Fox vai pagar 65 milhões de reais para apresentadora vítima de assédio sexual
Roger Ailes, fundador de Fox News, e empresa pediram desculpas depois do acordo
O grupo de mídia 21st Century Fox, dono do canal Fox News, chegou a um acordo extrajudicial com a apresentadora Gretchen Carlson para por fim ao processo movido contra Roger Ailes, acusado de assédio sexual. Em troca, Carlson receberá 20 milhões de dólares (cerca de 65 milhões de reais). O fundador do canal de notícias, que se viu forçado a renunciar à presidência em julho passado diante das proporções do escândalo, pediu desculpas à apresentadora, mas, em paralelo, prepara uma batalha legal por difamação contra a revista que revelou seus abusos.
Ailes é considerado o criador da máquina política mais influente e poderosa dos Estados Unidos. A Fox News é a rede usada há duas décadas por conservadores para canalizar a mensagem que não conseguem circular através de outros grupos de comunicação, como MSNBC ou CNN. Rupert Murdoch, o dono do grupo de entretenimento, assumiu o controle da empresa depois da renúncia do presidente até que um substituto seja encontrado. A renúncia aconteceu apenas três semanas após Carlson ter entrado com uma ação.
Os termos do acordo pelo qual a ex-apresentadora do programa Fox & Friends suspendeu o processo não foram divulgados. A intenção é que Ailes pague uma parte da indenização, que não foi revelada, e que divulgue um pedido de desculpas por seu comportamento em relação a jornalista. Carlson o acusou de tratá-la de forma discriminatória por ser mulher. O executivo chegou a comentar que seus problemas poderiam ser resolvidos se eles tivessem um relacionamento sexual.
A 21st Century Fox disse em um comunicado que o grupo está “orgulhoso” de que a apresentadora Carlson tenha feito parte da equipe da Fox News. Além disso, destacam seu “profissionalismo”. Por isso, “lamentam sinceramente” o episódio e lhe pedem “desculpas”, porque não foi tratada “com o respeito e a dignidade que ela e todos os funcionários merecem”. A jornalista foi vencedora do concurso de beleza Miss América em 1989. Foi demitida há três anos.
“Estou pronta para passar para o próximo capítulo da minha vida”, disse Carlson em uma nota, na qual agradece a coragem de outras mulheres que se voluntariaram para contar suas histórias e que apoiaram sua queixa legal. “Todas as mulheres merecem um lugar de trabalho digno e respeitoso, onde seu talento seja reconhecido”, afirma a jornalista, revelando que, a partir de agora, vai “redobrar” os esforços para que o trabalho e a lealdade das mulheres sejam recompensados e aplaudidos.
Ailes era visto como uma pessoa intocável no universo corporativo e político dos Estados Unidos, apesar do processo movido por Carlson, entre outras razões, porque transformou a Fox News em uma máquina de fazer dinheiro para o império de Rupert Murdoch. O estopim para a renúncia foi o silêncio revelador de Megyn Kelly, que, de acordo com uma investigação interna, também foi vítima de comentários e insinuações machistas por parte do executivo. Agora, paira a expectativa de como o grupo de mídia vai resolver as denúncias de outras funcionárias.
Ailes, que continua como assessor de Murdoch durante este período de transição, acaba de contratar o mesmo escritório de advocacia que representou Hulk Hogan na ação que acabou com o portal de celebridades Gawker, adquirido recentemente pela rede de TV hispânica Univisión. O executivo tenta, deste modo, defender sua causa contra o escândalo revelado pela New York Magazine e pelo jornalista Gabriel Sherman, autor dos artigos. O escritório de advocacia de Hollywood é o mesmo contratado por Melania Trump, esposa de Donald Trump, que move um processo contra o jornal britânico The Daily Mail e contra um blogueiro, devido à alegação de que ela teria sido garota de programa nos anos noventa.
Murdoch, muito pressionado por seus dois filhos, decidiu agir rápido para evitar que o escândalo acabasse prejudicando a imagem do canal. Mas a renúncia de Ailes levantou dúvidas sobre a continuidade de outras estrelas que saíram em defesa do executivo e cujos contratos estavam vinculados à permanência do fundador da Fox News. É o caso de Greta Van Susteren, que anunciou nesta terça-feira seu pedido de demissão depois de 14 anos dirigindo o programa On the Record. No seu caso, por questões puramente financeiras, embora já estivesse pensando em deixar o jornalismo.
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