Marielle e Monica, por todas as famílias
Vereadora deixa a viúva e uma filha de 19 anos. Dar visibilidade às lésbicas era uma de suas bandeiras: “Esse tema não será colocado para debaixo do tapete”, dizia
Na última quinta-feira, 15, embaixo do vão do MASP, enquanto milhares de pessoas começavam a se reunir para uma manifestação em repúdio ao assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), um microfone era revezado entre lideranças e militantes femininas. As falas emocionadas exigiam uma explicação do Governo, criticavam a intervenção militar no Rio de Janeiro, mas, principalmente, lembravam o legado de Marielle. Entre tudo o que foi dito, ficaram ecoando ao longo dos dias algumas palavras: mulher, negra, pobre e lésbica.
A sexualidade da vereadora, ressaltada na manifestação, não era apenas parte importante e indissociável de sua história pessoal. Marielle costumava publicar fotos ao lado da mulher Monica Benício. Eram declarações de amor, como de qualquer outro casal, mas sempre acompanhadas de uma mensagem clara: dar visibilidade às mulheres lésbicas. Não à toa, vez ou outra, publicava fotos acompanhadas da hashtag #nossasfamiliasexistem, que, como lembrou a revista Claudia, era uma referência ao Estatuto da Família, que define o núcleo familiar como formado apenas pela união entre homens e mulheres.
Em 2017, a então vereadora levou a questão para a Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. Em agosto do ano passado, apresentou um projeto de lei que incluía o Dia da Visibilidade Lésbica no calendário oficial da capital carioca. A iniciativa foi rejeitada por 19 a 17 votos, apesar da intensa mobilização promovida por coletivos LGBT.
À época da rejeição do projeto, Marielle comentou que o esforço tinha valido à pena, pois era uma forma de tirar a Câmara da zona de conforto. “Não é à toa que buscamos representatividades das mulheres, mulheres negras, mulheres lésbicas, mulheres das favelas. Vai ter muita luta e mulher lésbica na Câmara. “Esse tema não será colocado para debaixo do tapete. Sim. Nossas vidas importam”, disse após o resultado.
Em sua coluna no jornal O Globo, a jornalista Dorrit Harazim lembra que a vereadora, um exemplo nos cargos legislativos, tocou a vida privada e o mandato político com absoluta coerência. “Em 13 meses, apresentou 16 projetos de lei. Com foco em políticas públicas para mulheres, negros e a defesa da comunidade LGBT”, escreve Harazim. O amor de Marielle, como tudo ao seu redor, era também político.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.
Mais informações
Arquivado Em
- Caso Marielle Franco
- Intervenção federal
- PSOL
- Milícias Rio de Janeiro
- Marielle Franco
- Administração militar
- Decretos
- Estado Rio de Janeiro
- Atividade legislativa
- Brasil
- Casos judiciais
- Assassinatos
- Violência
- Parlamento
- Delinquência
- América do Sul
- América Latina
- Acontecimentos
- Defesa
- Partidos políticos
- América
- Justiça
- Problemas sociais
- Política
- Sociedade