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A investidores, Temer e Meirelles blindam economia da crise política

Em evento em SP, presidente diz que a casa estará em ordem para sucessor em 2018. Ministro diz que economia voltou a crescer e “tem condições de prosseguir normalmente”

Carla Jiménez
O presidente Temer, ladeado de Maia, Alckmin e Eunício Oliveira
O presidente Temer, ladeado de Maia, Alckmin e Eunício OliveiraN.Almeida (AFP)

Em Brasília, uma nova crise política se instalava com a decisão do agora ex-ministro da Justiça Osmar Serraglio de declinar do convite do presidente Michel Temer de migrar para a pasta da Transparência. Em São Paulo, a cúpula do Governo federal, incluindo o presidente, se apresentava a investidores para a abertura do Fórum de investimentos Brasil 2017, que garantiu uma injeção de energia junto ao empresariado e investidores internacionais que apoiam as reformas do presidente. A mensagem não escrita era clara. O Brasil vive dois mundos diferentes, o da política e o da economia, e este último está definitivamente mais forte que o primeiro.

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No encontro, organizado pelo Governo brasileiro em conjunto com o Banco Interamericano de Desenvolvimento,Temer e os chefes do Congresso, Rodrigo Maia, e do Senado, Eunício de Oliveira, além de parte dos ministros, estiveram juntos no palco para dar as boas vindas a investidores brasileiros e estrangeiros que disputaram as cadeiras do auditório do hotel Hyatt, na Zona Sul. Nem parecia que se tratava de um Governo que estava por um fio há uma semana e que pode ser cassado num julgamento, no Tribunal Superior Eleitoral, que começa na semana que vem. E que pode ganhar novas dores de cabeça com a volta de Serraglio ao Congresso: o ex-ministro da Justiça tem como primeiro suplente Rodrigo Loures, o assessor de Temer flagrado na gravação da JBS, que poderia perder seu foro privilegiado caso perca o cargo de deputado.

Alheia à movimentação de Brasília, a plateia que lotou o local demonstrava avidez para ouvir o que a trupe governista, mesmo com chances de não concluir o seu mandato até 2018, tem a dizer. Qual é o futuro da economia brasileira, depois de dois anos de grave recessão, e com reformas, que pareciam impossíveis, a meio caminho? “Investidores de mais de 40 países encontram aqui um Governo determinado a completar as reformas que estão transformando o país e abrindo novas oportunidades para todos”, afirmou Temer, depois de ser elogiado por todos os que falaram antes dele na abertura do evento – do prefeito João Doria, passando pelo Governador Geraldo Alckmin, a Rodrigo Maia que destacou o fato de o presidente ser “corajoso” por encarar reações na sociedade. Temer devolveu os elogios ressaltando a harmonia do Executivo com o Congresso, que garantiu, segundo ele, devolver “O Brasil ao caminho do desenvolvimento. E desse nós não nos afastaremos”, avisa. Nenhuma menção à complicada situação em que se encontra, seja pelo inquérito no Supremo, os inúmeros pedidos de impeachment ou o julgamento no TSE. Mais completou. “A nossa agenda (do Congresso) é a do mercado”, afirmou. Por ora, é o próprio mercado quem tem sérias dúvidas sobre o sucesso dessa agenda.

É o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, no entanto, quem parece tranquilizar de fato o setor produtivo com a mensagem implícita de que é possível isolar a crise política para que a economia não seja mais afetada – mesmo que os sobressaltos de Brasília venham a provocar a queda do Governo ao qual pertence. A hipótese parece inexistente em seu discurso. Segundo Meirelles, a recessão foi superada e a melhora da expectativa já estaria gerando frutos, como a própria geração de empregos positiva em abril – quase 60.000 – e um primeiro trimestre da economia como um todo no azul, que a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) nesta quinta-feira deve confirmar. Segundo o indicador de crescimento do Banco Central (IBC-Br), apresentado no último dia 15, o país cresceu 1,12% no primeiro trimestre - o primeiro dado positivo registrado desde o início de 2015.  “O Brasil tem hoje crescimento previsível e sustentável: e a previsibilidade num item fundamental da economia, que são as contas públicas”, diz ele, citando o teto de gastos aprovado no final do ano passado pelo Congresso como a grande trunfo para o país. A desordem nas contas, argumentou, foi a grande fonte de instabilidade da economia nas últimas décadas.

Além de dominar a retórica econômica que acalma os donos do dinheiro, Meirelles é visto como um nome chave para o momento de estresse no Brasil. É ele quem pode avalizar as mudanças em curso no país, que incluem a reforma trabalhista e previdenciária, até mesmo participando de um futuro Governo de transição em 2018, caso o mandato de Temer venha a ser abreviado. Em uma coletiva com jornalistas, o ministro afirmou que não trabalha com essa possibilidade. “A economia brasileira hoje mostra sinais de muita resistência. Os fundamentos estão mais sólidos, reservas elevadas, então o país está em condições de prosseguir normalmente, passando pelas questões políticas que vão sendo decididas sem fazer com que incertezas políticas gere uma crise econômica”, diz.

Mas e se cair, afeta a economia? “Vamos deixar as coisas cada uma em seus lugares. A economia está crescendo, vai continuar a crescer, fazendo as reformas fundamentais, resultado deste Governo, e tudo isso vai continuar”. Em síntese, Meirelles diz que não vê no país condições ou pessoas que tenham possibilidade de influenciar o destino do país que queiram reverter as atuais políticas.De fato, os nomes cotados para uma eventual sucessão indireta de Temer são todos fechados em torno das reformas que precisam acontecer. E aceitaria ser avalista ou candidato a um novo Governo, ou até ministro da Fazenda de um sucessor? “Não trabalho por hipóteses. Trabalho com a realidade e com o desafio de continuar trabalhando para que economia volte a crescer... Sou candidato a fazer o país continuar a crescer neste Governo.”

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