De lojas vazias, o comércio popular e o de elite debatem a greve em São Paulo
No Bom Retiro, compreensão com a greve, que é criticada na Oscar Freire, nos Jardins
São Paulo teve sua rotina alterada com a greve geral desta sexta-feira. Sem ônibus nas ruas, o trânsito fluía em pleno horário de pico da manhã no centro da cidade. Lojistas da região bem que tentaram abrir as portas, mas boa parte dos funcionários não conseguiu chegar por causa das paralisações que afetaram o transporte público. Em duas importantes e distintas áreas comerciais, o cenário era semelhante. Porém, com reações antagônicas às manifestações que deixaram ruas e avenidas desertas.
No Bom Retiro, um dos pontos mais movimentados do comércio popular de roupas e acessórios, as lojas mantiveram as portas fechadas. Se, em dias comuns, muitas lojas costumam receber a clientela antes das 8h, hoje a maioria delas ficou fechada durante a manhã. Poucos clientes deram as caras. Com receio de furtos e dos protestos que aconteciam a menos de três quilômetros da rua, alguns comerciantes que abriram seus estabelecimentos rapidamente mudaram de ideia e fecharam à meia porta. Embora houvesse efetivo de policiais fazendo ronda pelas ruas, quatro seguranças particulares estavam de prontidão.
Genilvaldo Soares da Silva, de 55 anos, trabalha há mais de três décadas em uma loja da rua José Paulino e conta que jamais havia presenciado uma sexta-feira tão atípica. Ele, que é motorista, teve de dar expediente como vendedor, já que quatro funcionárias da loja não conseguiram chegar ao trabalho. Ele saiu de casa às 4h, de carro, e levou quase duas horas para se deslocar de seu bairro, na zona leste da capital. “Nunca vi um movimento tão fraco. Mas é por uma boa causa. Se não tivesse que trabalhar, eu também estaria protestando. Querem tirar o pouco que nós, trabalhadores, temos. Não podemos aceitar essas reformas calados”, diz o motorista, que também é crítico tanto do Governo de Michel Temer quanto dos anteriores, de Dilma e Lula. “Agindo assim, só estão dando mais força para o Lula voltar em 2018, o que seria um absurdo.”
Uma família de imigrantes sul-coreanos é proprietária da loja em que Genivaldo trabalha. Os donos dizem que, apesar do prejuízo ao comércio, não são contra a greve, “porque as pessoas têm direito de protestar, sem violência”. A poucos metros da loja, a vendedora de vestidos Romilda Alexandrina de Paulo, de 65 anos, que chegou ao trabalho graças a uma carona de moto do marido, mostrava um duplo descontentamento. Para ela, as reformas “vão prejudicar ainda mais quem é trabalhador, mas fazer greve não adianta nada. Estamos na mão dos políticos”.
Já na rua Oscar Freire, reduto nobre do comércio paulistano, na zona oeste, estabelecimentos como restaurantes, cafés, outlets e boutiques abriram, mas muitos funcionários também não conseguiram chegar para o início do expediente. Em uma loja de artigos esportivos, dos seis vendedores do turno da manhã, apenas Wesley Teixeira, de 31 anos, bateu ponto normalmente. Ele vai de moto ao trabalho e disse não ter enfrentado dificuldades para cumprir seu trajeto. “Não estou nem aí pra greve. Prefiro ficar por fora dessas coisas de política”, afirmou.
Assim como Wesley, algumas das poucas pessoas circulavam pela região sequer tinham conhecimento da paralisação. “Greve? Nem tava sabendo disso, meu filho”, disse a dona de casa Janete Kuhnert, 53 anos, que passeava com seus dois cachorros da raça bichon frisé enquanto contemplava as vitrines da Oscar Freire. Outros, incluindo proprietários de lojas, que culpavam a greve pelo fraco movimento da sexta-feira, demonstravam indignação com os atos promovidos pelos trabalhadores.
A empresária Lilian Gonzales, 55, veio do Rio de Janeiro para comemorar seu aniversário com familiares na capital paulista, mas resolveu adiar a festa por causa da greve. Ela e o marido Júlio Cesar Nascif, 65, defendem as reformas trabalhistas e da Previdência. “Essa greve é um oba-oba. Muita gente aproveitou para emendar o feriado ou promover quebra-quebra. É uma mobilização pequena, de grupos isolados que só causam transtorno”, opina Gonzales.
Nascif, que é proprietário de uma empresa de elevadores, sobe o tom ao falar dos grevistas, definindo-os como “pelegos que não querem perder a boquinha da contribuição sindical”. Ele conta que seu negócio emprega 200 pessoas. “Eu poderia pagar duas, três vezes mais a eles não fossem os encargos de CLT.” Ele usa o episódio de um funcionário que pediu demissão em sua fazenda no interior de Minas Gerais – e o acionou na Justiça – para justificar sua convicção de que as leis trabalhistas estão obsoletas. “O sujeito pediu 170.000 reais de indenização. Na audiência, o advogado dele propôs um acordo de 6.000. Para sacanear, meu advogado falou que só pagava 3.000 em três parcelas. Ele aceitou e eu saí no lucro. Pelos cálculos que tinha feito, a rescisão dele daria uns 4.500”, gaba-se. De acordo com o empresário, “o que aumenta o salário do trabalhador não é greve, mas sim o pleno emprego. De preferência sem a interferência do Estado”.
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