_
_
_
_
_
CÚPULA DA AMÉRICA DO NORTE

Peña Nieto e Obama buscam melhorar a competitividade da região

A reunião dos líderes do México, Estados Unidos e Canadá começa nesta quarta-feira em Toluca

Um helicóptero Black Hawk sobrevoa a prefeitura de Toluca.
Um helicóptero Black Hawk sobrevoa a prefeitura de Toluca.YURI CORTEZ (AFP)

O presidente do México, Enrique Peña Nieto, escolheu Toluca, a cidade em que se formou como político, para acolher nesta quarta-feira a sétima cúpula dos Líderes da América do Norte. Participarão também os presidentes dos EUA e do Canadá, Barack Obama, e Stephen Harper, e um dos propósitos será redefinir o Tratado de Livre Comércio (TLCAN), em torno do qual se desenvolverão as reuniões dos três países com o objetivo de não perder a competitividade da região diante das novas alianças comerciais e políticas que estão se formando não só no hemisfério, mas em nível global.

A competitividade de América do Norte, o livre trânsito entre México e Estados Unidos e a reforma migratória são alguns dos temas que serão discutidos na Cúpula de Líderes de América do Norte, que vai começar em Toluca nesta quarta-feira. Os líderes chegam com a intenção de impulsionar o desenvolvimento econômico de América do Norte por meio do Acordo de Associação do Transpacífico (TPP, em sua sigla em inglês). O tratado é considerado a melhor estratégia para dar um novo impulso ao TLCAN, que neste ano completa seu vigésimo aniversário, mas tem um saldo insatisfatório. O próprio Obama, quando ainda era candidato, reconheceu que o tratado de livre comércio não beneficiava os trabalhadores norte-americanos e que seu primeiro pedido a Felipe Calderón, o presidente do México à época, seria uma revisão dele.

Os temas pendentes: A reforma migratória e Michoacán

Em sua primeira reunião com Peña Nieto no México, Obama afirmou que queria tirar o foco da questão das drogas, mas o tema da segurança vai fazer parte tanto da agenda da cúpula dos três líderes como da reunião bilateral que os presidentes mexicano e norte-americano terão também em Toluca. O México afirma que a violência em Michoacán não fará parte da pauta, mas os EUA manifestaram em várias ocasiões sua preocupação com a situação no Estado mexicano.

O secretário de Segurança Nacional, Jeh Johnson, está acompanhando Obama, em uma amostra de que, embora tente priorizar a coesão econômica, a segurança nas fronteiras e a evolução do Plano Mérida seguem tendo maior importância na relação bilateral. Os EUA mostraram interesse na cooperação judicial entre o México e Washington.

A reforma migratória, parada na Câmara de Representantes desde o verão passado, também vai fazer parte da agenda bilateral entre Peña Nieto e Obama. Ciente do interesse que a potencial nova lei tem no México, os EUA farão questão de enfatizar seus esforços em levar adiante uma lei que impulsione a economia do país e favoreça a competitividade regional. Neste sentido, a Casa Branca espera do Governo mexicano discrição e que não interfira no processo.

Em dados, a economia mexicana é a que mais foi favorecida pelo TLCAN. Ao menos assim indica um estudo de 2011 elaborado pela Reserva Federal (Fed) e pela Universidade de Yale. As exportações mexicanas cresceram 100% entre 1993 e 2005, enquanto as dos EUA e do Canadá subiram 30%. Além disso, 93% do faturamento do comércio exterior mexicano vêm do TLCAN. O México é o terceiro principal parceiro comercial dos EUA, depois do Canadá e da China.

Mas os críticos mexicanos do TLCAN sublinham que as promessas de que a assinatura do tratado traria uma melhoria na qualidade de vida dos mexicanos foram esquecidas. O México mantém a mesma porcentagem de pobres que há 20 anos: 47% em 1992; 48,8% em 2010 dados do governo.

Além disso, as reservas feitas pelos EUA e pelo Canadá ao México causaram atrasos (e em alguns casos retrocessos) no objetivo de fazer da região um mercado livre e sem restrições. Os EUA e o Canadá pedem visto aos cidadãos mexicanos. Um dos pontos mais importantes do acordo, o livre transporte de carga na fronteira dos EUA (a mais transitada do mundo) sofreu vários atrasos. E 70% da mercadoria que entra nos EUA do México percorre esse caminho.

As restrições de trânsito deveriam ter acabado em 2000, mas o empréstimo de 50 bilhões de dólares que os EUA concederam ao México para resgatar sua economia em 1994 atrasou o processo de integração. Mas os EUA acreditam que vão conseguir acelerar agora o programa de Trusted Traveler na região.

Nas últimas semanas, o secretário de Estado, John Kerry, e a secretária de Comércio, Penny Pritzker, defenderam a necessidade de apostar no TPP para reativar o TLCAN. “Será um componente crítico para avançar para uma nova fase pós-TLCAN”, disse Kerry. As reticências de muitos democratas de abordar o assunto do TPP em pleno ano eleitoral não parecem preocupar a Administração.

A competitividade mexicana, em especial em frente ao mercado chinês, foi favorecida pelos avanços do TLCAN. Um artigo na The Economist de 2010 afirmou que, embora as telhas chinesas e materiais de construção chinesas fossem mais baratas que as mexicanas, após pagar os impostos ficavam mais caras. O problema, afirma o ex-secretário de Fazenda mexicano Jaime Serra Puche, é que a economia interna não tira o mesmo proveito de suas exportações que outros países. Para cada dólar obtido em exportação, o México ganha $1,80. O Brasil, por exemplo, ganha $2,30.

70% da mercadoria que entra nos EUA do México ingressa por terra

O potencial do TLC, dizem economistas e empresários, não foi aproveitado ao máximo. A razão? “Faltam projetos nacionais de desenvolvimento do mercado interno, de promoção da produção e para implementar políticas para elevar o nível de vida”, afirma Víctor Suárez, diretor da Asociación Nacional de Empresas Comercializadoras de Productos del Campo. Desde o início de seu mandato em dezembro de 2012, o presidente Enrique Peña Nieto afirmou que as reformas econômicas que promove têm por objetivo aproveitar esta capacidade.

O TLCAN quintuplicou o comércio entre os EUA e o México, quase o dobro do que obtido por outros países. Mas ainda falta azeitar o acordo. Os três países mantêm tratados com a União Europeia negociados separadamente.

O Tratado de Livre Comércio da América do Norte foi o primeiro de 12 acordos similares que o México assinou nos últimos 20 anos. A economia mexicana, que tem convênios com 44 países, é uma das mais abertas do mundo. Cifras da Secretaria de Economia indicam que, graças a seus acordos, o México tem acesso a um mercado de 1 bilhão de consumidores, que representam 60% do PIB mundial. Mas isso, por enquanto, é só uma estimativa. A realidade, também baseada em dados da Secretaria, indica que 73% do comércio exterior mexicano é feito com os Estados Unidos.

O México é o terceiro sócio comercial dos EUA e do Canadá

Para impulsionar a competitividade, Washington tem o interesse de promover a integração comercial, energética e de segurança fronteiriça. Neste sentido, a melhoria das vias de transporte e da mobilidade de bens, serviços e pessoas é um ponto essencial.

Esta é a segunda visita do presidente Obama ao México na gestão de Peña Nieto. O encontro em território mexicano ocorre poucos meses depois, mas o palco mudou. Em maio do ano passado, o México mal havia entrado na rota de reformas de Peña Nieto. Embora ainda faltam as respectivas leis secundárias, a reforma energética é uma realidade, e isso foi saudado pela administração norte-americana.

Washington confia que a abertura a empresas estrangeiras da extração de poços de petróleo vai acelerar a reforma energética e vai possibilitar a autossuficiência. Neste sentido, espera-se que o Primeiro-ministro canadense pressione ao presidente norte-americano sobre a aprovação de um polêmico megaoleoduto do Norte de Canadá ao Golfo de México, um assunto, que, no entanto, foi esquecido da agenda pública da reunião trilateral.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_