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Gravação derruba Romero Jucá e Dilma diz que escancara “consórcio golpista”

Um dos principais articuladores do impeachment é o primeiro ministro do Governo interino a cair

Romero Jucá.
Romero Jucá.FERNANDO BIZERRA JR (EFE)

Pivô do primeiro escândalo que sacode o Governo interino de Michel Temer, Romero Jucá teve de deixar o Ministério do Planejamento horas depois de a Folha de S. Paulo divulgar gravação em que ele sugere articulação para conter a Operação Lava Jato tendo como uma das estratégias o impeachment de Dilma Rousseff. Jucá, homem-forte de Temer e investigado por suposto envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras, primeiro anunciou que pediria licenciamento, mas terá que se demitir para reassumir o cargo de senador por Roraima.

Temer emitiu uma nota em que agradece Jucá por seus serviços prestados e diz querer contar com a ajuda do aliado no Congresso Nacional. “Registro o trabalho competente e a dedicação do ministro Jucá no correto diagnóstico de nossa crise financeira e na excepcional formulação de medidas a serem apresentadas, brevemente, para a correção do déficit fiscal e da retomada do crescimento da economia brasileira.”

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Com o afastamento do ministro, Dyogo Oliveira ficará interinamente no cargo até que o presidente em exercício consiga convencer alguém de sua confiança a assumir a função. Oliveira era secretário-executivo de Nelson Barbosa no Governo de Dilma Rousseff. Para o ministério, o principal candidato é o atual ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Para o cargo dele iria Moreira Franco, o atual secretário-executivo do Programa de Parcerias e Investimentos.

A queda de Jucá veio apenas horas depois de ele afirmar a jornalistas que sua conversa com o ex-presidente da subsidiária da Petrobras Transpetro Sérgio Machado não era motivo para que ele deixasse o cargo. "Não tenho nada a temer, não devo nada a ninguém", disse. No áudio de pouco mais de uma hora, Jucá concorda com Machado e diz que o processo de afastamento de Dilma Rousseff levaria Michel Temer ao poder e proporcionaria um acordo amplo, "com o Supremo (Tribunal Federal), com tudo" e "delimitaria a Lava Jato" e poderia proteger até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também investigado."Tem que ser um boi de piranha, pegar um cara, e a gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem", diz Jucá. A gravação, feita por Machado para negociar delação premiada, está em poder do Ministério Público Federal.

A presidente afastada, Dilma Rousseff,  que desde o fim de semana voltou a fazer eventos públicos, afirmou que a gravação confirma que seu processo de impeachment foi fruto da ação de um "consórcio golpista" interessado em barrar as investigações. "Se alguém ainda não tinha certeza de que há um golpe em curso, baseado no desvio de poder e na fraude, as declarações fortemente incriminatórias de Jucá sobre os reais objetivos do impeachment e sobre quem está por trás dele eliminam qualquer dúvida. A gravação escancara o desvio de poder e a fraude do processo de impeachment praticados contra uma pessoa inocente. Revelam o modus operandi do consórcio golpista", disse, `a noite, em Brasília.

Protestos no Senado

A saída de Jucá, um dos principais articuladores do rompimento do PMDB com o Governo e do impeachment, foi decidida no encontro que Temer teve com o presidente do Senado, Renan Calheiros, na tarde desta segunda. Jucá chegou ao Congresso como ministro e saiu como senador após parlamentares de vários matizes pressionarem por sua renúncia. Governistas como Ana Amélia (PP-RS) e Ronaldo Caiado (DEM-GO) e opositores, como Lindbergh Farias (PT-RJ) e Vanessa Graziotin (PCdoB-AM), cobravam o desfecho.

A chegada do Jucá junto com a comitiva presidencial foi conturbada. Deputados petistas e funcionários de gabinetes do Congresso hostilizaram Temer e seus ministros Geddel Vieira Lima (Governo), Eliseu Padilha (Casa Civil) e Henrique Meirelles (Fazenda), além de Jucá, assim que eles chegaram para apresentar a nova meta fiscal para o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O principal grito ouvido era de “golpistas”.

Enquanto o ainda ministro do Planejamento dava uma entrevista coletiva, a deputada Moema Gramacho (PT-BA) segurava um cartaz atrás dele com os dizeres Delcídio = Jucá, Prisão e Conselho de Ética Já”. A frase fazia alusão ao ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) que foi preso depois que uma gravação em que ele tentava obstruir a Lava Jato foi divulgada. O PT e o PDT devem fazer uma representação contra Jucá no Conselho de Ética. Os protestos foram caracterizados por Jucá como uma babaquice. Ao fim da entrevista, Gramacho disse a Jucá que ele deveria ir para a prisão. Como resposta ouviu: “Eu vou botar todos vocês na cadeia”.

A rechaço ao escândalo da Lava Jato foi um dos propulsores declarados das manifestações contra o Governo Dilma Rousseff desde o ano passado. Quando Temer anunciou o ministério com Jucá, já havia recebido críticas por nomear alguém alvo de dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal por causa da investigações. A gravação dá fôlego aos protestos contra o Governo Interino. Nesta segunda-feira, a avenida Paulista foi palco mais uma vez de mobilização. O processo de impeachment de Dilma Rousseff deve ser retomado nesta semana no Senado sob o impacto do áudio. Para que Dilma Rousseff perca seu mandato definitivamente, é preciso o voto de 54 senadores, ou a maoria qualificada da Casa.

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