Movimentos sociais lançam frente de esquerda anti-Levy e sem o PT
Esquerdistas se dividem por divergência na estratégia de lidar com crise política
Movimentos sociais de esquerda lançam nesta quinta-feira a Frente Povo Sem Medo, que reúne 27 entidades, entre elas movimentos sindicais e da juventude, sem-teto e Igreja Católica, críticas às políticas de austeridade promovidas pelo Governo federal. A frente não terá a presença institucional do Partido dos Trabalhadores, que faz parte de outra frente, a Brasil Popular, cujo primeiro ato público aconteceu no começo do mês.
A criação de duas frentes acontece devido a dificuldade de se encontrar um discurso na esquerda que agrade a todos os segmentos. Enquanto um grupo, ligado ao PT, quer defender enfaticamente a postura anti-impeachment, o outro acredita que o momento é de aumentar o tom contra as políticas de austeridade do Governo, algo que, para os petistas, pode desgastar ainda mais Rousseff nesta crise política. O grupo ligado à Frente Povo Sem Medo, por sua vez, acredita que as críticas são essenciais para evitar que a presidência ceda ainda mais à pressão do que chamam de grupos conservadores e continue a adotar mais políticas de austeridade.
Os dois grupos haviam promovido um ato conjunto em 21 de agosto, que acabou tomado pelo discurso anti-ajuste. O PT, que em São Paulo participou com lideranças nacionais e também faz críticas à política econômica de Rousseff, não assumiu o caminhão de som, comandado por Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), e acabou relegado ao final da marcha, sem qualquer protagonismo no protesto.
Em uma coletiva no centro de São Paulo nesta semana, os representantes dos movimentos que compõem a Frente Povo Sem Medo buscaram minimizar as diferenças, afirmando que a esquerda está unida. “Os objetivos das duas frentes são os mesmos: a defesa do direito dos trabalhadores contra a política econômica recessiva que aplica a alta dos juros e retira recursos de programas sociais. O diferencial é que a Frente Povo Sem Medo é constituída exclusivamente por setores do movimento social e sindical e a Frente Brasil Popular é ampla e participam partidos de esquerda”, disse Douglas Izzo, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) de São Paulo.
Ligada ao PT, a CUT faz parte das duas frentes. Na Povo Sem Medo também estão os movimentos estudantis Juntos! e Rua-Juventude Anti-capitalista, ligados ao PSOL, a União da Juventude Socialista (UJS) e a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), ligados ao PCdoB, além do MTST, que já havia elevado o tom contra o Governo ao ocupar em 23 de setembro a sede do Ministério da Fazenda contra as políticas de cortes no programa de habitação Minha Casa, Minha Vida.
Segundo Boulos, que liderou a coletiva de imprensa nesta terça, apoiam a frente mais de cem intelectuais como o expoente da Teologia da Libertação, Frei Betto, o escritor Ferrez, os professores da USP André Singer e Raquel Rolnik, além de políticos como Lindberg Farias (PT) e Luciana Genro (PSOL). Genro, que foi candidata à presidência na última eleição, já defendia desde a vitória de Rousseff uma mobilização popular para conter os avanços “dos interesses das figuras mais reacionárias” no novo mandato.
Desconectada, ao menos oficialmente, de partidos políticos, a Frente Povo Sem Medo adota um discurso de “recuperar as ruas”, que, para eles, foram tomadas por manifestações de caráter conservador desde os atos pós-junho de 2013. Também defende a taxação das grandes fortunas, algo que o Governo ainda não conseguiu emplacar no Congresso, e a auditoria da dívida pública. O primeiro ato do grupo está marcado para 8 de novembro, mas não há detalhes de como ele será.
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