Obama: “Asseguremos um acordo com objetivos passíveis de revisão”
Líder chinês pede esforços aos países que mais contribuíram para o aquecimento global
As duas maiores potências econômicas, que são também as que mais gases de efeito estufa emitem, defenderam na Cúpula de Paris a adoção de objetivos ambiciosos e passíveis de revisão. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, expressou seu mea culpa: “Represento o segundo país mais poluidor. Assumiremos nossas responsabilidades”. A ele se uniu a chanceler (primeira-ministra) alemã, Angela Merkel: "Poluímos muito. Portanto, devemos estar na vanguarda das energias limpas” e ajudar os países em desenvolvimento.
O presidente chinês, Xi Jinping, acredita que será necessário avançar para uma economia verde, mas pede mais esforços aos países ricos, ao mesmo tempo em que promete que a China continuará investindo em energias limpas e cumprirá seus compromissos.
“Finalmente decidimos salvar o planeta”, declarou Barack Obama no plenário onde se reuniram na manhã desta segunda-feira grande parte dos 150 chefes de Estado e de Governo que foram à abertura dessa cúpula, na qual se espera a definição do primeiro acordo global contra o aquecimento. É uma decisão repleta de dificuldades políticas, como destacou o próprio Obama: “Se aceitarmos este desafio, não obteremos vitórias rápidas. Isto será medido em sofrimento evitado. Nossa geração não verá os resultados. Mas vamos transmiti-los aos nossos filhos e netos”. Obama citou dados que demonstram os esforços dos Estados Unidos a respeito do clima, mas foi muito ambíguo e evitou alguns dos pontos que dificultam o acordo de Paris, como o caráter obrigatório do futuro protocolo ou tratado.
Muito mais direta foi a chanceler da Alemanha, um país que se impôs uma drástica mudança no modelo de crescimento. Merkel falou sobre a necessidade de “obter uma descarbonização de grande alcance da economia”, da imprescindível ajuda aos países em desenvolvimento e de como o acordo de Paris deve reparar a justiça interternacional.
O presidente chinês insistiu, como Merkel, na necessidade de mobilizar 100 bilhões de dólares [cerca de 384 bilhões de reais] por ano para apoiar financeiramente os países em desenvolvimento. Xi Jinping acredita que o futuro está nas novas tecnologias e, como o presidente francês, François Hollande, vê na cúpula de Paris “o início de um futuro de cooperação em que cada país contribua em função das suas capacidades”. “Estamos decididos a cumprir nossos compromissos”, expressou mais adiante.
Uma ideia surgiu repetidamente nos pronunciamentos: o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental já não são conceitos irreconciliáveis.
O presidente russo, Vladimir Putin, um dos poucos que não expressaram suas condolências pelos atentados de Paris, se centrou na lição de casa feita por seu país a respeito da mudança climática e nos efeitos econômicos perversos que o aquecimento global já está provocando.
Uma ideia surgiu repetidamente nos pronunciamentos: o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental já não são conceitos irreconciliáveis. “Os países em desenvolvimento não precisarão mais optar por uma coisa ou outra”, afirmou o príncipe Moulay Rachid, de Marrocos, que será o anfitrião da próxima Cúpula do Clima, em 2016.
Por parte do bloco bolivariano, que mantém uma posição dura nas negociações de Paris, foram lançadas várias recriminações aos países desenvolvidos. Rafael Correa, presidente do Equador, recordou-lhes que “o crescimento econômico ilimitado é impossível”. Boa parte do seu discurso se centrou na “justiça ambiental”. “Um habitante dos países ricos emite 38 vezes mais [gases do efeito estufa] que um dos pobres”, afirmou. Existe, recordou, uma “dívida ecológica que deve ser paga e que, sobretudo, não deve continuar crescendo”.
Para resolver tal situação, Correa propôs a criação de uma “corte internacional de justiça ambiental” e que as tecnologias que ajudarem a evitar a mudança climática sejam declaradas “bens públicos globais”, ou seja, de livre acesso.
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