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Marchas e protestos pelo Brasil para lutar contra o ódio e o feminicídio

Haverá manifestações em dezenas de cidades. Congresso aprova texto que federaliza a investigação de ataques misóginos na Internet. Câmara aumenta pena de estupro coletivo

Movimentos feministas de dezenas de cidades brasileiras convocaram manifestações nesta quinta-feira pelo Dia Internacional da Mulher. Ativistas levarão para as marchas muitos lemas, entre eles o “pela vida das mulheres”, lembrando das milhares de mortes anuais de mulheres em consequência de abortos clandestinos e do feminicídio. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a taxa de feminicídios no Brasil é a quinta maior do mundo: 4,8 para cada 100.000 mulheres. A lei que tipifica o feminicídio e aumenta de um terço até a metade a pena para homicídios classificados assim completa três anos no próximo dia 9, mas ainda enfrenta obstáculos para sua plena implementação.

Mulheres fazem ato no Rio, em junho do ano passado.
Mulheres fazem ato no Rio, em junho do ano passado.Tomaz Silva/ (Agência Brasil)
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Em São Paulo, a manifestação terá concentração a partir das 16h na Praça Oswaldo Cruz, no início da avenida Paulista. A marcha irá até o Escritório da Presidência, que fica no final da avenida, próximo à rua da Consolação. No Rio de Janeiro, a concentração é também a partir das 16h, na Praça da Candelária. Em Belo Horizonte, a concentração é no mesmo horário na Praça da Assembleia. Em Brasília, o ato será a partir das 13h no Museu da República. Há atos em dezenas de outras cidades, convocados pelas redes sociais. Além das pautas feministas, foram incluídos temas mais genéricos como a defesa da Previdência e a oposição ao Governo Michel Temer.

No mundo, movimentos de muitos países estão convocando uma greve geral neste 8 de março. Na Espanha, a convocatória ganhou força inédita e converteu o país no único caso onde a mobilização foi encampada por sindicatos. As funcionárias do EL PAÍS na sede em Madri e em escritórios pelo mundo, inclusive no Brasil, decidiram paralisar a jornada por 24 horas para chamar atenção para uma pauta que inclui a paridade de gênero nos cargos de chefia e o fim da diferença salarial por conta de gênero.

Mais trabalho, menos dinheiro

A diferença salarial não é um problema de uma categoria. Nesta semana, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou dados apontando que as desigualdades de gênero ainda são uma realidade muito presente na vida das brasileiras. De acordo com o levantamento, as mulheres ainda ganham, em média, 76,5% do que ganham os homens. Apesar da diferença, a margem histórica mostra que isso vem, aos poucos, diminuindo. Em 2012, o rendimento das mulheres era 73,7% dos homens.

No documento é afirmado que "vários fatores" contribuem para as diferenças salariais. Dentre eles, o maior tempo dedicado aos cuidados de pessoas ou afazeres domésticos, 73% a mais do que os homens em 2016. No Nordeste, esta diferença chegou a 80%. "Isso explica, em parte, a proporção de mulheres ocupadas em trabalhos por tempo parcial, de até 30 horas semanais, ser o dobro da de homens", diz o texto. A pesquisa ainda mostra que, se combinadas as horas de trabalhos remunerados com as de cuidados e afazeres, a mulher trabalha, em média, 54,4 horas semanais, contra 51,4 dos homens.

Além de trabalhar mais, as mulheres ainda têm, em média, maior escolarização, o que deveria conter a disparidade salarial. Em 2016, 37% dos homens estavam em situação de atraso escolar no Ensino Médio contra 26,5% das mulheres. Já no âmbito universitário, 21,5% das mulheres entre 25 e 44 anos tinham completado a graduação, contra 15,6% dos homens.

A presença de mulheres ocupando cargos de chefia ainda segue distante, se comparada à dos homens. Apenas 38% dos cargos gerenciais são ocupados por elas. Esse percentual alimenta o chamado teto de vidro ou glass ceiling, que ocorre quando a mulher tem a escolarização necessária ao exercício da função, consegue enxergar até onde poderia ir na carreira, mas se depara com uma espécie de barreira invisível que a impede de chegar lá.

Um Congresso contra o aborto quer federalizar o crime de ódio contra a mulher

O Congresso brasileiro costuma provocar dor de cabeça nas ativistas feministas. Volta e meia tenta ressuscitar textos, patrocinados pelas bancadas religiosas e conservadoras, para dificultar ainda mais o aborto no Brasil, onde a prática só é legal em três casos. Nesta quarta-feira, porém, às vésperas do Dia Internacional da Mulher, tanto a Câmara com o Senado decidiram votar projetos ligados às mulheres, especialmente os ligados à área criminal.

Os senadores aprovaram, por exemplo, um texto que federaliza a investigações de crimes de ódio contra mulheres na Internet. A lei, assim como um projeto que penaliza quem descumprir as medidas determinadas pela Lei Maria da Penha, contra a violência de gênero, agora vão para sanção presidencial.

Enquanto isso, a Câmara votou para aumentar a pena por estupro coletivo e divulgação de suas imagens. O texto volta para o Senado.

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