Começa segunda guerra de canudos
Campanhas defendem fim do uso do utensílio, que representa 4% do lixo plástico mundial
Talvez você não tenha parado para pensar nisso, mas há um elemento-chave que diferencia tomar uma bebida em um bar de fazer isso em casa. Não é a música, a companhia ou o ambiente. É que quando você bebe em um bar te dão um canudinho, que você não costuma usar quando prepara bebidas para os seus amigos na sala de casa. Esse canudinho também vem no suco e nas vitaminas das crianças na hora do recreio. Esse canudinho de plástico, que não costuma ser biodegradável e tem apenas alguns minutos de vida útil para nós, significa centenas de anos de resíduos para o meio ambiente.
As redes sociais começaram a se conscientizar dos danos causados por um produto que na realidade é totalmente dispensável, exceto para pessoas doentes com dificuldade para beber. Por isso apareceram campanhas como #RefusePlasticStraws ou #PlasticPollutes, que lembram que somente nos Estados Unidos são utilizados mais de 500 milhões de canudos de plástico por dia. Pessoas públicas como a designer Vivienne Westwood começaram a fazer campanha em suas contas para conscientizar o mundo de que talvez seja o momento de deixar de usá-las.
Gepostet von Vivienne Westwood am Dienstag, 21. März 2017
Contribuindo com mais dados, Enrique Estrela, especialista em marketing e meio ambiente na Verdes Digitales, insiste em que “os dados nos indicam que os canudos são um resíduo generalizado em nível mundial, já que representam 4% do lixo plástico e levam até mil anos para se decompor”. Além disso, “muitos desses canudos vão para o mar e estima-se que 90% das espécies marinhas tenham ingerido produtos de plástico em algum momento, como se pode ver neste vídeo”.
Com todos esses dados, Estrela acredita que “a viralidade das campanhas contra o uso dos canudos pode ser vinculada a seu uso cotidiano. Certamente muitas pessoas antes não se haviam dado conta de que estavam consumindo um futuro resíduo plástico porque seu consumo é muito amplo em lugares de comida rápida, supermercados e salas de cinema. Além disso, a mensagem é muito atraente: por que usar algo que normalmente você não usa?”.
A ideia dessas campanhas e páginas na Internet passa pela conscientização da população para que diga “não aos canudos de plástico”, com um gesto tão simples como dizer “sem canudinho, por favor” quando lhe servirem algum refrigerante ou outra bebida, e incentivar os seus acompanhantes a fazer o mesmo.
É o que destaca também The last plastic Straw, que informa as pessoas sobre como incentivar uma mudança no protocolo e nas práticas das empresas para que possam mudar o uso indiscriminado dos canudos de plástico.
Um passo a mais seria chegar aos restaurantes e bares e lhes propor que os canudos não sejam entregues como algo rotineiro, só quando o cliente pedir, ou então defender o uso de produtos similares, que em vez de serem fabricados com plástico são de papel, vidro ou aço inoxidável. Outra ideia é optar por comprar sucos e vitaminas que adotem outro sistema para serem consumidos, sem o uso do tradicional canudo de plástico.
Enrique Estrela observa que realmente “o consumidor tem um grande poder sobre este e outros produtos. Já há alguns anos a importância do consumidor tem aumentado até se situar acima das marcas”. Por isso, “se realmente for feita uma forte campanha sobre os canudos, com apoio da sociedade, é muito provável que as empresas mudem sua concepção de uso do produto e tendam a criar canudos biodegradáveis ou que não produzam resíduos”.
Não se deve esquecer que, como afirma Estrela, “para as empresas deve ser fundamental ser socialmente responsável e apostar na inovação. E a redução do uso dos canudos e a melhora de seus processos produtivos será algo a se levar muito em conta se a pressão social tornar isso evidente”.
Um problema também na Espanha?
Embora estas campanhas tenham ganhado força principalmente nos Estados Unidos, onde o problema dos canudos de plástico é maior, cabe perguntar se fazem sentido no contexto espanhol.
Não existem dados tão específicos sobre o uso de canudos na Espanha, mas Beatriz Meunie, diretora de comunicação da PlasticsEurope, diz que “certamente o uso dos canudos de plástico é menos comum em nosso país do que nos EUA”. A especialista também enfatiza que, além da questão dos canudos descartáveis, o mais importante é que sejam reutilizáveis: “O problema também reside no comportamento sem civilidade das pessoas que os jogam no chão depois de os usar. É necessário continuar avançando para uma maior conscientização e evitar que qualquer resíduo, não só os canudos, sejam jogados fora de modo indiscriminado”.
Da perspectiva da PlasticsEurope, a iniciativa de cidadãos contra o excesso de resíduos pode passar também pela conscientização sobre o reuso. “Temos de continuar trabalhando para um consumo mais responsável de todos os nossos recursos, tanto durante sua fase de uso como com uma gestão adequada quando já tiverem cumprido sua função. Costumamos dizer que os resíduos de hoje são os recursos de amanhã e que para poder recuperar todo o seu valor é necessária sua correta gestão”. As propostas passam pela reutilização dos canudos em materiais de decoração, trabalhos manuais infantis ou até como forro para diferentes superfícies. “Na PlasticsEurope lançamos há vários anos a iniciativa ‘Zero Plástico no Aterro’ para que não se permita a entrada em aterros de nenhum tipo de resíduo reciclável ou valorizável: os plásticos são valiosos demais para serem desperdiçados nos aterros”.
Mesmo que cada pessoa contribua para a reutilização, o plástico com seu grãozinho de areia, com criatividade e civismo, talvez a chave não esteja somente em melhorar seu uso, mas em reduzir a fabricação. Por isso, embora obviamente tudo ajude, Enrique Estrela pondera que a verdadeira mudança passa por “conscientizar e sensibilizar a população mundial sobre seu uso, dando-lhe o poder de mudar o rumo desses negócios que usam produtos daninhos, por meio da tomada de decisões mais respeitosas com o meio ambiente”.
Um exemplo a seguir, sem dúvida, é a diminuição do uso das sacolas de plástico nos supermercados. Beatriz Meunie reflete que “agora pagamos para ter uma sacola de plástico, o que resulta em um consumo mais responsável e na ideia de que esse produto é valioso. O passo seguinte é que também nos conscientizemos de que essa sacola pode ser, em primeiro lugar, reutilizada várias vezes e, no final, se for depositada na lata de lixo adequada, poderá ser reciclada e se transformar de novo em um recurso útil para a sociedade”.
Tudo isso teve como consequência que, como informa o especialista em meio ambiente da Verdes Digitales, “na Espanha em 2018 será proibida a entrega de sacolas gratuitas. Recentemente ficou definido estabelecer a obrigação de que a partir de 2018 os pratos, copos, taças e talheres de plástico, assim como cotonetes, tenham que ser fabricados com pelo menos 50% de substâncias biodegradáveis procedentes de materiais orgânicos, aumentando esse porcentual para 60% a partir de 2020”. Talvez essas campanhas consigam fazer com que os canudos de plástico sejam o passo seguinte, com a ajuda de todos.
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