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Europa se alia à China para tentar manter vivo acordo climático

Bruxelas promete que o pacto seguirá em frente apesar da possível saída dos EUA

Lucía Abellán
Fotografia de uma usina energética em Nova York
Fotografia de uma usina energética em Nova YorkJUSTIN LANE (EFE)

A Europa olha para a China ante a presumível saída iminente dos Estados Unidos do ambicioso Acordo de Paris contra as mudanças climáticas. A UE assinará na sexta-feira com Pequim – um parceiro até agora distante e incômodo – um acordo bilateral que multiplica os compromissos de ambas as partes nesse marco multilateral para tentar salvá-lo. O texto insta “todas as partes”, sem mencionar Washington, a respeitarem o pactuado em 2015 e promete novos esforços em energias renováveis.

Bruxelas passou oito meses tentando forjar um acordo climático ambicioso com o país mais poluidor do mundo. O objetivo era tentar se proteger diante do desembarque norte-americano dos acordos contra o aquecimento global que o presidente anterior do país, Barack Obama, havia ratificado. O resultado é uma declaração conjunta, à qual o EL PAÍS teve acesso, que desmembra em 17 tópicos a nova estratégia bilateral. O documento será aprovado na cúpula que reunirá na quinta e sexta-feira em Bruxelas o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, e os presidentes da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e do Conselho Europeu, Donald Tusk. O encontro propiciará também entendimentos em investimento, segurança, defesa e imigração, entre outros assuntos.

Diante das dúvidas dos norte-americanos, a declaração começa constatando que a ação climática é hoje “mais importante do que nunca” e confirma os compromissos da Europa e China com os acordos de Paris, dos quais agora assumem a liderança. Embora não existam referências a terceiros, ambos os lados se situam em posições opostas em relação aos Estados Unidos ao defenderem “o livre comércio, o investimento e os sistemas multilaterais” como vias para reduzir o nível de emissões poluentes do planeta. Para preencher o iminente vazio norte-americano, a declaração se compromete com “novas políticas e medidas” bilaterais. Também alude a “novos projetos de cooperação bilateral” fora desse âmbito. Haverá um plano de 10 milhões de euros (36 milhões de reais) pelo qual a UE compartilhará com a China experiências em redução de emissões.

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Além do gesto político, o mais inusitado no conteúdo é a intenção de desenvolver energias limpas. É a primeira vez que se firma algo assim. Trata-se de cooperar em aspectos como a redução do consumo de energia dos edifícios, o fomento das renováveis “por meio de mecanismos de mercado” (para deixar de lado a ideia de subsídios) e os intercâmbios em inovação tecnológica. Fontes do bloco europeu explicam que aí se abre um importante campo de cooperação. Isto porque a Europa pode brindar a China com o conhecimento técnico de que necessita para dar impulso às energias renováveis.

Sem querer dar como certa a retirada dos EUA, o comissário europeu de Ação pelo Clima e Energia, Miguel Arias Cañete, apresentou esse avanço como indispensável para salvaguardar o acordo de Paris. “A UE e a China unem forças para avançar com determinação na aplicação do acordo de Paris e acelerar a transição mundial para energias limpas. Ninguém deveria ficar para trás, mas a UE e a China decidiram avançar”, afirma. Mais direto, o presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, se apressou a lamentar a saída norte-americana. “A luta contra o aquecimento global é um desafio maior, que diz respeito a todas as nações. É nosso dever moral deixar às gerações futuras um planeta mais seguro e saudável”, afirmou em um comunicado.

Ajuda à África

Depois das mensagens lançadas na campanha eleitoral, a UE já temia que o novo presidente, Donald Trump, decidisse retirar os EUA do acordo de Paris, firmado em 2015. De modo que, dois meses depois da posse de Trump, Arias Cañete viajou a Pequim para tentar reforçar os compromissos chineses contra o aquecimento global. O resultado é essa declaração conjunta, que pretende ir além do âmbito bilateral e propõe pela primeira vez uma “cooperação triangular” com territórios em vias de desenvolvimento. O documento põe foco na África, à qual se prestará assistência em matéria de meio ambiente.

No entanto, o impacto da saída dos Estados Unidos é enorme porque, embora sejam apenas um dos 195 países que respaldaram Paris, sem o cumprimento da redução de emissões que Washington havia endossado (entre 26% e 28% em 2025 em relação aos níveis de 2005), será difícil alcançar a meta global: evitar que a temperatura do planeta suba mais de dois graus no final do século. Com os compromissos que tinham sido alcançados até agora, já se considerava difícil um aquecimento térmico inferior a três graus. A saída de Washington agravará a situação. Mas Bruxelas promete que o acordo seguirá em frente de qualquer modo.

O desafio dos 325 bilhões de reais

A UE declara seu “pleno apoio” a um dos pontos-chave do acordo: a criação de um fundo com pelo menos 100 bilhões de dólares (325 bilhões de reais) anuais a partir de 2020 para que os países ricos financiem a luta contra as mudanças climáticas dos mais vulneráveis. Mas a guinada norte-americana torna essa meta quase inalcançável. A declaração conjunta com a China insta os outros países a contribuírem com o fundo.

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