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As eleições presidenciais são cada vez mais um jogo entre Marina e Dilma

A petista e a candidata do PSB polarizam as pesquisas e os debates. O terceiro candidato, o mais conservador Aécio Neves, perde força

Antonio Jiménez Barca
Marina e Dilma, no primeiro debate eleitoral.
Marina e Dilma, no primeiro debate eleitoral.Miguel Schincariol (AFP)

A regra do debate era clara: qualquer candidato podia perguntar, de primeira, para qualquer outro. A primeira rodada coube a presidenta brasileira Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT), que não teve dúvidas em eleger seu alvo: a candidata Marina Silva, a recente rainha das pesquisas, a inesperada aspirante dos socialistas brasileiros depois da morte do líder do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Eduardo Campos, em um acidente de avião em 13 de agosto. E a presidenta disparou: “Como vai trabalhar para conseguir todo o dinheiro que necessita para cumprir todas as promessas que está fazendo?”.

A candidata Marina respondeu sem dar cifras mas apelando para um uso racional dos gastos (“faremos as eleições devidas, não elegeremos mal”). E Dilma contra-atacou insistindo no mesmo lado: “A senhora fala e fala mas não responde”. E assim o debate se transformou em uma espécie de duelo entre as duas pessoas que, segundo as sondagens, têm mais possibilidades de ganhar as eleições presidenciais brasileiras. Na última sondagem as duas mulheres apareciam empatadas no primeiro lugar. Na segunda, Marina estava na liderança.

Assim, o resultado das pesquisas e o desenvolvimento do debate televisivo mostra que, de fato, as eleições brasileiras cada vez mais são um jogo de duas pessoas. A polarização efetiva se tornou mais evidente com a atuação do terceiro na disputa, Aécio Neves, do mais conservador Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), que passou mais desapercebido e seu papel nestas eleições, marcadas pela fulgurante aparição de Marina, fica cada vez menor. Aécio, inexplicavelmente, não atacou Marina Silva de frente e centrou-se mais em sacudir Dilma Rousseff recordando-a da má situação da economia brasileira, atualmente em recessão técnica, isto é, dois trimestres consecutivos em retrocesso.

A candidatura de Aécio Neves, que até o surgimento de Marina Silva era o oponente direto de Dilma Rousseff, se divide. Não somente pelas sondagens nem por sua escassa relevância no debate (e no pós-debate: todas as manchetes da imprensa brasileira do dia seguinte aludem ao protagonismo das duas candidatas); mas também porque suas próprias fileiras começam a rachar, sintoma de que a candidatura flerta com o fracasso: o jornal econômico Valor assegura hoje que já existem membros de sua candidatura que aconselham Aécio a renunciar à presidência a fim de optar pela de Governador de Minas Gerais, seu feudo natural. E mais: um comentário do coordenador da campanha de Aécio Neves, Agripino Maia, além de gerar polêmica entre os seus por considerarem-no derrotista e inoportuno, é revelador de certo estado de ânimo no PSDB: “O sentimento que nos une é de chegar no segundo turno. Mas se isto não for possível, devemos ir já nos preparando para o segundo turno. Com uma aliança com Marina Silva, por exemplo. Tudo para derrotar o mal maior, que é o PT”.

Por outro lado, na candidatura de Dilma, segundo matéria de hoje do jornal O Globo, já se pensa somente em estratégias para frear a trajetória ascendente de Marina Silva, conscientes de que Aécio Neves tende a cair irremediavelmente.

É por isso que ontem, no debate, Dilma Rousseff se esqueceu de Aécio Neves e centrou todo seu ataque em tentar encurralar Marina, acusando-a de falta de concretude e de abrigar-se em discursos vaporosos, mais espirituais que pragmáticos. Os mesmos colaboradores de Rousseff são conscientes, segundo esta mesma informação, que essa espiritualidade é dificilmente atacável.

Marina Silva, do seu lado, imperturbável e serena durante todo o debate, criticou a, segundo suas palavras, miopia de Rousseff para enxergar seus próprios erros e a recordou dos fracos índices da economia brasileira, autêntico tendão de Aquiles para a presidenta.

Depois, Dilma perguntou sobre outro ponto fraco do programa de Marina, isto é, a exploração dos recursos petrolíferos em águas profundas do Brasil. Marina Silva voltou a responder sem comprometer-se, aludindo à exploração mas também ao fomento de outros tipos de energia menos poluidores e danosos, como a eólica e a solar. Dilma Rousseff voltou a bater no mesmo lugar, deixando clara sua postura diante da ambiguidade calculada de sua oponente. “Essas jazidas são riqueza para o país. São recursos para fomentar a educação e a saúde. A senhora não se compromete com nada. Seu discurso está cheio de frases genéricas”.

Com o debate já convertido em um duelo entre as duas, Marina Silva apelou para uma de suas mensagens-chave da campanha, a mudança “das velhas formas de fazer política” para uma “nova postura”. E censurou Rousseff por não assumir culpas: “Não é justo que diga que quando o país vai bem é porque a senhora trabalhou bem, e quando vai mal é por culpa da crise econômica dos outros países. O povo está pagando por seus erros, gente que não tem bons serviços e que há um ano saiu para as ruas para protestar por isso”.

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