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BRICS
Tribuna
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Brics e o Pecado Original

A abertura do Fórum dos Brics é oportuna para refletirmos sobre o desenvolvimento desta organização

Líderes dos BRICS
Líderes dos BRICSTyrone Siu (AP)

A abertura do Fórum Empresarial dos Brics de 2017 em Xiamen, na China, é um momento oportuno para refletirmos sobre o que poderia gerar um novo impulso ao desenvolvimento desta organização. Esta reflexão pode se beneficiar de uma perspectiva histórica mais abrangente.

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Este ano celebramos o aniversário de 500 anos da Reforma Protestante, 10 anos da crise do subprime nos Estados Unidos e da grande recessão que se seguiu, e um ano de operação formal do “Novo Banco de Desenvolvimento”— o Banco dos Brics (seu estabelecimento foi anunciado em Fortaleza, no Ceará, em julho de 2014, e o banco começou a operar em Shanghai em fevereiro de 2016). O conceito central que conecta estas três celebrações é o “pecado original”.

A conexão entre a Reforma e o problema do “pecado original” é óbvio. Martinho Lutero fixou suas noventa e cinco teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg em 31 de outubro de 1517 e sua principal revolta era contra a venda de indulgência papal. Mas o que o “pecado original” tem a ver com a crise do subprime e a grande recessão?

A crise de 2007-2008 provocou o surgimento de várias propostas de reforma do sistema monetário internacional. Estas propostas são basicamente de duas classes. A primeira classe diz respeito à criação de uma verdadeira moeda supranacional — uma nova versão da “Bancor” proposta por Keynes em 1940 — para substituir o dólar como a moeda de reserva internacional dominante.

Esta classe de propostas, contudo, é politicamente inviável, ao menos no curto prazo. A moeda possui três funções: unidade de troca, meio de pagamento e reserva de valor. Como moeda internacional, as duas primeiras funções do dólar não são difíceis de serem substituídas: por exemplo, o comércio entre o Brasil e a China não necessita usar o dólar como meio de pagamento. Contudo, o papel internacional do dólar como “reserva de valor” é de difícil substituição. Um exemplo eloquente é a apreciação do valor do dólar em 2008 durante a crise, uma vez que o mercado de títulos norte-americano ainda é o único abrigo seguro disponível.

A segunda classe de propostas é a criação de ativos de reserva seguros alternativos. Para isso, é necessário que as economias emergentes desenvolvam seus próprios mercados, líquidos e profundos, de títulos governamentais. O baixo desenvolvimento dos mercados domésticos de dívida de longo prazo de várias economias emergentes e a incapacidade de emitir títulos no exterior nas suas próprias moedas é o que os economistas Barry Eichengreen e Richardo Hausmann denominam o “pecado original” da economia destes países.

Vale observar que a superação do “pecado original” já parece ser uma estratégia central do Novo Banco de Desenvolvimento dos Brics (NBD). Em 19 de julho de 2016, o NBD emitiu os primeiros títulos verdes, em moeda chinesa, no valor de 3 bilhões de Yuan Reminbi, com prazo de 5 anos no mercado interbancário de dívidas públicas. Em 1º de junho de 2017, o Presidente do NBD, Sr. K. V. Kamath, anunciou em São Petersburgo que seriam emitidos títulos em todos os 5 países-membro nas suas próprias moedas.

O NBD também poderia aprender com a experiência do Asia Bond Fund 2. A principal resposta dos países asiáticos à crise de 1997-1998 foi a criação do Asian Bond Fund. Isso se deu em dois passos.

O Asian Bond Fund 1 (ABF 1), anunciado em junho de 2003 pela Reunião do Grupo Executivo dos Bancos Centrais do Leste Asiático e Pacífico (GEBCLAP), que é composto por 11 países, canalizou investimentos em títulos soberanos e quase-soberanos denominados em dólar, emitidos por entidades asiáticas.

Em dezembro de 2004, foi lançado o fundo mais importante: o Asia Bond 2 (ABF 2). Os bancos centrais do GEBCLAP comprometeram $2 bilhões para investir em títulos asiáticos denominados em moeda local. ABF 2 é estabelecido como fundo comum de investimento baseado em Cingapura e listado na bolsa de valores de Hong Kong. Ele é composto por 9 fundos, 8 dos quais são fundos de países-membros, e o nono fundo é um fundo de índice dos 8 fundos anteriores.

O papel deste fundo de índice é encorajar a participação de baixo custo dos investidores passivos. Seria recomendável que os Brics fizessem algo similar ao que o ABF 2 fez, para que um mundo multipolar de ativos de reserva eventualmente se torne uma realidade.

Zhiyuan Cui é Professor da Escola de Política Pública e Negócios da Universidade de Tsinghua, em Pequim, China.

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