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Líderes globais consideram decisão de Trump como uma forma de “rejeitar o futuro”

De Obama a Macron, passando por prefeitos progressistas norte-americanos e grandes empresários, todos reafirmam seu compromisso com o meio ambiente

Amanda Mars

De Barack Obama a Macron, passando por prefeitos rebeldes e líderes de grandes empresas, é forte a onda de críticas aos Estados Unidos causada pela decisão de Donald Trump de abandonar o Acordo de Paris. Obama viu outra das marcas características de seu legado como presidente, a política ambiental, se quebrar em pedaços e acusou seu sucessor de colocar os EUA “no pequeno punhado de países que rejeita o futuro”. Esse grupo incluía até agora a Síria e a Nicarágua, que se negaram a assinar o acordo, e agora abrange a primeira potencia mundial.

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“Há um ano e meio, o mundo se uniu em Paris em torno do primeiro acordo global para posicionar o mundo no caminho das baixas emissões de carbono e proteger o planeta que deixaremos a nossos filhos”, disse Obama em um comunicado, e reforçou que “foi a liderança firme e com princípios dos Estados Unidos no cenário mundial que tornou possível essa conquista”.

Várias empresas anunciaram que seguirão adiante com suas medidas ambientais. A Microsoft, fundada por Bill Gates, reforçou que a mudança climática é “uma preocupação séria” e se comprometeu a “continuar seu trabalho de décadas para reduzir as emissões de efeito estufa e para ajudar nossos clientes a fazer isso também”. Elon Musk, fundador da Tesla e da SpaceX, confirmou que sairia do conselho de assessores formado por Trump com conhecidos executivos e deixou uma mensagem crítica em sua conta do Twitter: “A mudança climática é real. Deixar Paris não é bom nem para os EUA nem para o mundo”.

Também alguns prefeitos se rebelaram contra as novas diretrizes da Casa Branca, como o progressista nova-iorquino Bill de Blasio, ou o de Pittsburgh (Pensilvânia), Bill Peduto. De Blasio prometeu que nos próximos dias assinaria uma ordem executiva para cumprir os objetivos fixados pelo Acordo de Paris. Peduto se pronunciou em linha semelhante, com a curiosidade de que Trump tê-los citado como exemplo para ostentar sua guinada nacionalista.

Enquanto isso, os republicanos comemoraram que seu presidente tivesse cumprido a promessa eleitoral. “Ao renunciar a esses objetivos inalcançáveis, o presidente Trump reiterou seu compromisso de proteger as famílias de classe média e os trabalhadores do carvão”, declarou Mitch McConnell, chefe republicano do Senado.

Repercussão internacional

Os Governos da França, Alemanha e Itália responderam ao anúncio da Casa Branca de forma conjunta, através de um comunicado lamentando a decisão de Washington de abandonar o Acordo de Paris. “Nós, os chefes de Estado e de Governo da França, Itália e Alemanha, ficamos sabendo com pesar da decisão dos EUA de abandonar o acordo universal contra a mudança climática. Não é possível renegociar o acordo, porque é uma ferramenta vital para nosso planeta, sociedades e economia”.

O presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que Donald Trump cometeu um erro para os interesses de seu país e para o futuro do planeta. “Os Estados Unidos deram as costas para o mundo”, disse em um discurso televisionado em inglês que terminou parafraseando o presidente norte-americano: “Façamos o planeta grande outra vez (Make our planet great again)”.

O presidente norte-americano manteve uma rodada de conversações com líderes internacionais, informou uma fonte da Casa Branca citada pela agência Reuters. Conversou com o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, que tuitou que está “decepcionado” com a decisão do Governo norte-americano; com a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, que elogiou o acordo de Paris, que protege “a prosperidade e a segurança das gerações futuras”, e com a chanceler alemã, Angela Merkel, que insistiu que não serão renegociados os compromissos alcançados no pacto climático.

Não foram os únicos a rejeitar, com vários tons de firmeza, o anúncio. O mundo “pode contar com a Europa” para liderar a luta contra o aquecimento global, indicou o Comissário Europeu para o Clima, Miguel Arias Cañete. A União Europeia já abandonou a atitude de prudência mantida antes de Trump tomar sua decisão e passou a condenar a saída do acordo. “A luta contra a mudança climática não pode depender de resultados eleitorais, se ganham os democratas ou os republicanos. É um acordo internacional; uma vez assinado, é preciso assumir a responsabilidade”, criticou Cañete.

A União promete procurar “novas alianças”, incluindo “empresas, comunidades e cidadãos norte-americanos”, para continuar avançando. Entre essas novas alianças, a China, o maior emissor de dióxido de carbono do planeta e, ao mesmo tempo, um dos países que mais sofre nas suas cidades as consequências da poluição, apareceu como o grande e inesperado sócio para liderar a luta contra o aquecimento global. Na sexta-feira assinou um acordo com a UE no qual pede que “todas as partes”, sem mencionar Washington, respeitem o acordo de 2015 e promete novos esforços em energias renováveis.

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, expressou seu desconforto com o abandono do acordo pelos EUA. “É uma decisão muito errada”, ele tuitou. Em depoimentos gravados Juncker disse: “Tentamos explicar [o Acordo de Paris] ao senhor Trump de forma clara com frases curtas", disse em Taormina. "Parece que a tentativa foi mal sucedida.”

O primeiro-ministro belga, Charles Michel, se expressou com especial dureza. “Condeno este ato brutal contra o acordo”, escreveu no Twitter. O Presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, também se pronunciou de maneira categórica. “Pacta sunt servanda (pactos assumidos devem ser respeitados)”, disse ele na mesma rede social.

O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy também reafirmou através do Twitter o compromisso da Espanha com o pacto contra as alterações climáticas: “A Espanha mantém seu compromisso com o Acordo de Paris. A UE continuará liderando a luta contra a mudança climática na direção correta. MR”. 

O Governo brasileiro também manifestou sua "profunda preocupação e decepção" o anúncio da administração Trump."Preocupa-nos o impacto negativo de tal decisão no diálogo e cooperação multilaterais para o enfrentamento de desafios globais”, diz o Governo, em comunicado assinado pelos ministérios das Relações Exteriores e do Meio Ambiente.

A ONU se referiu à decisão de Trump como uma “grande decepção”. “A decisão dos Estados Unidos de se retirar do Acordo de Paris sobre a mudança climática é uma grande decepção para os esforços globais para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e promover a segurança global”, disse Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário geral, António Guterres. “É vital que os EUA mantenham sua liderança em questões ambientais”, acrescentou. A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima também descartou a possibilidade de renegociar o pacto.

Com informações de Agências

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