_
_
_
_

STF libera Rodrigo Maia para disputa na Câmara que terá base de Temer rachada

Dos cinco candidatos à presidência da Casa, três são aliados do Governo federal

O deputado Jovair Arantes, um dos candidatos à presidência da Câmara.
O deputado Jovair Arantes, um dos candidatos à presidência da Câmara.João Ricardo (PTB na Câmara)

A eleição da Câmara dos Deputados que ocorre nesta quinta-feira tem apenas uma certeza até o momento: a base de apoio de Michel Temer (PMDB) entrará rachada na disputa. Dos cinco candidatos anunciados até o início da noite desta quarta-feira, três eram de partidos alinhados ao Governo federal. Para piorar o cenário para o peemedebista, três desses aliados e mais um opositor se revoltaram contra a candidatura à reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ), o atual presidente-tampão, e ingressaram com ações judiciais no Supremo Tribunal Federal tentando impedi-lo de disputar o cargo. Na noite desta quarta-feira, no entanto, o ministro Celso de Mello, do STF, indeferiu o pedido de liminar dos deputados contra Maia. Dessa forma, ele poderá concorrer.

Independentemente do resultado das urnas parlamentares, caberá a Temer e a seu futuro ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy (PSDB-BA), juntarem os cacos da corrida eleitoral. O tucano deve ser empossado na sexta-feira no cargo e já chega com a inglória tarefa de amainar os ânimos.

Mais informações
Cinco visões sobre o futuro do Governo Temer e a crise política brasileira
A montanha-russa da crise política brasileira
Metamorfose política do Brasil em 2016 ainda não mostra vencedores

Após a decisão de Mello, um dos aliados de Temer desistiu de concorrer, Rogério Rosso (PSD-DF). Seu argumento foi o de que queria garantir a governabilidade. Seu objetivo inicial era o de fazer uma jogada de marketing para conseguir se cacifar para a disputa do governo do Distrito Federal em 2018.

As cinco campanhas restantes podem ser resumidas assim: uma manobra para conseguir reeleger um presidente-tampão; uma tentativa de ressuscitar a marca centrão, que estava adormecida; uma remota busca de sobrevida à oposição moderada; uma esperança de mostrar que o Legislativo é independente do Executivo; e uma utopia de colocar pautas de esquerda diante de um governo de direita. As definições são, respectivamente, de Rodrigo Maia (DEM-RJ), Jovair Arantes (PTB-GO), André Figueiredo (PDT-CE), Júlio Delgado (PSB-MG) e Luiza Erundina (PSOL-SP).

Se houver segundo turno, a perspectiva é de que Maia, o atual presidente-tampão que tem o apoio formal de 12 legendas, enfrente Arantes, um dos expoentes do centrão e aliado de primeira hora do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), hoje preso em Curitiba. Os dois, além de Rosso, foram os que mais se movimentaram em busca de apoio. Quase toda semana encontram-se com o presidente Michel Temer e dia sim, dia não, viajaram para outros Estados em busca de votos de seus colegas parlamentares. Os aliados de Maia dizem que ele tem ao menos 250 votos garantidos. O de Arantes, 160. Se assim o for, nenhum deles venceria no primeiro turno, já que são precisos ao menos 257 votos (a metade mais um dos 513 votantes) para atingir esse feito.

O principal empecilho de Maia foi superado apenas temporariamente com a decisão de Celso de Mello, pois ainda depende de uma definição dos outros nove ministros – esse julgamento não tem data para ocorrer. Maia está há quase oito meses na presidência da Casa. Assumiu o cargo em substituição a Cunha, que renunciou na inútil tentativa de salvar o seu mandato. Conforme a legislação, Maia não poderia se candidatar à reeleição para o cargo dentro de uma mesma legislatura. A atual, acaba em fevereiro de 2019. Portanto, só poderia retornar à presidência dessa casa legislativa depois desse período. Ele e seus aliados entendiam que, por cumprir um período tampão, teria o amparo legal para seguir no cargo mediante votação. E a definição do ministro do STF concordou com sua interpretação da lei. Mas nada impede que, mesmo que saia vitorioso, Maia tenha o cargo questionado no julgamento do caso pelo STF.

Segundo turno deverá ser entre Rodrigo Maia e Jovair Arantes

No caso de Arantes, a principal barreira que ele terá de transpor será o explícito apoio do governo Michel Temer (PMDB) à candidatura do democrata. Na quinta-feira passada, o candidato do PTB esteve em uma reunião com Temer para reclamar da interferência na disputa. Disse que, por ser da base esperava que o presidente e seus ministros deveriam ter uma postura de isenção na disputa de outro poder. As queixas se devem à interferência direta de ao menos três ministros: Gilberto Kassab (PSD), Marcos Pereira (PRB) e Fernando Coelho Filho (PSB). Os partidos dos três, sob a orientação deles, declararam apoio ao nome de Maia. Apesar das reclamações, Arantes disse estar confiante na sua eleição. “Eles estão fechando por cima e eu estou fechando por baixo. A cúpula não vota. Quem vota são os 513 deputados”.

Sem candidato oficial

O presidente diz aos quatro ventos que não tem candidato, só gostaria que algum de seus apoiadores se elegesse. Ainda que informal, o suporte da gestão Temer a Maia tem como principal interesse evitar que o grupo de Cunha, formado principalmente por deputados do baixo clero, retorne ao poder. Uma de suas movimentações para fortalecer a candidatura de Maia foi tirar do páreo um possível concorrente do PSDB, Antonio Imbassahy.

O cenário atual só seria modificado caso a Justiça impedisse a candidatura de Maia. Era nesse vácuo que três candidatos estavam de olho. Rogério Rosso, que desistiu, viajou a pelo menos quatro Estados, fez dezenas de reuniões e estava com a candidatura a todo vapor. Suspendeu sua campanha por cinco dias e, nesse meio tempo, perdeu o apoio oficial de sua legenda, o PSD. Mesmo retirando seu nome da disputa, atingiu o seu objetivo, que é o de se cacifar para disputar a sucessão de Rodrigo Rollemberg (PSB) no Governo do Distrito Federal em 2018. A ideia de Rosso é se mostrar como uma liderança nacional.

O pedetista André Figueiredo havia surgido como a opção da oposição para entrar com alguma chance na disputa. A ideia era unificar PDT, PT e PCdoB. Sua candidatura, porém, já foi desidratada. O PCdoB, com 12 deputados, declarou apoio a Maia. Já o PT, com 58 deputados, dividiu-se e relutou em apoiá-lo. Oficialmente diz que votará nele, mas, como o voto é secreto, nada está garantido. Restaram os 21 parlamentares do PDT.

Um pouco da postura dos petistas e dos comunistas tem relação com a distribuição de cargos pela Mesa Diretora. Os sete ocupantes da diretoria da Câmara têm direito a fazer a livre nomeação de 231 funcionários. É um grande espaço para acomodar filiados que ficaram de fora do poder público desde o fim do Governo Dilma Rousseff (PT), em agosto passado.

Já as candidaturas de Julio Delgado e de Luiza Erundina tem pouquíssimas chances de prosperar. O partido de Delgado, o PSB, declarou apoio a Maia. Membro da base de apoio de Temer, Delgado diz que a Câmara precisa demonstrar alguma independência do Executivo. Afirma que, até agora, não viu em nenhum dos nomes postos essa característica. Erundina tem a função de marcar presença como representante da oposição mais radical à gestão peemedebista.

A presidência da Câmara é estratégica neste momento porque seu ocupante é o primeiro da linha sucessória de Temer. Além disso, porque é o comando da Casa que determina o ritmo de tramitação dos projetos – uma agenda crucial para o Planalto que tem como ponte de sustentação seu plano de reformas, incluindo da Reforma da Previdência. Sem falar que também é o presidente da Casa que decide ou não levar adiante um processo de impeachment.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_