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Papa pede a colombianos que renunciem à vingança para alcançar a paz

Francisco manifesta seu apoio aos acordos com as FARC em encontro com o presidente Santos

O papa Francisco inaugurou na quinta-feira a agenda de sua viagem à Colômbia com um discurso e um encontro com o presidente, Juan Manuel Santos, muito centrado no processo de paz, nas desigualdades sociais e na ecologia. O Papa pediu aos colombianos que renunciem à vingança e aos interesses particulares e de curto prazo para conseguir uma paz duradoura. O apoio às políticas de Santos, que, ao contrário do ex-presidente Álvaro Uribe, sempre apostou em uma paz integradora, foi acompanhado por uma chamada de atenção aos bispos, aos quais pediu mais envolvimento.

O papa Francisco ao lado do presidente colombiano, Juan Manuel Santos, antes da reunião em Bogotá.
O papa Francisco ao lado do presidente colombiano, Juan Manuel Santos, antes da reunião em Bogotá.Mauricio Dueñas (EFE)

Um tapete vermelho de 38 metros cruza o Pátio de Armas do Palácio de Nariño, em Bogotá. Chega um modesto Chevrolet cinza e o papa Francisco desce. A orquestra começa a tocar o hino nacional e a canção Puede Ser. Tudo agora tem a ver com a reconciliação. Muitas crianças com deficiência abraçam o Pontífice que, como sempre, se entretém com cada uma e manda o protocolo pelos ares. Fica claro a partir da primeira linha de seu discurso diante do presidente Juan Manuel Santos que ele apoiará decididamente o projeto de reconciliação que se segue aos acordos de paz que o político colombiano promoveu há nove meses depois de quatro anos de diálogo com as FARC em Havana.

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Mas Santos falou antes, mencionando que nos últimos meses sofreu as consequências de um grande desgaste por ter levado até o fim o processo de paz com a guerrilha mais antiga e organizada da América. O acordo pôs fim a mais de meio século de conflito armado. Uma rejeição incentivada inclusive por alguns representantes da hierarquia católica – mais de 50%, de acordo com a Fundação Paz e Reconciliação – que tiveram de ouvir da boca do Papa que não são “técnicos ou políticos, mas pastores” e que devem se envolver mais na reconciliação.

O presidente da Colômbia atravessa um momento político muito delicado. A nove meses das eleições presidenciais de 2018, ele ainda não tem nenhum sucessor claro. Os adversários de Santos – encabeçados pelo ex-presidente Álvaro Uribe, que na quarta-feira devem ter ficado com os ouvidos ardendo – o criticaram durante todo esse tempo pela frouxidão exibida com a guerrilha e pelo fato de ter renunciado a uma justiça implacável para os responsáveis por tantas mortes para conseguir a paz. Mas em seu discurso o Papa apoiou essa linha de ação, que valeu o Nobel para Santos, e fez alguma alusão dirigida – facilmente perceptível – àqueles que tentaram sabotá-la. “Que esse esforço nos afaste de qualquer tentação de vingança e de busca de interesses apenas particulares e de curto prazo. Quanto mais difícil é o caminho que leva à paz e ao entendimento, mais empenho devemos ter para reconhecer o outro, curar feridas e construir pontes, estreitar os laços e ajudar-nos mutuamente”.

Nesse momento de solidão em que Santos se encontra, Francisco elogiou o trabalho realizado nos últimos meses para estabelecer uma paz duradoura em um país atingido por uma tempestade de violência que devastou as instituições e o próprio Estado. “No último ano certamente se avançou de uma maneira especial; os passos dados fazem crescer a esperança, com a convicção de que a busca pela paz é um trabalho sempre aberto, uma tarefa [...] que exige o compromisso de todos [?]”.

Muito agradecido pela visita, o presidente da Colômbia, um homem profundamente católico, recordou algumas palavras do Evangelho segundo Mateus que se encaixam perfeitamente nas teses que lhe custaram o ostracismo político. “Não devemos perdoar até sete vezes, mas até 70 vezes sete. Devemos celebrar o retorno do filho pródigo porque ele estava perdido e nós o encontramos”. Ele também se vangloriou do que foi conseguido para acabar com a violência das FARC, que fez 220 mil mortos, e de ser o único país do mundo “onde hoje as armas estão sendo trocadas por palavras; onde armas são destruídas e fundidas para se transformarem em monumentos à paz”.

O Papa, como costuma fazer, estruturou seu discurso em três eixos. Além da paz, também se referiu a duas de suas grandes obsessões: o meio ambiente e as desigualdades sociais. Então deu um puxão de orelhas à ainda insuficiente política social do Governo. “São necessárias leis justas que possam [...] resolver as causas estruturais da pobreza que geram exclusão e violência”.

Na intensa agenda do Papa, que na quarta-feira também o levou a um breve encontro privado com bispos venezuelanos e a rezar uma missa para 600 mil pessoas no Parque Simón Bolívar, estava sublinhada em vermelho sua reunião com os bispos colombianos. À sua maneira, ele repreendeu os 130 presentes por estarem longe do povo e, muitas vezes, por terem silenciado diante de injustiças ou conflitos históricos como o narcotráfico. “A Colômbia precisa de vocês”, disse. “Não servem alianças com uma parte ou com outra, mas a liberdade de falar aos corações de todos”.

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