Israel, 70 anos de avanços rápidos e velhos conflitos
Estado judaico celebra o aniversário da sua criação, em 1948, convertido em uma potência militar e tecnológica, mas ainda às voltas com a ocupação da Palestina e isolado no Oriente Médio
Embora a proclamação da independência tenha ocorrido num 14 de maio, o Estado judaico comemora o seu septuagésimo aniversário nesta quinta-feira – o quinto dia do mês de Iyar de 5778, pelo calendário hebraico. O recolhimento e o luto costumam preceder as festividades em Israel. Nas últimas 24 horas, o país celebrou o Dia dos Caídos, quando todos os locais de diversões públicas ficam fechados.
Transformado em potência militar hegemônica do Oriente Médio, Israel se encontra há uma semana em estado de alerta na sua fronteira do norte, por causa da ameaça de um ataque do Irã ou de seu aliado libanês Hezbollah. Como medida de precaução, a Força Aérea cancelou a participação das esquadrilhas de caças F-15 em manobras conjuntas nos EUA para poder eventualmente exercer sua esmagadora superioridade nos céus do leste do Mediterrâneo.
Embora busque uma aproximação com a Arábia Saudita e outros países muçulmanos sunitas contra o Irã e seus associados xiitas, em 70 anos de existência Israel só conseguiu selar a paz com dois vizinhos (Egito e Jordânia), permanecendo de resto isolado na região.
Paradoxalmente, essa solidão forçosa em meio a um ecossistema de países muçulmanos, junto com a escassez de recursos naturais, contribuiu para forjar um poderoso modelo de desenvolvimento. O 11º. mandamento dos israelenses atualmente é “Inovarás”. Este é pelo menos o título do livro oportunamente lançado pelo analista Avi Jorisch com o subtítulo “Como a engenhosidade israelense soluciona os problemas do mundo”.
A diversidade cultural e étnica de centenas de milhares de judeus chegados do mundo inteiro e o modelo de socialização representado pelo serviço militar obrigatório (quase três anos para os homens e quase dois para as mulheres) explicam, segundo esse autor, o sucesso de start-ups como a do navegador Waze, adquirido pelo Google, e o sistema de condução autônoma para veículos Mobileye, pelo qual a Intel pagou o equivalente a quase 60 bilhões de reais há um ano.
Sociedade de pioneiros
Jorisch argumenta que a chutzpah (ousadia, descaramento) de uma sociedade de pioneiros é o ingrediente que explica a proliferação de empresas tecnológicas emergentes, que impulsionaram uma expansão econômica que chegou a 4,1% do PIB no final de 2017.
As comemorações do 70º aniversário de Israel coincidem com uma sangrenta onda de protestos palestinos em Gaza, que já deixaram 34 mortos e cerca de mil feridos por disparos de franco-atiradores militares. A ocupação dos territórios palestinos há meio século continua sendo o elefante que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu preferiu não enxergar enquanto desejava feliz aniversário a seus compatriotas, na noite desta quarta. “Não tenho nenhuma dúvida de que dentro de mais 70 anos Israel será mais forte”, disse.
Nesta quinta, o premiê deve assistir à entrega do Prêmio Israel, o mais prestigioso do país, ao escritor David Grossman, destacado representante da esquerda pacifista e que perdeu um filho soldado na guerra de 2006 no Líbano. Na noite anterior, o romancista participou de uma cerimônia em Tel Aviv na qual centenas de israelenses e dezenas de palestinos recordaram juntos as vítimas de velhos conflitos.
“Depois de 70 anos de avanços espetaculares, Israel pode ter virado uma fortaleza”, disse Grossman em seu discurso, “mas ainda não é um lar: os israelenses não terão um lar enquanto os palestinos não tiverem o seu”.
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