Aécio vive um inferno astral com a polarização da campanha
Depois dos boatos sobre a sua eventual renúncia, o tucano convoca coletiva para dizer que continua firme no jogo
Estava tudo desenhado para que o candidato do PSDB, Aécio Neves, capitalizasse os votos anti-PT e assim chegasse ao segundo turno com Dilma Rousseff, para então terminar com o reinado dela ao final de 2014. Tudo parecia bem encaminhado, inclusive com apoio e doações para uma campanha bem-sucedida. Na primeira etapa, Neves havia logrado levantar 8 milhões de reais, quase o dobro do seu então rival, Eduardo Campos (PSB), e um pouco menos que Rousseff, que conseguiu 9,6 milhões de reais. Era ainda o queridinho do mercado financeiro, pela clareza com que vinha apresentando suas propostas para resgatar a confiança e o crescimento do país.
Mas, a imagem do debate desta segunda-feira, onde Rousseff e Marina Silva, do PSB, assumiram o primeiro plano, travando uma guerra particular, mostrou que algo saiu do esperado. Neves respondeu a menos perguntas que no debate da semana passada, e ficou claramente na posição de coadjuvante, esperando uma oportunidade para fazer suas ponderações, sempre centradas em criticar o governo Rousseff. Quem esteve nos estúdios do SBT, onde a sabatina foi realizada, relatou que ao final do encontro Neves teve pouca atenção da imprensa, e alguns de seus correligionários saíram antes do encontro terminar
Boatos de uma eventual desistência já neste primeiro turno, segundo o jornal Valor, e ainda, interlocutores seus que já estariam negociando o apoio do partido a Marina Silva num segundo turno, fizeram o presidenciável convocar uma coletiva de imprensa nesta terça-feira para anunciar que continua firme no jogo. Ao lado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Neves afirmou que está confiante de que irá para o segundo turno, e que lutará “até o ultimo instante” para atingir esse objetivo.
O mal entendido começou com uma entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o senador Agripino Maia (DEM), coordenador da sua campanha, disse que o desejo era garantir a ida de Aécio para o segundo turno. “Se não for possível, vamos avalizar a transição para o segundo turno. Ou seja, com uma aliança com Marina Silva, por exemplo. É tudo contra um mal maior que é o PT”, segundo o jornal.
O assunto caiu mal, e Maia precisou soltar uma nota para esclarecer as declarações. “Todo o esforço que os partidos que apoiam a candidatura de Aécio realizam neste momento se volta para levá-lo ao segundo turno e temos a convicção de que nele estaremos”, escreveu Maia. “Alianças para o segundo turno serão discutidas quando o segundo turno vier, oportunidade em que esperamos contar com o apoio daqueles que, como nós, desejam mudanças”, afirma. Ele ainda reiterou a confiança de que o candidato é capaz de fazer o país “entender ser ele a melhor opção para a Presidência da República.”
Como ele, outros tucanos ouvidos pelo EL PAÍS refutam totalmente a hipótese de desistência da candidatura. O deputado Mendes Thame (PSDB-SP) diz que tudo continua como está. “Nossa perspectiva continua a mesma, falando o que pensamos para depois fazer o que a gente falou. Aécio não é vendedor de ilusões”, disse Thame.
Mas o fato é que não estava no script que Marina viesse a assumir a dianteira com a morte de Eduardo Campos, e passasse ela a capitalizar o desejo de tirar o PT do poder, reduzindo as chances de Neves chegar ao Palácio do Planalto. Nas últimas duas semanas, ele perdeu cinco pontos nas pesquisas eleitorais com a entrada de Marina.
Perdeu o posto de alternativa ao PT, e teria suas chances reduzidas por padecer de um estigma do PSDB, que está fazendo diferença a poucas semanas da eleição. Neves tem mais eleitores entre os que ganham mais de dez salários mínimos e mais escolarizados, ou seja, eleitores que em termos de quantidade são uma minoria no Brasil. Com um discurso centrado na eficiência do poder público e na política econômica adequada, o tucano tem dificuldade de falar com os mais pobres.
“A maior dificuldade de Aécio é dar um recado mais popular”, diz o cientista político Flávio Wanderley. “O PSDB depende de estratos mais altos, o que do ponto de vista político é uma estratégia precária”, afirma ele, uma vez que o partido não consegue fazer pontes com o eleitorado mais numeroso. Marina, por exemplo, entrou na disputa e conseguiu cativar rapidamente o brasileiro de baixa renda (até dois salários mínimos), que agora está dividido entre a candidata do PSB (31%) e a presidenta Rousseff (41%).
Wanderley acredita que a imagem de Marina, que nasceu pobre, fez rapidamente ela ganhar terreno nesse grupo, que representa 40% dos brasileiros que irão às urnas em outubro. Um eleitor que não se identifica com o PSDB.
Neves enfrenta, ainda, um quadro inesperado em Minas Gerais, Estado que governou por duas vezes, onde Dilma Rousseff aparece empatada tecnicamente com ele: 31% para a petista, e 34% para o tucano. Para piorar seu inferno astral, o candidato do PSDB a governador, Pimenta da Veiga, está em desvantagem (23%) diante do petista Fernando Pimentel (37%), segundo o instituto Ibope.
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