenco em arrecadar valores tão baixos. O orçamento total do filme é de 13 milhões de dólares (cerca de 50 milhões de reais). O fracasso também era esperado considerando que a produtora não teve a possibilidade de realizar ações de marketing ou promoção na mídia. Nenhum membro do elenco quis vincular sua imagem à de Spacey e ainda menos ter que enfrentar as perguntas dos jornalistas sobre as denúncias contra o colega.

Kevin Spacey, em cena de ‘Billionaire Boys Club’.
Kevin Spacey, em cena de ‘Billionaire Boys Club’.VERTICAL ENTERTAINMENT

Os responsáveis pelos outros projetos que o ator tinha em seu portfólio, depois que as acusações se tornaram públicas, tomaram decisões radicais a esse respeito. A Netflix gastou 39 milhões de dólares para apagar qualquer vestígio de Spacey na sexta temporada de House of Cards —agora com Robin Wright como única protagonista— e cancelar o filme biográfico sobre o escritor Gore Vidal, na época em fase de pós-produção. A um mês e meio do lançamento, Ridley Scott decidiu filmar novamente todas as cenas de Spacey no filme Todo o Dinheiro do Mundo, substituindo o ator por Christopher Plummer, que aliás conseguiu uma indicação ao Oscar por sua interpretação do magnata J. Paul Getty. Scott disse que não poderia aceitar que as ações de uma pessoa afetassem o bom trabalho do restante da equipe: "É simples assim".

Em 29 de outubro de 2017, Spacey desapareceu da face da meca do cinema. Fez isso com uma carta com menos de dois parágrafos publicada em sua conta no Twitter, ainda ativa e com mais de 4 milhões e meio de seguidores. O ator reagia "horrorizado" às acusações de Anthony Rapp, intérprete da série Star Trek: Discovery, que o denunciou por assédio sexual durante uma festa em 1986, quando este tinha apenas 14 anos. Spacey afirmou que não se lembrava de tal encontro, mas pediu desculpas por um comportamento, segundo ele, resultante de um estado de embriaguez. O vencedor do Oscar recebeu duras críticas (algumas de intérpretes como Rose McGowan) por aproveitar a carta para oficializar sua oficiosa homossexualidade, de maneira a desviar a atenção para o caso. Ao primeiro caso, se somariam dezenas de novas alegações contra o ator, tanto em sua etapa como diretor artístico do teatro Old Vic, em Londres, como por membros da equipe técnica de House of Cards. Em julho passado, três novas denúncias foram reveladas. Spacey decidiu seguir os passos de Harvey Weinstein e se internou na mesma clínica de reabilitação (The Meadows, no Arizona) para combater seu suposto vício em sexo. Após a publicação de uma imagem em que aparece correndo ao redor do centro em novembro passado, Spacey não foi visto novamente em público ou condenado, até o momento, de qualquer crime.

A baixa arrecadação do filme Billionaire Boys Club e uma agenda de trabalho vazia pressagiam o fim abrupto e prematuro de um dos talentos mais elogiados de Hollywood. Um de seus colegas de profissão, o protagonista de Breaking Bad, Bryan Cranston, disse em novembro passado que a carreira de Spacey estava "acabada". Um produtor de Hollywood anônimo corroborava suas palavras no New York Post: "Não acho que nenhum estúdio, nem mesmo os da China, possam fazer uma oferta para Spacey antes que as investigações sejam resolvidas ou encerradas. É impossível garantir um filme nessas circunstâncias, e existe a possibilidade que sua estrela não possa apoiar a estreia se estiver aguardando um julgamento". Especialistas acreditam que um retorno a Hollywood a curto e médio prazo seja inviável, deixando em aberto as portas para pequenos trabalhos no teatro ou no cinema independente.

Billionaire Boys Club não é a única vítima colateral do comportamento de alguns dos nomes acusados publicamente no conhecido Efeito Weinstein. Filmes como Terra Selvagem ou A Batalha das Correntes foram descartados da última disputa pelos prêmios após as denúncias contra seu produtor, Harvey Weinstein. O humorista Louis C. K. nem mesmo estreou seu filme mais recente, I Love You, Daddy, e duas de suas atrizes, Chloe Moretz e Rose Byrne, afirmaram que o filme nunca deveria estrear. "Não acho que agora seja o momento que eles tenham voz", disse Moretz. Jeffrey Tambor foi retirado da série Transparent, John Lasseter deixou a direção da Disney Pixar, e James Franco, vencedor de um Globo de Ouro e indicado ao Oscar por Um Desastre de Artista, decidiu não ir à gala após ser acusado de comportamento sexual inadequado por várias atrizes. Não se sabe o futuro do novo filme de Woody Allen, A Rainy Day in New York, estrelado por Selena Gomez e Timothée Chalamet desde que, em janeiro, vários veículos começaram a especular sobre seu possível abandono. Mais sorte tiveram atores como Casey Affleck (Manchester à beira-mar) ou Johnny Depp, estrela de supostos episódios de abuso que vieram à imprensa antes da onda do #MeToo, e cujas carreiras continuam alheias a qualquer polêmica. As regras não são as mesmas para todos no clube de atores bilionários de Hollywood.

Cartaz do filme ‘Billionaire Boys Club’.
Cartaz do filme ‘Billionaire Boys Club’.

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