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Classe política peruana vê condenação de Lula como precedente para a América Latina

Sentença contra o ex-presidente brasileiro ecoa na cena política peruana. O petista foi aliado de Alan García e Ollanta Humala

Lula no evento que promoveu sua pré-candidatura à presidência em 2018.
Lula no evento que promoveu sua pré-candidatura à presidência em 2018.STRINGER (REUTERS)

A ratificação da sentença em segunda instância do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ecoa na cena política peruana porque o petista foi um aliado do ex-mandatário aprista Alan García, em seu segundo Governo (2006-2011) e também de Ollanta Humala, cuja candidatura apadrinhou desde 2009. Os principais políticos peruanos estão sendo investigados ou acusados de receber contribuições não declaradas das construtoras brasileiras que Lula representou e promoveu. Até mesmo o presidente Pedro Pablo Kuczynski deve responder pela assessoria dadas à Odebrecht por duas empresas, uma própria e outra de seu sócio, na década passada.

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O congressista do partido no Governo, Peruanos pela Mudança (PPK, na sigla em espanhol), Juan Sheput disse ao EL PAÍS que com a decisão do tribunal de Porto Alegre “cria-se um precedente jurídico para casos semelhantes na América Latina”.

“Lula usou sua condição de ex-presidente para influenciar mandatários latino-americanos, foi o principal lobista das empresas brasileiras, de modo que foi parte vital da corrupção”, declarou o porta-voz no momento da bancada de PPK.

“Esperamos que assim como o juiz Moro foi fonte inspiradora para as sentenças judiciais, a decisão sirva para que o Poder Judiciário dos demais países não se intimide ao sentenciar”, acrescentou Sheput.

O parlamentar descartou a possibilidade de a condenação ser parte de um golpe, como sustenta a ex-presidenta Dilma Rousseff. “É um clássico e um costume perverso que diante de uma sentença judicial os políticos lancem uma candidatura; é o que fizeram Toledo, Alan García, etcétera”, afirmou.

A congressista da Aliança para o Progresso Marisol Espinoza, que renunciou nesta quarta-feira à comissão parlamentar de investigação Lava Jato, também elogiou a sentença. “Vejo uma ação quase impecável por parte da Justiça brasileira: vai avançando nas investigações com provas e documentando de modo rápido. Este era um julgamento crucial, e nem sempre se demonstrou o vínculo entre a OAS e a Petrobras com o véu da corrupção”, afirmou.

Espinoza acrescentou que o líder do Partido dos Trabalhadores “teve uma ativa participação na representação das empresas brasileiras em outros países latino-americanos. Hoje há uma série de obras supervalorizadas e a forma de usar o país, subordinando-o a seus interesses continua. Há cinco dias, uma arbitragem favoreceu a (construtora brasileira) Camargo Correa com um pagamento de 64 milhões de soles (cerca de 65 milhões de reais) pela obra de uma represa na região de Piura”, indicou.

Uma posição contrária foi defendida por Wilfredo Pedraza, o advogado do ex-presidente Ollanta Humala e da ex-primeira-dama Nadine Heredia, que cumprem prisão preventiva por não terem declarado a contribuição de 3 milhões de dólares (cerca de 9,5 milhões de reais) das brasileiras Odebrecht e OAS em sua campanha eleitoral de 2011.

“Lamento a ratificação da condenação, escutei que a ocupação do apartamento (o tríplex) tinha uma explicação distante da gestão que fazia a empresa OAS e que não se tratava dos processos típicos, penais, da Lava Jato”, disse Pedraza a EL PAÍS.

“Para mim, parece excessiva a ratificação de uma condenação de um líder que encabeça as pesquisas e que aparentemente conseguiu enfrentar todo o embate vinculado com a Lava Jato”, questionou o advogado dos Humala-Heredia.

No entanto, o ex-primeiro-ministro do Governo de Humala, Pedro Cateriano, destacou a sentença de modo favorável. “Lula não tinha nenhuma escapatória. A delação de Marcelo Odebrecht, entre outros empresários brasileiros, o havia comprometido gravemente. Esta decisão da Justiça brasileira deveria servir de exemplo para que em outros países onde as empresas brasileiras atuaram de modo ilícito façam justiça sem temor. Esta é uma oportunidade para os promotores e juízes iniciarem um verdadeiro processo de luta contra o flagelo da corrupção”, comentou o advogado constitucionalista a este jornal.

Na esquerda, o primeiro político a se pronunciar foi o congressista Manuel Dammert, do Movimento Novo Peru, liderado pela ex-candidata presidencial Verónika Mendoza.

“Primeiro dão um golpe de Estado em Dilma Rousseff e agora ratificam a condenação de Lula sem provas. As pessoas no Brasil estão tomando as ruas para respaldar Lula. Temer tem medo de que Lula seja eleito novamente presidente do Brasil”, disse Dammert no Twitter.

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