Bolamense, o time exótico do Candangão cujo propósito é “ser um pouco diferente”
Fundado por pastor da Guiné Bissau, clube surgiu com o intuito de evangelizar jovens jogadores
A frase “This is the Bolamense Futebol Clube”, em letras garrafais e cores vivas, está à frente de uma foto da paisagem de uma praia tropical e ao lado de um escudo amarelo, branco, vermelho e verde, com os mapas do Brasil e da África e uma imagem de uma onça pintada no meio. Entre tantas outros aspectos curiosos, estes são os que mais chamam a atenção ao abrir o site oficial do Bolamense, clube que tem sede em Riacho Fundo-DF e disputa a elite do campeonato estadual brasiliense, o ‘Candangão’. “O nosso propósito é ser um pouco diferente”, explica o presidente e fundador da equipe, António Teixeira.
António é nascido na Guiné Bissau, formado em direito na Universidade de Coimbra e ex-professor universitário, além de pastor evangélico. “Você leu sobre mim no site?”, pergunta, em alusão à aba “nosso presidente” na página do clube, que traz uma carta de referência assinada por um docente de direito da UnB (Universidade de Brasília) sobre o guineense. “Sempre gostei de futebol”, afirma. “Estava servindo em uma igreja de Samambaia [como pastor], uma cidade satélite de Brasília, quando percebi que o futebol seria uma forma de evangelizar jovens que estavam sem atividade, nas drogas ou na rua”, explica. Nasceu então o Armagedon, que depois se tornou Renovo, cujo nome é referente à sua igreja. “Depois que conseguimos conquistar os objetivos religiosos na região, nós começamos a investir no futebol profissional”. Em 2010, foi rebatizado para Sociedade Desportiva e Empresarial Afrobrasileira Bolamense Futebol Clube. Bolama é a cidade da Guiné Bissau onde o presidente nasceu.
A motivação de António Teixeira é, acima de tudo, de acordo com suas palavras, aumentar o nível de competitividade dos selecionados africanos frente ao resto do mundo. “Nós traremos os melhores jogadores de Guiné Bissau e da África para cá” porque, segundo ele, o Brasil tem mais a oferecer futebolisticamente para jogadores africanos do que a Europa. O presidente se diz chateado com a situação de atletas de seu continente que vão para países europeus, se naturalizam e deixam a nação de origem sem nada. “O jogador vai embora e não constrói nem um posto de saúde na terra dele. E também não joga na seleção do país”. Para ele, esse é o principal motivo do “fracasso das seleções africanas na Copa do Mundo”. Teixeira acredita que, fornecendo oportunidades para atletas da África no Brasil, ajudará a desenvolver o futebol local. Mas, atualmente, segundo o pastor, o Bolamense conta apenas com quatro jogadores estrangeiros: Jhonny Bermudéz, colombiano, Lautaro Obregon, argentino, Vitor, da Burkina Faso, e “um [da Costa do Marfim] que tem o nome complicado e eu não lembro”.
“Temos a vocação do diálogo com o exterior”, explica, se referindo às frases “This is the Bolamense Futebol Clube”, “Club of football from the capital of Brazil” e às notícias da Guiné Bissau que encontramos ao navegar pelo site da equipe. “Quem acessar nosso site em qualquer parte do mundo saberá o que nós somos”, diz. A página também contém o vídeo de uma onça caçando na selva, algumas dicas de futebol (“como bater um pênalti”, por exemplo) e mensagens motivacionais.
Apesar do discurso inovador, o Bolamense faz parte de um contexto comum à maioria dos clubes pequenos do país, com escassos recursos econômicos e pouca visibilidade. Alguns ex-jogadores e treinadores acusam o clube de calotes e promessas não cumpridas, às quais António Teixeira responde sem maiores preocupações. “Isso são fake news. Foi divulgado em 2011, quando acionei a Justiça e pedi indenização de quem publicou”, explica. “Até o Barcelona tem problemas financeiros, mas isso não afeta a situação de nossos jogadores”. Após vencer a divisão de acesso brasiliense e o tradicional Gama na estreia do Candangão 2018, o presidente já planeja o futuro: “Somos a sensação do campeonato”, afirma. “Vamos lutar pelo título do Estadual. Depois, conquistar vagas na Copa do Brasil, Série D e Copa Verde. Teremos uma linha de continuidade com planejamento”. Ao menos, pode-se dizer que o primeiro objetivo – “ser um pouco diferente” – já foi alcançado.
PASTOR ENSINA: COMO BATER O PÊNALTI PERFEITO
“Pênalti se bate como um tiro de meta. Não invente. A não ser que você tenha técnica para bater no ângulo, colocado e com efeito (tipo Luis Fabiano, que às vezes ainda erra). Distancie-se 10 metros da bola, corra com velocidade e dê um chutão, com toda sua força, tirando cerca de 1,5 metros do eixo central do gol, a 1,2 metro de altura. Você terá uma margem de erro de 1,2 metro de altura (a trave tem 2,44) e uma margem de 2 metros até o canto (a trave tem 7,32). Se você é um técnico de futebol, condicione os cobradores a baterem somente desse jeito. Pode escrever: você jamais perderá uma disputa de pênaltis.”
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