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Cabeleireiro do presidente François Hollande ganha 9.895 euros por mês

Executivo da França argumenta que o trabalhador está disponível “24 horas por dia”

Carlos Yárnoz

O presidente da França, François Hollande, está colecionando aborrecimentos nos últimos dias. Três dias depois de a seleção francesa perder a final da Eurocopa e um dia depois do ministro Emmanuel Macron, seu protegido, fazer todo um alarde de força e emancipação, o semanário Le Canard Enchainé divulgou nesta quarta-feira que o chefe de Estado francês tem um cabeleireiro contratado que recebe um salário oficial de 9.895 euros (36.210 reais) pago pelo contribuinte.

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Em um país ainda abalado pela crise, com mais de 10% de desemprego, em que o salário mínimo mensal é de 1.466 euros (5.360 reais), a remuneração do cabeleireiro de Hollande é excessivamente elevada. Os próprios porta-vozes do líder socialista admitem. Por isso argumentam que o funcionário, Olivier B., “começa a trabalhar de manhã cedo”, tem um expediente muito extenso e está disponível inclusive nos fins de semana.

“Está à disposição do presidente 24 horas por dia” e, devido a sua dedicação plena, “faltou ao nascimento de seus filhos” ou não esteve com eles quando quebraram um braço, argumenta sua advogada, Sarah Levy. Os porta-vozes da presidência não esclarecem se o mandatário obrigou o cabeleireiro a trabalhar mesmo sabendo que sua esposa estava dando à luz ou se o funcionário de luxo deixou de comunicar o fato.

Em ambos os casos, o dado parece exagerado, mas os colaboradores do inquilino do palácio ressaltam a grande dedicação do cabeleireiro: “Arruma o cabelo do presidente todas as manhãs e quantas vezes for necessário cada vez que precisa fazer um pronunciamento”. Apesar de todo esse esforço, o penteado de Hollande, que já perdeu bastante cabelo, não é exatamente algo que se destaque em sua aparência.

Acrescentam que o homem, submetido a um contrato de confidencialidade, tem de acompanhar Hollande em toda viagem de mais de um dia de duração. Outro dado que dá mais munição à história do dispendioso Olivier B.

A informação, desfavorável para Hollande, surge na véspera da festa nacional de 14 de julho, dia em que o chefe de Estado preside um desfile militar na avenida Champs-Élysées e faz um pronunciamento transmitido por dois canais de televisão. Nos dois últimos anos, o presidente foi vaiado. A festa deste ano é a última do atual mandato de Hollande.

A notícia aparece quando ainda ressoam os ecos das manifestações e greves organizadas pelos sindicatos nos quatro últimos meses em protesto contra a reforma trabalhista, finalmente aprovada por decreto, que facilita e barateia as demissões. A de Olivier B., se acontecer, não sairá barato para o contribuinte. Terá de ser calculada sobre os 593.700 euros (2 milhões de reais) que o homem ganhará durante os cinco anos de mandato de Hollande.

A presença de um cabeleireiro tão bem pago no palácio presidencial já foi arejada no livro L´Elysée off. Agora, o Le Canard publicou uma cópia do contrato, assinado em 16 de maio de 2012 e válido para todo o mandato de Hollande. A presidência confirmou que o contrato é autêntico. O escândalo soma-se ao descoberto em 2014, quando se soube que Aquilino Morelle, conselheiro de Hollande, utilizava continuamente os serviços de um engraxate.

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