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“Nós não cortamos a água, premiamos o bom comportamento”

Califórnia, nos EUA, enfrenta as primeiras restrições obrigatórias de consumo de água

Paula Kehoe, diretora da Comissão de Utilidades Públicas de San Francisco.
Paula Kehoe, diretora da Comissão de Utilidades Públicas de San Francisco.

Paula Kehoe é a Jerson Kelman, presidente da Sabesp, de San Francisco. A cidade da Califórnia (EUA), dependente das precárias reservas de água e neve, atravessa a quarta crise hídrica da sua história e o governador do Estado, Jerry Brown, acaba de decretar as primeiras restrições obrigatórias da história do Estado. O Governo pretende reduzir em 25% o consumo urbano, menos do que a economia conseguida em São Paulo em média nos últimos meses.

A Comissão de Utilidades Públicas, a Sabesp de San Francisco, é inteiramente pública e atende 2,6 milhões de pessoas. O tamanho dela está muito longe da abrangência da Sabesp que deve cuidar do consumo de 25 milhões de clientes na Grande São Paulo, e longe estão também algumas estratégias adotadas na crise. Na Califórnia, a obrigação de economizar água não é compulsória para todos. A exigência feita a cada município depende do seu consumo. Assim, o esforço cobrado é maior de quem economiza menos. Embora dois terços do consumo da água seja residencial, o Governo do Estado mais rico e populoso dos Estados Unidos está se focando em outros usos. “No caso de San Francisco, nosso foco está na irrigação e no uso de água potável para coisas supérfluas como o jardim ou a limpeza das calçadas”, afirmou Kehoe durante o seminário de Gestão da Água em Situações de Escassez, organizado pelo Ministério de Meio Ambiente.

Pergunta. Como a população tem reagido à obrigatoriedade de reduzir entre 10% e 35% do consumo?

No caso de San Francisco, nosso foco está na irrigação e no uso de água potável para coisas superfluas como o jardim ou a limpeza das calçadas

Resposta. Em 2014 já estabelecemos uma redução voluntária de 10%, não oferecemos bônus nem castigamos com multas. Os únicos que foram e são penalizados são os que gastaram mais água que o permitido na irrigação. A população respondeu bem porque nós sempre estamos nos jornais, em campanhas na televisão, fazemos audiências públicas... Hoje as restrições em San Francisco ainda são voluntárias porque temos um consumo baixo. É uma das cidades que menos gasta do Estado, não aumentou a demanda, e não vai precisar reduzir mais neste ano. As pessoas estão respondendo bem, então não temos por que puni-las.Os californianos entenderam que não tem chovido, não tem nevado, entenderam a gravidade da seca.

P. Como são tomadas as decisões em uma empresa pública? Quem manda, o governador ou os técnicos?

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R. O governador manda, o órgão regulador aprova e repassa as diretrizes para a companhia. No caso da redução do consumo obrigatória, o governador disse que havia que cortar e o conselho da companhia decidiu como devia ser aplicada esta redução de consumo e estabeleceu os percentuais de corte exigidos por município. Nem todos devem reduzir o consumo da mesma forma. San Francisco, por exemplo, não tem que cortar, mas há outros municípios que devem reduzir até 36%. Nós premiamos o bom comportamento dos consumidores.

P. Qual é o impacto econômico das medidas restritivas?

R. Nosso programa vai trazer uma perda de receita de 60 milhões de dólares até 2025. Isso é muito, mas é melhor ter um custo pela aplicação do programa de economia do que fazer investimentos ou comprar água fora. Acabamos de aumentar a tarifa, mas por projeções de longo prazo e não baseados na seca. Temos vendido propriedades para suavizar a situação econômica no curto prazo, mas provavelmente vamos ter que aumentar o custo fixo da produção de água [e revisar de novo a tarifa].

P. São Paulo mantém os chamados contratos de demanda firme que oferecem grandes descontos aos clientes que mais consomem. Existe algo parecido na Califórnia?

R. Os únicos contratos especiais que nós temos foram criados em 2009 para as 27 companhias que compram nossa água. Nós aplicamos várias tarifas conforme o consumo e quanto mais consomem mais pagam.

P. O que acha dessa fórmula?

R. Prefiro não opinar.

P. O que significa para um californiano a palavra “racionamento”?

R. Nós temos racionamento voluntário, quando o próprio cliente reduz seu consumo até um mínimo diário ou racionamento obrigatório, quando é determinada uma quantidade máxima para ser usada. Na crise da década dos 90 já tivemos racionamento para a população, hoje é só para a irrigação.

P. Existe a redução de pressão em San Francisco? Poderia ser uma alternativa?

R. Nós não cortamos a água. Poderia ser uma alternativa, mas só para os consumidores que não reduzem seu consumo. Poderíamos fazê-lo, mas não está nas nossas previsões.

P. O que sabe da crise hídrica de São Paulo?

R. Me interessa o conceito de bônus que aplica a Sabesp. Gostaria de saber mais sobre isso. Teremos várias reuniões nesses dias [na Sabesp, na Agência Nacional de Água...] para ver como podemos aprender com essa troca de experiências.

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