Definindo o estilo Temer: tapa na mesa e direito ao recuo
Presidente interino rejeita imagem de hesitante e disse que "sabe governar" e tratar "com bandidos"
Em geral contido em público e formal a ponto de usar mesóclises ("consertá-lo-ei"), Michel Temer surpreendeu ao dar um tapa na mesa diante de parlamentares: "Tenho ouvido: 'Temer está muito frágil, coitadinho, não sabe governar'. Conversa! Fui secretário de Segurança duas vezes em São Paulo e tratava com bandidos", bradou nesta terça, uma das mãos golpeando o móvel. O tom assertivo e o gestual foi uma tentativa de reação explícita à imagem de hesitante que se colou nele em seus 12 dias de mandatário interino.
Leia abaixo a defesa de Temer para as mudanças de conduta do Governo e outros recados, para além das medidas econômicas, do discurso no qual ele tenta imprimir seu estilo no Poder.
"Quando houver equívoco, tem que rever a posição. Se fizer [o equívoco], consertá-lo-ei".
No período do novo Governo, se repetiram as palavras "recuo" e até "recuo do recuo" nas manchetes relacionadas a Temer. Da extinção à recriação do ministério da Cultura passando pelos ministros “falastrões” que tiveram que ser desautorizados por ele. Temer citou o presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976) para defender que não tem "compromisso com o equívoco".
"Tenho ouvido: 'Temer está muito frágil, coitadinho, não sabe governar'. Conversa! Fui secretário de Segurança duas vezes em São Paulo e tratava com bandidos"
Temer lembrou seu passado à frente da Polícia Militar em São Paulo no mesmo contexto de demonstrar firmeza. Ao falar que “lidava com bandidos”, no entanto, o mandatário provocou comentários irônicos na Internet, que indagavam se ele se refere a Eduardo Cunha, deputado afastado pelo Supremo Tribunal Federal e réu na Lava Jato, ou a algum outro político. Na indicação do líder do Governo na Câmara (que é ficha sujíssima), foi dito que Temer era "refém do centrão [nome dado aos deputados de legendas menores]" e também refém de Cunha.
“Muitas e muitas vezes se diz que estamos em busca de eliminar ou dificultar qualquer investigação, mas isso contestaria precisamente o que disse em outros momentos. Eu não posso invadir a competência de outro Poder”
As declarações de Temer acontecem um dia após um de seus maiores aliados, o senador Romero Jucá (PMDB-RR), pedir licença da pasta do Planejamento após uma conversa sua com um diretor da Transpetro ter vazado. Nos diálogos, registrados em março, o ex-ministro fala sobre a necessidade de tirar a então presidenta Dilma Rousseff do poder para frear a Lava Jato, diz que o senador Aécio Neves “será o primeiro a ser comido” por seus “esquemas”, e outros fatos pouco republicanos. Sobre este assunto, Temer disse que seu Governo não vai “impedir a apuração com vistas à moralidade pública e administrativa” e que, “ao contrário, vamos sempre incentivá-la". De acordo com ele, "ninguém quer [esquema para abafar a Lava Jato]”.
"Quero deixar claro que nós temos sido vítimas de agressões, de agressão psicológica, para ver se amedronta o Governo. Não temos preocupação com isso. Temos que cuidar do país. Aqueles que quiserem esbravejar façam o que quiserem, mas pela via legal"
Temer tem sido alvo de protestos de manifestantes contrários ao impeachment em várias cidade. Desde que declarou o fim do ministério da Cultura, na semana passada, movimentos sociais ocuparam vários prédios ligados à produção artística, como a Funarte, em São Paulo. No fim de semana, grupo "antigolpe" montou acampamento nos arredores da residência de Temer, na Zona Oeste de São Paulo. Em um dos atos, a marcha de protesto foi até a rua do mandatário aos gritos de “golpista”. Ao contrário do que houve com os manifestantes pró-impeachment que puderam ficar acampados em frente à Fiesp, na avenida Paulista por dias a fio, os manifestantes contra o atual Governo foram dispersados pela Polícia Militar, até pouco tempo comandada pelo atual ministro da Justiça de Temer, Alexandre de Moraes.
“No movimento de junho e julho de 2013 houve grande movimento popular em várias capitais, e eu vim a público dizer que isso era fruto da democracia, as pessoas estavam em busca da democracia de eficiência”
Criticado por montar um ministério que, além de sem mulheres, negros ou índios, é composto por implicados na Lava Jato rechaçados nas ruas, Temer diz estar conectado com o espírito das manifestações ao defender a “democracia da eficiência”. “Os serviços públicos precisam ser eficientes”, repetiu. Suas medidas econômicas planejadas, que incluem limitação de gastos na saúde e educação que podem que podem diminuir investimentos nestes setores, porém, devem ser criticados por parte dos que protestaram em 2013.
“Quando o movimento [de 2013] perdeu densidade? Quando surgiram os mascarados, black blocs, que começaram a depredar tudo. E o movimento acabou”.
A menção aos manifestantes adeptos da tática black bloc e as afirmações de que a oposição só é válida se for exercida “dentro dos limites da Constituição” pode ser lida como advertência aos que protestam contra seu Governo. Ministro Moraes, da Justiça, já havia chamado de "guerrilha".
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