O ‘sim’ vence o referendo curdo no Iraque com 92%
Primeiro-ministro iraquiano exige anulação do resultado da consulta e entrega dos aeroportos
Na segunda-feira, dia 25, 92,73% dos participantes do referendo do Curdistão iraquiano se pronunciaram pelo “sim” à independência dessa região autônoma, segundo anunciou nesta quarta-feira a Comissão Eleitoral. A esperada vitória se choca com o aumento na pressão de Bagdá sobre o Governo regional, ao qual pediu que anulasse o resultado da consulta e entregasse o controle de seus dois aeroportos internacionais. As autoridades curdas rejeitaram essa possibilidade.
“De um total de 3.305.925 votos, o ‘sim’ obteve 92,73% e o ‘não’ 7,27%”, afirma o comunicado da Comissão. De acordo com a mesma fonte, o total de eleitores potenciais no Curdistão, nas áreas administradas e na diáspora, foi de 4.581.255 pessoas, um milhão a menos do que o número que circulou antes do referendo. À ausência de um recenseamento propriamente dito juntou-se a dificuldade de calcular quantos residentes das “áreas em disputa” e curdos no exterior poderiam votar.
Nada disso importa ao Governo central do Iraque ou aos países vizinhos, que se opõem veementemente à consulta e temem que a eventual independência da região autônoma tenha um efeito contagioso entre suas próprias minorias curdas. O presidente curdo, Masud Barzani, enfatizou que a vitória do “sim” não significa uma secessão imediata, mas o início de “negociações sérias” com Bagdá para resolver os pontos de atrito (“áreas em disputa” e petróleo) e entrar em consenso sobre a separação.
No entanto, o primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, condiciona o diálogo à anulação prévia dos resultados. Al-Abadi, que enfrentará eleições legislativas do próximo ano, está sendo pressionado não apenas pela oposição, mas também pelo seu próprio bloco político, cuja ala mais dura é liderada por seu antecessor, Nuri al-Maliki. Reunido sem a presença dos deputados curdos, que boicotaram a sessão, o Parlamento pediu ao primeiro-ministro, como chefe das Forças Armadas, o envio tropas para proteger a população nas regiões disputadas pelos governos central e regional, e especialmente a Kirkuk para recuperar os poços de petróleo (nas mãos dos curdos desde 2014).
No que parece ser um aviso para Erbil, a capital curda, uma delegação do Exército iraquiano viajou na quarta-feira ao vizinho Irã para coordenar esforços militares. O gesto aconteceu um dia depois que soldados iraquianos se juntaram a manobras das Forças Armadas turcas na fronteira comum. Tanto Teerã quanto Ancara ameaçaram impor sanções ao Governo curdo se continuar com o processo de independência.
Bagdá está tentando usar a seu favor a oposição internacional ao referendo. Por enquanto, disse que pedirá aos governos estrangeiros que fechem suas missões diplomáticas no Curdistão. Além disso, as companhias aéreas Middle East Airlines, do Líbano, e Egypt Air, do Egito, anunciaram que deixarão de voar para Erbil a partir de sexta-feira, quando termina o prazo de 72 horas que o Governo iraquiano deu às autoridades curdas para entregar o controle dos aeroportos dessa cidade e de Suleimaniya.
“Não entendemos como entregar-lhes os dois aeroportos. Eles já são subordinados à Direção de Aviação Civil iraquiana”, disse o ministro dos Transportes curdo, Mowlud Murad.
A ameaça de fechar o espaço aéreo para voos internacionais também foi questionada pelo Departamento de Estado dos EUA. “Não seria um exemplo de diálogo construtivo”, disse um porta-voz. Observadores ocidentais no Iraque estimam que Bagdá está “reagindo de maneira exagerada” depois do apoio obtido durante a Assembleia Geral da ONU em Nova York e manifestam dúvidas sobre a possibilidade de conseguir algum avanço seguindo por esse caminho.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.