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Começa colheita na maior plantação de maconha da América Latina

Propriedade no sul do Chile produz cerca de 1,5 tonelada para uso medicinal

Rocío Montes
Ana María Gazmuri, diretora da Fundação Daya, na plantação de maconha
Ana María Gazmuri, diretora da Fundação Daya, na plantação de maconhaSEBASTIÁN UTRERAS
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A maior plantação de maconha para uso medicinal da América Latina, localizada no sul do Chile, começou seu período de colheita. A Fundação Daya, realizadora do projeto, espera colher cerca de 1,5 tonelada até meados de abril. “Se pensarmos que se utiliza meio grama para fazer um cigarro, com esse volume poderiam ser feitos três milhões de cigarros. Com um para cada seis pessoas, o Chile inteiro poderia fumar”, brinca Pablo Meléndez, diretor de operações e responsável por fiscalizar diariamente os 6.400 pés plantados em novembro no campo de Quinamávida, a 320 quilômetros da capital chilena. “É uma iniciativa inédita na região”, diz Ana María Gazmuri, diretora da fundação encarregada de pesquisar e promover a utilização da cannabis para fins terapêuticos. “Apesar de não ter a legislação mais avançada, o Chile está sendo pioneiro entre os países latino-americanos”.

Não é fácil chegar à fazenda. Como não há aeroportos nas redondezas, é preferível viajar 300 quilômetros de carro de Santiago até a cidade de Linares. A partir daí o caminho se torna um labirinto e, sem indicações precisas e vários telefonemas aos anfitriões, seria quase impossível chegar ao destino. O aroma é intenso a vários metros de distância. Na entrada de propriedade, uma estrada de terra íngreme e uma guarita de segurança, onde um homem pergunta os dados dos visitantes para permitir o acesso. Até então é possível observar a paisagem: um hectare de pés de maconha perfeitamente ordenados à espera da colheita.

Os beneficiários são cerca de 4.000 pacientes com câncer, epilepsia e vítimas de dores crônicas, como a artrite ou esclerose múltipla

Neste campo são cultivadas 16 variedades protegidas com diversas medidas de segurança para evitar roubos: vigilância 24 horas, cerca elétrica, um cão, câmeras de vídeo e conexão direta com as duas principais delegacias de polícia desta zona agrícola. “Em todo caso, existe certa consciência social para as plantações destinadas aos pacientes”, explica Gazmuri.

A Fundação Daya contratou cerca de 60 trabalhadores temporários para a colheita, que devem vestir um traje especial e usar luvas de borracha. Desde a quinta-feira, cortam as plantas, limpam e as penduram em um galpão para secar, o que não deve demorar mais de uma semana. Depois de moído, o material será levado ao laboratório médico Knop, onde terá início o processo de pesquisa clínica. “Será o primeiro medicamento fitoterápico à base de cannabis feito na América Latina”, explica Nicolás Dormal, diretor de planejamento da Fundação Daya.

Modelo único na região

Os beneficiários são cerca de 4.000 pessoas dos quase 20 municípios chilenos que contribuíram para o financiamento do projeto, são pacientes com câncer ou epilepsia refratária ou ainda vítimas de dores crônicas, como a artrite ou a esclerose múltipla.

Centenas de beneficiadas graças ao cultivo particular

No Chile só é permitida a venda de fármacos que contenham óleo de semente. Os tratamentos elaborados à base de cannabis só podem ser obtidos no mercado negro, mas a qualidade e a origem são duvidosas. Graças a um decreto modificado no final de 2015, será possível a importação desses produtos.

Há três anos, a Fundação Daya montou uma rede médica para atender os pacientes que optam por esse tipo de terapia e ensinar como fabricar seus próprios medicamentos. Atualmente, cerca de 700 pacientes se tratam com cannabis graças ao cultivo particular. “Mudou minha vida”, diz Arturo, diagnosticado aos 25 anos com uma doença degenerativa que o deixou na cadeira de rodas. Agora voltou a caminhar e às vezes consegue andar 100 quilômetros de bicicleta.

A fundação recebe, com frequência, visitas de países como Brasil e Argentina para conhecer a gestão da fazenda e o cultivo. “Também recebemos visitantes da Austrália e da Califórnia e ficaram realmente admirados”, explica a diretora executiva. Gazmuri acredita que isso “está deslanchando na América Latina”. “A Colômbia acaba de regulamentar o uso medicinal, a Costa Rica está dando os primeiros passos, o Uruguai começou o primeiro cultivo recentemente”.

Antes de colher um hectare de maconha, a fundação teve de percorrer um difícil caminho perante as autoridades. A lei chilena não proíbe o cultivo ou o consumo, mas pune o tráfico, com isso “estava instalada a ideia de que era impossível”. “Muitos setores conservadores da sociedade chilena devem estar se perguntando como conseguimos fazer este gol tão significativo”, reflete Gazmuri.

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