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Gary Cohn, principal assessor econômico de Trump, renuncia por discordar da guerra comercial

O influente assessor deixa a Casa Branca suplantado pela vitória da ala radical

Jan Martínez Ahrens
Gary Cohn em setembro, na Casa Branca.
Gary Cohn em setembro, na Casa Branca.Yuri Gripas (REUTERS)

A guerra comercial iniciada por Donald Trump já tem sua primeira vítima. O poderoso assessor econômico da Casa Branca, Gary Cohn, renunciou na terça-feira por discordar do presidente na guerra tarifária. A queda de Cohn representa uma derrota do setor moderado diante dos falcões, mas significa principalmente a saída de um dos membros mais prestigiosos do gabinete, o cérebro da reforma tributária e um dos poucos cargos de alto escalão capazes de corrigir o presidente, como fez em agosto quando Trump, depois do crime racista de Charlottesville, manteve-se distante.

“Esta Administração pode e deve fazer mais para condenar esses grupos de forma coerente e inequívoca, bem como fazer todo o possível para combater as profundas divisões que existem em nossas comunidades. Os cidadãos que defendem a igualdade e a liberdade nunca podem ser equiparados aos supremacistas brancos, neonazistas ou a KKK [Ku Klux Klan]”, disse na ocasião em uma entrevista ao Financial Times. Essas palavras causaram a impressão de que Cohn iria deixar o cargo. Mas ele permaneceu e, no fim, foi uma disputa anterior, quase congênita a Trump, que determinou sua saída.

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Vindo do Goldman Sachs, Cohn, de 56 anos, era um tecnocrata que apostava mais no pacto do que na batalha. Pragmático, de verbo fácil e reconhecido por seus colegas do mercado financeiro, estava nas antípodas do assessor comercial, Peter Navarro, o desmesurado economista que conseguiu que Trump rompesse as amarras e preparasse o aumento unilateral das tarifas para o aço (25%) e o alumínio (10%). Uma medida que a União Europeia respondeu com a ameaça de represálias.

Cohn tentou, por todos os meios, deter a conflagração. Assim como fez com o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA, na sigla em inglês), procurou priorizar a negociação. Mas desta vez falhou. Nem mesmo sua vitória com a titânica reforma fiscal, o maior êxito político até a data da Casa Branca, serviu para impor sua palavra. Trump, saudado por Navarro e pelos epígonos de Steve Bannon que ainda permanecem na Casa Branca, voltou às raízes, levantou a bandeira da América Primeiro e anunciou que as guerras comerciais são “boas e fáceis de ganhar”.

O golpe foi muito grande para o financista de Wall Street. Seu teórico subordinado, Peter Navarro, havia ganhado o jogo e imposto a linha dura em um assunto altamente volátil e que marcará a estratégia econômica do mandato. Os Estados Unidos, contra seu critério, enfrentava com rudeza seus parceiros e vizinhos. Europa, Canadá e México sofreriam os ataques. E o próximo da lista era a China. O gigante asiático, que até agora se manteve a salvo da ira de Trump por seu apoio no cerco à Coreia do Norte, entrava em rota de colisão.

Cohn considerou, e assim o fez saber aos seus colaboradores, que essa agitação geral afetaria a economia norte-americana. Mas foi afetado principalmente pela ascensão do setor nacionalista. A Casa Branca já não era seu espaço. Suplantado pelos radicais, ignorado pelo presidente e desconfortável no cargo, tornou pública sua decisão de sair.

Ao contrário de outras renúncias, sua saída foi apresentada de forma organizada. A Casa Branca anunciou no meio da tarde e em um comunicado que incluiu sua declaração, a do presidente e a do chefe do gabinete e aliado, John Kelly. Tudo foram boas palavras.

“Foi uma honra servir meu país e trabalhar pela melhoria das políticas econômicas, especialmente a histórica reforma tributária. Agradeço ao presidente por esta oportunidade e desejo a ele um grande sucesso”, afirmou Cohn. “Gary fez um excelente trabalho, ajudando a superar os cortes nos impostos e liberando a economia. É um grande talento”, disse o presidente. A agitação ficou para trás; à frente, a guerra.

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