_
_
_
_

Trump impõe o nacionalismo radical a seu gabinete

O presidente promove os falcões Pompeo, Bolton e Navarro, e desmantela a ala moderada. A Coreia do Norte e o Irã são as pistas de prova da nova linha dura

Jan Martínez Ahrens
Donald Trump, na sexta-feira na Casa Branca.
Donald Trump, na sexta-feira na Casa Branca.Susan Walsh (AP)

Antes do salto, um passo atrás. Donald Trump, depois de 14 meses de mandato, voltou às origens. Com a substituição do general Herbert R. McMaster pelo falcão John Bolton no Conselho de Segurança Nacional, o presidente dos EUA encerrou uma longa e dolorosa crise governamental destinada a desmantelar a ala moderada da Casa Branca e implementar os preceitos mais radicais de sua agenda nacionalista. O Irã e a Coreia do Norte serão as primeiras pistas de prova dessa nova e incerta era.

Mais informações
Com nomeação de ultraconservador, Trump coroa sua guinada à direita
Trump atinge China com aumentos tarifários de 200 bilhões de reais
Governo Trump impõe sanções contra Rússia por interferência eleitoral e ciberataques

A vertigem dá o tom da Casa Branca. As demissões e destituições são constantes. A roda-viva começou em fevereiro de 2016 com o conselheiro de Segurança Nacional, Michael Flynn, que durou apenas 24 dias no cargo. Desde então, a intensidade não diminuiu. O índice de substituição nos altos cargos supera os 43% e é o maior da história recente dos EUA. E não há quem se livre. Caíram desde o tenebroso estrategista-chefe Steve Bannon, e o chefe dos advogados da trama russa, John Dowd, até a leal e silenciosa diretora de Comunicação Hope Hicks.

Mas no caos se percebe uma tendência. O presidente não só prescinde sem demora de quem o estorva, como também, passo a passo, configura um gabinete a sua imagem e semelhança. Uma Casa Branca povoada de figuras extremas e acopladas ideologicamente a seu comandante em chefe. Esse foi o principal resultado de sua crise de governo.

O expurgo dos moderados começou no início do mês com a queda do conselheiro econômico Gary Cohn. Oposto à guerra tarifária com Europa e China, o banqueiro de Wall Street preferiu demitir-se antes de se ver obrigado a defender o isolacionismo. Sua saída, além de acabar com o único membro do gabinete capaz de corrigir Trump em público, evidenciou a vitória do obscuro e ultranacionalista diretor do Conselho Nacional de Comércio, Peter Navarro. Um economista obcecado pelo déficit comercial, que neste momento se colocou à frente da batalha tarifaria contra a Europa e a China. “Somos vítimas de uma agressão e temos de responder”, afirmou na quinta-feira a um grupo de jornalistas.

O segundo golpe chegou com a destituição fulminante do secretário de Estado Rex Tillerson. Uma bomba anunciada pelo Twitter que deixou clara a orientação que Trump quer dar à diplomacia norte-americana. Durante meses, o antigo diretor da Exxon tinha tentado acalmar a cólera presidencial. Tinha se oposto à saída do Acordo de Paris contra a mudança climática, tinha criticado a complacência da Casa Branca com Vladimir Putin, freado os falcões no caso contra a Coreia do Norte e lutado para manter vivo o pacto nuclear com o Irã. Tudo isso foi pelos ares em 14 de março com sua demissão e a designação do diretor da CIA, Mike Pompeo, como seu futuro substituto.

Pompeo e Bolton, ao lado de Navarro, formam agora a tríade emergente da Casa Branca. Só resiste o secretário de Defesa, o tenente-geral James Mattis. Amparado por seu enorme prestígio militar, o chefe do Pentágono é considerado o último moderado. Mas sua capacidade de manobra, com as nomeações e a nova orientação política, enfraqueceram-se. “Há poucas pessoas mais adequadas para levar o país a uma guerra do que Bolton. Junto com a nomeação de Bolton, Trump está se deixando levar por seus piores instintos nacionalistas”, escreveu The New York Times em seu editorial.

O passado de Bolton na Administração de George Bush filho o avaliza como belicista nato. Defendeu a invasão do Iraque e agora se declara favorável a uma intervenção na Coreia do Norte se no cara a cara de maio não houver a desnuclearização imediata. Tampouco o pacto com o Irã, uma das maiores conquistas da era Obama, o convence. Loquaz e muito dado a esquematismos, seu perfil se aproxima muito ao do primeiro conselheiro de Segurança Nacional, Michael Flynn, um general de reflexões curtas e respostas incendiárias. O estilo que Trump gosta.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_