_
_
_
_
_

Marielle e Monica, por todas as famílias

Vereadora deixa a viúva e uma filha de 19 anos. Dar visibilidade às lésbicas era uma de suas bandeiras: “Esse tema não será colocado para debaixo do tapete”, dizia

Marielle e sua companheira Monica
Marielle e sua companheira MonicaInstagram (Reprodução)
Mais informações
Projeto no Congresso propõe que só a PF investigue crime com policiais ou milícias como suspeitos
Assassinato político de Marielle Franco reativa as ruas e desafia intervenção no Rio
Marielle Franco, vereadora do PSOL, é assassinada no centro do Rio após evento com ativistas negras

Na última quinta-feira, 15, embaixo do vão do MASP, enquanto milhares de pessoas começavam a se reunir para uma manifestação em repúdio ao assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), um microfone era revezado entre lideranças e militantes femininas. As falas emocionadas exigiam uma explicação do Governo, criticavam a intervenção militar no Rio de Janeiro, mas, principalmente, lembravam o legado de Marielle. Entre tudo o que foi dito, ficaram ecoando ao longo dos dias algumas palavras: mulher, negra, pobre e lésbica.

A sexualidade da vereadora, ressaltada na manifestação, não era apenas parte importante e indissociável de sua história pessoal. Marielle costumava publicar fotos ao lado da mulher Monica Benício. Eram declarações de amor, como de qualquer outro casal, mas sempre acompanhadas de uma mensagem clara: dar visibilidade às mulheres lésbicas. Não à toa, vez ou outra, publicava fotos acompanhadas da hashtag #nossasfamiliasexistem, que, como lembrou a revista Claudia, era uma referência ao Estatuto da Família, que define o núcleo familiar como formado apenas pela união entre homens e mulheres.

Em 2017,  a então vereadora levou a questão para a Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. Em agosto do ano passado, apresentou um projeto de lei que incluía o Dia da Visibilidade Lésbica no calendário oficial da capital carioca. A iniciativa foi rejeitada por 19 a 17 votos, apesar da intensa mobilização promovida por coletivos LGBT.

À época da rejeição do projeto, Marielle comentou que o esforço tinha valido à pena, pois era uma forma de tirar a Câmara da zona de conforto. “Não é à toa que buscamos representatividades das mulheres, mulheres negras, mulheres lésbicas, mulheres das favelas. Vai ter muita luta e mulher lésbica na Câmara. “Esse tema não será colocado para debaixo do tapete. Sim. Nossas vidas importam”, disse após o resultado.

Em sua coluna no jornal O Globo, a jornalista Dorrit Harazim lembra que a vereadora, um exemplo nos cargos legislativos, tocou a vida privada e o mandato político com absoluta coerência. “Em 13 meses, apresentou 16 projetos de lei. Com foco em políticas públicas para mulheres, negros e a defesa da comunidade LGBT”, escreve Harazim. O amor de Marielle, como tudo ao seu redor, era também político.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_