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78% reprovam descontos da Sabesp para ‘gastões’ de água, diz Datafolha

Levantamento para Greenpeace mostra que 82% culpa Governo Alckmin pela crise hídrica

María Martín
Campanha da Greenpeace contra os descontos para grandes consumidores.
Campanha da Greenpeace contra os descontos para grandes consumidores.Divulgação

A grande maioria dos moradores da cidade de São Paulo é contra oferecer descontos na tarifa aos maiores consumidores de água, prática realizada pela Sabesp com 537 dos seus clientes que utilizam acima de 500.000 litros por mês. Perguntados sobre os chamados contratos de demanda firme, que oferecem preços menores quanto maior seja o consumo, 78% dos entrevistados se mostraram contra. A conclusão é de um levantamento elaborado em 26 de maio pelo instituto de pesquisa Datafolha e que foi encomendado pelo Greenpeace. A ONG adotou a luta contra este tipo de contratos, que segue a lógica inversa à aplicada ao resto dos consumidores, como uma das principais bandeiras durante a pior crise hídrica que enfrenta São Paulo nos últimos 84 anos.

Fonte: Datafolha e Greenpeace

As entrevistas questionam a avaliação dos paulistanos sobre os contratos em condições normais e na situação atual, com falta de água durante até 20 horas em todos os bairros da região metropolitana. A prática é qualificada como ruim ou péssima por 59% em condições normais, enquanto salta para 77% no momento atual. Ainda no cenário de crise hídrica, 12% dos entrevistados acreditam que os descontos na tarifa para grandes consumidores é uma ótima ou boa prática, percentual que chega a 24% em um cenário sem risco de desabastecimento.

A pesquisa

Técnica: A pesquisa foi realizada através de metodologia quantitativa, por meio de entrevistas pessoais e individuais em pontos de fluxo populacional, distribuídos geograficamente nas áreas pesquisadas, utilizando metodologia desenvolvida pelo Datafolha.

Universo: Moradores da cidade de São Paulo, com 16 anos ou mais.

Amostra: Foram realizadas 524 entrevistas.

Margem de erro: A margem de erro máxima para o total da amostra é de 4,0 pontos percentuais para mais ou para menos, considerando um intervalo de confiança de 95%.

“Essa é uma lógica insustentável por estimular o consumo irresponsável, e injusta, por beneficiar atores de grande poder econômico em detrimento da população”, afirma Pedro Telles, responsável pelas campanhas sobre Clima e Energia do Greenpeace Brasil.

Maioria culpa Governo Alckmin

A pesquisa também indaga sobre as responsabilidades na crise que levou os principais reservatórios de São Paulo a operarem no limite. Segundo o Datafolha, 82% dos entrevistados culpam o Governo de Geraldo Alckmin pela crise de abastecimento. Questionados se "o Governo do Estado de São Paulo é ou não culpado pela crise de abastecimento de água? É muito ou um pouco culpado?", 57% dos entrevistados o consideram muito culpado e 25% pouco culpado. Já 18% acreditam que o Governo não tem culpa.

Não é a a primeira vez que uma pesquisa mostra que o Governo Alckmin não é tão impermeável à insatisfação cidadã e que a crise hídrica está desgastando a percepção da gestão tucana. Um levantamento do Datafolha, divulgado em fevereiro deste ano, mostrou que a aprovação do governador tinha caído 10 pontos desde outubro do ano passado, quando foi eleito com 57,3% dos votos. Era a primeira vez, desde os protestos de junho de 2013, que Alckmin sofria uma queda tão significativa, de 48% a 38%. A taxa de reprovação à sua gestão bateu recorde nessa pesquisa e passou de 17% em outubro a 24% em fevereiro. No levantamento, onde foram realizadas 1.709 entrevistas, a crise de água foi citada espontaneamente por um quinto dos entrevistados como principal problema do Estado, superando a saúde. Dos entrevistados, 39% desaprovaram como o governador vinha conduzindo o problema.

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Perguntas e respostas

O que são os contratos de demanda firme?

O que mudou nos contratos diante a crise?

Por que a Sabesp é questionada?

São contratos assinados entre a Sabesp e consumidores industriais e comercias que consomem mais de 500 m³/mês (500.000 litros). Eles oferecem descontos tanto no preço da água como no tratamento de esgoto e visavam evitar que os maiores consumidores de São Paulo procurassem fontes alternativas de água, como poços e caminhões-pipa, e formassem parte da rede pública. Os contratos são específicos para cada cliente: as empresas são obrigadas a contratar um volume fixo de água e a companhia calcula qual será o preço aplicado. Até a chegada da crise, o cliente pagava o mesmo valor mesmo se o consumo fosse menor. Ou seja, economizar água não representava nenhuma vantagem econômica.

Embora tenha sido cogitado excluí-los, os clientes premium da Sabesp estão submetidos as multas por aumento de consumo, mas não recebem os bônus oferecidos por redução de consumo.

Foi liberado também o consumo mínimo de 500 m³ por mês, sendo que os contratos dos clientes que gastem menos que esse patamar não serão suspensos. Essa exceção, porém, só será considerada durante três meses, mas após esse tempo, a empresa será excluída do contrato.

Antes da crise, os contratos obrigavam a manter exclusividade com a Sabesp, mas a partir de fevereiro, a companhia permitiu também que os grandes clientes buscassem formas alternativas de consumo, o que levou a 70% deles a abrirem poços para o seu abastecimento.

Embora a Sabesp afirme que não estava assinando novos contratos em decorrência da crise, o Ministério Público tem informações de acordos até abril de 2015.

A Greenpeace focou suas ações durante a crise hídrica nos contratos de demanda firme. A organização, assim como outros coletivos e especialistas, pede a suspensão desses contratos como "um passo fundamental para o enfrentamento responsável da crise. Enquanto elas recebem esse estímulo para consumir mais, a população sofre com o racionamento não-declarado e dias sem abastecimento. Essa injustiça tem que acabar", afirma a ONG.

Outra das principais críticas feitas à companhia durante a gestão da crise é a falta de transparência. A primeira lista incompleta de clientes de demanda firme e seus respectivos consumos e tarifas foi publicada pelo EL PAÍS em fevereiro, mas a Sabesp não divulgou até hoje uma relação completa. Até na relação de dados mais detalhada, oferecida pela companhia, sempre falta, no mínimo, o nome dos clientes.

A Sabesp contestou a pesquisa. Em um comunicado, a companhia afirma que o levantamento induz o entrevistado a erro, gera conclusões equivocadas e distorce a realidade para criar factoide. "O erro está nas perguntas contratadas pela ONG. Por exemplo: não esclarece que os clientes de demanda firme pagam o valor médio de 10,50 reais por metro cúbico, sendo que para clientes residenciais o valor é de 2,30 reais", explica a Sabesp ignorando que o preço aplicado a estes clientes é muito inferior ao aplicado ao resto de consumidores comerciais e industriais. Ainda de acordo com o comunicado, a pesquisa "induz ao erro quando questiona sobre o culpado pela crise e põe como opção única o Governo do Estado".

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