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Marielle e Anderson: o que se sabe sobre o assassinato da vereadora e de seu motorista

Munição usada no crime é do mesmo lote utilizado na chacina de Osasco, segundo TV Globo. Balas usada em execução teriam sido vendidas pela CBC para a Polícia Federal em Brasília

O veículo onde viajava Marielle e Anderson.Vídeo: MAURO PIMENTEL (AFP) / REUTERS-QUALITY

O assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista Anderson Pedro Gomes na noite de quarta-feira no centro do Rio de Janeiro trouxe novamente à tona o temor da ação de milícias armadas na cidade. Defensora dos direitos humanos e crítica ferrenha da atuação de policiais que agem fora da lei, Marielle voltava de um evento na Lapa quando foi alvo dos disparos. No segundo dia de investigações, a perícia concluiu que o lote de munições utilizados no crime teria sido vendido para a Polícia Federal em Brasília. A TV Globo informou que trata-se do mesmo lote utilizado na chacina de Osasco, que matou 19 pessoas em 2015. Veja o que se sabe até agora sobre o crime.

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Como ocorreu o assassinato

Por volta das 21h30 o veículo no qual Marielle, Anderson e uma assessora da vereadora trafegava pela rua Joaquin Palhares, no Estácio, região central do Rio. Neste momento um outro carro emparelhou e foram feitos ao menos nove disparos na direção do Chevrolet Agile branco. Os disparos foram feitos de trás para frente, no sentido do banco traseiro à direita (onde ela estava sentada) até o banco do motorista. Marielle Franco foi atingida por quatro tiros na região da cabeça e pescoço. Anderson foi alvo de três disparos nas costas. Uma assessora que estava no banco dos passageiros ficou ferida pelos estilhaços. O veículo utilizado pelos assassinos tinha a placa clonada, e a polícia não descarta que um segundo carro tenha participado da ação.

Qual a principal suspeita das autoridades

A Polícia Civil, que investiga o caso, trabalha com a hipótese de que o crime tenha sido uma execução. Até o momento não existe informação de que algum pertence tenha sido roubado após o crime: os atiradores teriam disparado e fugido em seguida. Além disso, o fato de Marielle estar no banco traseiro do carro que tinha vidros escurecidos são um indicativo de que o grupo de assassinos acompanhou a vereadora por algum tempo, sabendo sua exata posição no veículo. Após o crime, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) afirmou que o assassinato tem "características nítidas" de execução. Parlamentares do PSOL, no entanto, afirmam que Marielle não havia informado ter recebido ameaças.

Quem são os suspeitos

Até o momento não foi divulgada nenhuma informação sobre os assassinos - não se sabe quantos  participaram da ação. O modus operandi do crime, no entanto, lembrou o da emboscada que matou a juíza Patrícia Acioli em 2011, assassinada com 21 tiros por sua atuação contra grupos de milicianos. Posteriormente descobriu-se que o crime foi encomendado e executado por integrantes de uma milícia carioca. Como Marielle era critica ferrenha de abusos cometidos por policiais, em especial do 41º Batalhão de Acari, as autoridades não descartam que sua morte tenha sido encomendada por milicianos ou policiais militares corruptos. Além disso, Marielle havia assumido há duas semanas a relatoria de uma comissão na Câmara municipal criada para acompanhar os desdobramentos da intervenção federal no Rio.

O que Marielle havia dito sobre os policiais do Acari

No sábado, dia 10 de março, a vereadora usou a rede social Facebook para criticar a atuação dos policiais do 41º Batalhão do Acari. “Precisamos gritar para que todos saibam o está acontecendo em Acari nesse momento. O 41° Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro está aterrorizando e violentando moradores de Acari. Nessa semana dois jovens foram mortos e jogados em um valão. Hoje a polícia andou pelas ruas ameaçando os moradores. Acontece desde sempre e com a intervenção ficou ainda pior”, escreveu. No dia 13 de março, nova denúncia feita pela vereadora nas redes sociais: “Mais um homicídio de um jovem que pode estar entrando para a conta da PM. Matheus Melo estava saindo da igreja. Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?”.

Que armas e munições foram usadas

Carro em que estavam Marielle Franco e Anderson Gomes, mortos a tiros no Rio.
Carro em que estavam Marielle Franco e Anderson Gomes, mortos a tiros no Rio.Marcelo Sayão (EFE)

Foram encontradas 13 cápsulas de munição 9mm no local do crime. De acordo com a perícia, a munição pertence ao lote UZZ-18, vendido pela Companhia Brasileira de Cartuchos para a Polícia Federal em Brasília. Não se sabe ainda como estas balas foram parar nas mãos dos assassinos - se foi uma doação da PF às autoridades do Rio ou se foram furtadas do arsenal federal. Além disso, este lote tem relação com outro crime: munições do UZZ-18 foram usadas na chacina de Osasco, ocorrida em setembro de 2015 e que deixou 19 mortos. Um policial militar foi condenado este mês pelo crime, e outros são suspeitos de terem participado. Em nota a PF informou que irá conduzir um inquérito para investigar a origem das munições.

Quem são as testemunhas do caso

Cartaz do Disque Denúncia do Rio de Janeiro: as informações serão direcionadas à Delegacia de Homicídios da Capital– que se encontra a frente das investigações.
Cartaz do Disque Denúncia do Rio de Janeiro: as informações serão direcionadas à Delegacia de Homicídios da Capital– que se encontra a frente das investigações.Reprodução

A assessora de Marielle, que sobreviveu ao ataque, já prestou depoimento à Polícia Civil do Rio. Por questões de segurança, ela não teve o nome divulgado. Mas já se sabe, por meio de reportagem do jornal O Globo, que ela disse que Marielle não tinha recebido nenhuma ameaça direta. Segundo a assessora, contudo, uma outra funcionária do gabinete foi abordada em tom ameaçador dias antes em um ponto de ônibus. As autoridades irão analisar imagens das câmaras de vídeo do entorno para tentar identificar o veículo usado pelos assassinos.

Quem irá investigar os assassinatos

Até o momento o caso está com a Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio. O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, conversou com o interventor do Estado, o general Braga Netto, para que a Polícia Federal auxiliasse nas investigações.

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