Dilma Rousseff evoca biografia para repelir moralmente o impeachment
Presidenta reforça presença nas ruas e estreia linha de defesa retórica ante os “golpistas"
A presidenta Dilma Rousseff partiu para o ataque. Um dia depois de conseguir no Supremo Tribunal Federal uma vitória tática contra o impeachment, reforçou sua agenda junto a movimentos populares e demonstrou quais serão os pilares de sua defesa a partir de agora: comparar sua biografia “ilibada” com a falta de “força moral” dos que articulam seu impeachment, ressaltar as políticas que desenvolveu para mostrar que seu governo se distingue dos da oposição pela distribuição de renda e acusar de “golpistas” os que pedem sua saída do cargo.
“Eu me defendo com muita serenidade porque não cometi nenhum desvio de conduta. Jamais utilizei em meu proveito a atividade que exerci como presidenta da República. Tenho certeza que eles tentaram buscar alguma coisa contra mim. Mas não encontraram e não vão encontrar”, disse ela na tarde desta quarta-feira em um encontro de agricultores em São Bernardo do Campo (Grande SP).
Ela prosseguiu, então, comparando sua biografia com a de seus acusadores. “Eu desconheço quem tenha força moral, reputação ilibada e biografias limpas o suficiente para atacar minha honra”, completou, em um ataque que pareceu ser dirigido, especialmente, ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que terá a prerrogativa de abrir o processo de impeachment e enfrenta acusações de que desviou para uma conta na Suíça dinheiro de contratos da Petrobras. Uma estratégia para desmoralizar os que pedem sua saída diante da opinião pública.
Em um galpão com cerca de 4.000 agricultores de diversos Estados, Rousseff foi recebida aos gritos de “não vai ter golpe” entusiasmados, apesar de um atraso de quase duas horas. Ela chegava de uma agenda em Piracicaba (interior de São Paulo), onde participou da cerimônia de inauguração de um laboratório de biotecnologia agrícola. A demora não pareceu desanimar os agricultores do encontro, que tentaram chegar perto dela para pedir um abraço, um beijo ou uma selfie –todos foram pacientemente atendidos por uma presidenta simpática, aos moldes de Lula, que parecia querer se desfazer da fama de brava que carrega. “Viu, e quem disse que ela não é popular?”, disparou um dos participantes, com a câmera em punho, ao observar o assedio.
O discurso feito nesta quarta foi parecido com o de um dia antes, quando ela falou na abertura do congresso nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Suas hesitações discursivas. Como quem decorou direitinho a mensagem que a partir de agora irá passar, ela chamou, em ambos os dias, os que articulam sua saída do cargo de “golpistas” que atacam o modelo de Governo desenvolvido pelo PT desde o Governo Lula. “Esse golpe não é contra mim. É contra o projeto que eu represento e que fez o país sair do mapa da fome e superar a pobreza extrema (...) É um discurso golpista contra as conquistas históricas dos trabalhadores”, ressaltou ela. “Eles querem um atalho para chegar mais rápido em 2018.”
Como parte da estratégia, ela defendeu suas políticas de forma detalhada. Afirmou o número de casas que entregará pelo programa Minha Casa, Minha Vida, quantas vagas em universidades ofereceu para jovens de baixa renda, a quantidade de médicos que trouxe pelo programa Mais Médicos... “É isso que distingue o nosso governo”, afirmou, mais de uma vez. Ressaltou que as políticas sociais não serão afetadas, apesar de reconhecer que há uma crise econômica grave no país. “O Governo não está parado.”
Ainda sob o mesmo escopo de argumentação, Rousseff creditou as manobras fiscais responsáveis pela rejeição de suas contas no Tribunal de Contas da União (TCU) dizendo que elas serviram para evitar cortes nos programas sociais, mesmo discurso adotado por Lula no dia anterior, quando também falou na CUT. A manobra, conhecida como pedaladas fiscais, é o principal argumento da oposição para pedir o impeachment dela. “As pedaladas são críticas a forma pela qual pagamos o Minha Casa, Minha Vida e o Bolsa Família”, destacou.
A defesa do social, também adotada por Lula, é a principal estratégia do PT para se diferenciar dos partidos de oposição. Uma tarefa difícil, já que não são poucas as críticas ao ajuste fiscal feitas por parte da esquerda que sustentou o partido por tantos anos. Antes de seu discurso, Rousseff levou um puxão de orelha de Anderson dos Santos, do Movimento dos Pequenos Agricultores: "É necessário retomar a agenda com a qual a senhora foi eleita. Aqui está o povo que te apoia e apoiou. Esse é seu povo. Pode confiar e se jogar no braço dele."
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