_
_
_
_

UE prepara represálias comerciais como resposta à guerra do aço

Comissão Europeia debaterá a criação de tarifas a uma lista de produtos norte-americanos

Lucía Abellán
A comissária europeia de Comércio, Cecilia Mälmstrom, em reunião nesta semana.
A comissária europeia de Comércio, Cecilia Mälmstrom, em reunião nesta semana.BORISLAV TROSHEV (EFE)
Mais informações
Trump acende estopim de uma guerra comercial e diz que os EUA vencerão
Trump anuncia aumento das tarifas de importação do aço e alumínio e preocupa Brasil
Diretora de comunicação da Casa Branca pede demissão

Os países produtores de aço tomam posições diante da guerra comercial declarada por Donald Trump. A Europa, segundo maior exportador do material aos Estados Unidos, alertou na sexta-feira que adotará represálias nos próximos dias contra uma lista de produtos norte-americanos se as ameaças feitas por seu presidente se concretizarem. A China, o maior produtor mundial, avisou que essa estratégia prejudicará o comércio internacional. As bolsas do mundo inteiro e os gigantes do setor reagiram com perdas por esses riscos que se avizinham.

A Europa há meses teme o protecionismo de Trump e já tem medidas preparadas para a guerra comercial aberta pelo mandatário norte-americano. A Comissão Europeia analisará na quarta-feira possíveis represálias comerciais como resposta às tarifas que os Estados Unidos querem impor sobre o aço e o alumínio provenientes do exterior. Bruxelas elaborou uma lista de produtos norte-americanos (siderúrgicos, agrícolas e de outros tipos) que enfrentarão impostos comerciais quando forem exportados à UE, explicam fontes da União.

Poucas vezes as autoridades europeias utilizam o discurso nacionalista contra terceiros. Mas o aspecto das mensagens provenientes de Washington provocou o aumento do tom na capital da União. O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, adiantou esses movimentos: “Não permaneceremos sentados enquanto nossa indústria é atacada com medidas injustas que colocam em risco milhares de empregos europeus. A UE agirá com firmeza e com respeito para defender nossos interesses”.

O mal-estar ecoou em outros blocos afetados. O Canadá, maior exportador de aço aos Estados Unidos, também ameaçou com respostas contundentes. “Uma decisão assim seria inaceitável e teria consequências dos dois lados da fronteira”, afirmou o ministro do Comércio François-Philippe Champagne. Seu homólogo japonês, Hiroshige Seko, negou que as exportações de seu país “prejudiquem de alguma forma a segurança nacional norte-americana”, como argumenta Trump. O Ministério das Relações Exteriores chinês exigiu “contenção” do presidente dos EUA.

Os especialistas da Comissão Europeia, responsável exclusiva pelas concorrências comerciais da UE, começaram a planejar sua estratégia quando Trump lançou os primeiros sinais de disputa comercial. Além de elaborar a lista de produtos norte-americanos, a Europa supervisionará os fluxos do aço e do alumínio – vitais às indústrias automobilística e eletrônica, entre outras – que não chegam aos Estados Unidos como consequência da nova política para ver se aplicam medidas de defesa comercial contra eles. O objetivo é evitar que, não sendo vendidos nos Estados Unidos, acabem inundando o mercado europeu em prejuízo dos produtores do clube comunitário. Por último, a UE tentará adotar uma posição comum com outros blocos afetados pelas medidas (principalmente a China) para ganhar força.

Efeito dominó

As fontes consultadas não deram mais detalhes argumentando que os Estados Unidos ainda não detalharam sua estratégia e não disseram quais serão os países afetados. Mas mesmo que a intensa pressão diplomática exercida pela Europa sobre a Administração norte-americana acabe eximindo o bloco comunitário das tarifas, as medidas de Bruxelas podem ser colocadas em funcionamento. Porque se as tarifas à China desviarem boa parte do aço produzido nesse país ao território europeu, a Comissão Europeia pensaria em mecanismos de defesa. A iniciativa norte-americana, portanto, ameaça causar um efeito dominó.

“O impacto direto à Europa não será muito elevado. O risco é a guerra comercial. Quando um país se movimenta, todos o fazem e isso gera incerteza nos mercados”, explica Ángel Talavera, especialista da Oxford Economics. Os primeiros efeitos dessa incerteza foram sentidos nos mercados. As principais bolsas europeias fecharam com perdas (2,2% na Alemanha, o grande produtor europeu; 2,4% na França e 1,5% no Reino Unido). Tóquio e Hong Kong também experimentaram quedas parecidas. E as grandes empresas europeias do setor (ArcelorMittal, Thyssenkrupp...) acumulam números vermelhos nos dois últimos dias.

Os porta-vozes comunitários quiseram se afastar da mensagem belicista adotada por Trump e insistiram que qualquer medida adotada pelo Executivo comunitário respeitará as regras da Organização Mundial de Comércio. Bruxelas também alerta que as próprias empresas norte-americanas serão prejudicadas. “Essas medidas impactarão negativamente na relação transatlântica e nos mercados internacionais. Além disso, elevarão os custos e reduzirão as ofertas aos consumidores norte-americanos de aço e alumínio, incluindo as indústrias que importam essas matérias primas”, avisou a comissária europeia de Comércio, Cecilia Mälmstrom.

O precedente de 2003

O embate comercial pelo aço teve um precedente em 2003, sob o mandato de George Bush. Os EUA impuseram tarifas de até 30% aos produtos vindos da Europa e outros territórios. A UE elaborou então represálias para uma lista de produtos norte-americanos, entre eles os siderúrgicos, motores de barcos, suco de laranja, óculos de sol e fotocopiadoras. Bush retirou as medidas pouco antes da UE aplicar as suas.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_