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Em São Paulo, deixe-se contagiar pela nova efervescência paulistana

Há uma consciência cidadã crescendo na capital mais rica do país, o que ficou evidente nos protestos de junho. Siga a rota desses anfitriões para descobrir o melhor da cidade

Carla Jiménez
Visitantes no Mercado Municipal de São Paulo.
Visitantes no Mercado Municipal de São Paulo.Bosco Martín

Há muitas São Paulos que poderiam ser contadas, dependendo do narrador. Há a São Paulo fundada em 1554, que foi desbravada em seguida pelos bandeirantes, responsáveis por ampliar as fronteiras e descobrir novas rotas na região. Há a capital paulista dos mais abastados, que vai costurar a rota dos restaurantes de primeira classe, como o Fasano, o restaurante Skye, ou o badalado DOM, do chef Alex Atala. Ou a São Paulo estressada, porque os rios Pinheiros e Tietê continuam cheirando muito mal em dias de calor.

Mas há uma São Paulo ganhando forma, de um novo paulistano, o mesmo que alimentou a efervescência das ruas nos protestos de junho, que ficaram conhecidos mundialmente, quando a cidade mais rica do país aderiu à revolta nacional. O mesmo que invadiu as veias mais importantes da capital, como a avenida Paulista, ou a Faria Lima, gritando por mais justiça, e brigando por mais lazer, cultura e mais espaços públicos, numa terra que esteve sempre voltada para o próprio umbigo.

Trata-se de um cidadão mais indignado, que quer se apropriar da sua cidade, e romper com o clichê da São Paulo endinheirada e fria, para torná-la mais humana. É o mesmo que colheu assinaturas pelo Parque Municipal Augusta, cuja criação foi aprovada nesta semana, garantindo a preservação de uma área verde, em meio a um mar de edifícios na região central da metrópole. Que tem orgulho do Teatro Municipal, e da Sala São Paulo, do Mercado Municipal, e da estação de trem da Luz, e saberá que essas são indicações que os turistas vão gostar. É alguém que se embrenha nos museus da cidade, e se atualiza sobre as programações do Museu da Arte de São Paulo, ou as mostras do Museu de Imagem e do Som, e do Cinesesc, e que vai lhe dar dicas sobre as exposições e filmes em cartaz.

Esses paulistanos e paulistanas estão transtornados com os altos gastos com os estádios, mas vão usar do seu melhor inglês para tratar bem o turista, e gesticular ao máximo para complementar seu portunhol. É fácil reconhecer este paulistano, pois ele vai olhar nos seus olhos e lhe explicar que São Paulo é definitivamente uma cidade a ser descoberta. Se ao chegar aqui, os turistas se assustarem com os preços altos de tudo, saiba que esse paulistano será solidário e vai ajudá-lo a encontrar pontos onde o custo benefício é mais justo, e recomendar, por exemplo, o portal SPHonesta, com dicas de onde se pode comer mais em conta.

 Vai lhe apontar as rotas alternativas, e não vai se importar em guiá-lo até o seu destino. Vai lhe indicar os melhores horários para pegar o metrô, que é a alternativa de transporte mais adequada para se dirigir ao estádio do Itaquerão, onde aconterá a abertura da Copa do Mundo no Brasil, com o jogo Brasil versus Croácia, no dia 12 de junho. Trata-se da época fria na cidade que tem como temperatura média 19 graus Celsius o ano todo. Mas não estranhe se as suas blusas de frio ficarem na mala o tempo todo. Nem sempre o outono e inverno dão as caras em São Paulo… Em tese, as temperaturas podem chegar a 10 graus ou menos nesse período, mas muitos anos o inverno passou como se fosse apenas uma lenda por aqui.

Museu de Arte de São Paulo (Masp), na avenida Paulista.
Museu de Arte de São Paulo (Masp), na avenida Paulista.Bosco Martín

Os outros jogos do Itaquerão acontecem no dia 19 (Uruguai x Inglaterra), dia 23 (Holanda X Chile) e dia 26 (Coreia X Bélgica). O estádio fica a mais ou menos 20 quilômetros do centro da cidade, um pouco afastado dos circuitos de entretenimento, portanto os turistas apenas vão se deslocar para lá para ver os jogos. Na volta, é a hora de ir de encontro ao que a metrópole tem de melhor.

Nos finais de semana, é possível fazer uma viagem musical por variados gêneros. Começando por um chorinho, na praça Benedito Calixto, na tarde de sábado, até o jazz, no Jazz nos Fundos, à noite, terminando o domingo com um samba no Ó do Borogodó .

Esta é uma metrópole acostumada a receber grandes eventos, sede de circuitos internacionais de Fórmula 1, de megashows e de grandes eventos corporativos. O turismo de negócios em São Paulo, aliás, só faz crescer. Talvez por isso, mesmo sem ter praias como o Rio de Janeiro, temos uma boa infraestrutura hoteleira. São 42 mil quatros, só na capital, que chegam a 70 mil, se contamos as cidades num raio de 80 quilômetros, explica Caio de Carvalho, professor de gestão de negócios em turismo da Fundação Getúlio Vargas. O Rio por exemplo, tem cerca de 34 mil quartos.

Os preços das diárias, em junho do ano que vem, devem variar de 100 dólares a 500 dólares, dependendo do número de estrelas que se desejam. Mas para aqueles que querem gastar menos, vale ficar atento aos hostels, nos quais se gastam não mais que 25 dólares por pernoite.

Se optar por se locomover de táxi, os taxistas da capital paulista são personagens à parte. São fáceis para uma boa prosa, e se solidarizam na busca dos caminhos mais curtos. Muitos se cadastraram para serem encontrados facilmente pelos aplicativos de celular, como o 99taxis e o Easytaxi. Pode faltar o inglês para se comunicar, mas já estão tão tecnológicos, que dificilmente não terão GPS para colocar o endereço que você apresentar. Dia desses um passageiro esqueceu o iPad no carro e sem o contato para encontrá-lo, o motorista postou uma foto do aparelho no Facebook para devolvê-lo. Os paulistanos compartilharam o anúncio até achar o dono do tablet.

Reserve parte das suas economias para esses deslocamentos, pois com 1.521 quilômetros quadrados de área, em São Paulo tudo é distante. Para ter uma ideia das tarifas de cada viagem, o site http://www.tarifadetaxi.com/sao-paulo vai auxiliá-lo.

Tudo exige pesquisa ou uma boa conversa com os paulistanos. Este é o cidadão que se esforça para separar o lixo reciclável, que sai com uma sacolinha de plástico na mão para limpar o que seu cachorro suja, que lembra todos os dias que “gentileza gera gentileza”. São essas pessoas que estão fazendo esta cidade de 11 milhões de habitantes pulsar diferente, lembrando que a região mais rica do país precisa se tornar mais divertida, mais colorida, mais acolhedora. Se esta São Paulo lhe interessa, a passagem por bairros como Vila Madalena, e Pinheiros, na zona oeste da capital, ou os bares da rua Augusta, e da Praça Roosevelt, na região central, é obrigatória. Ali se encontrarão nas calçadas de seus bares, os paulistanos que estão cansados de reclamar que não somos o que deveríamos ser.

Se quiser comer, ele vai lhe explicar sobre os diversos imigrantes que formaram o caldo cultural paulistano, e que é possível dar a volta ao mundo só visitando os diferentes restaurantes da capital paulista. Ele pode também lhe indicar os endereços contemporâneos, como o Paribar, na República, http://www.paribar.com.br/, o Mestiço, nos Jardins, http://www.mestico.com.br, ou o Mocotó, na zona norte.

Dentre os moradores da cidade, há os que viajam constantemente a Londres, Nova York e Paris com o dinheiro economizado dos salários mais gordos do país. Eles estão cientes que muitos séculos de aprendizado separam as nossas vivências e o nosso aprendizado com o Velho Continente e que, portanto, é preciso se apropriar de São Paulo, ou simplesmente “ocupar São Paulo” e celebrar o que é a nossa cara. Também já viajaram para Machu Pichu de trem, e para conhecer a Colômbia, Buenos Aires ou Santiago, e gosta de aprender com os hermanos.

Ele fará o turista aprender rapidamente quando é melhor andar na rua sozinho, e vai ensinar os visitantes a tomar os cuidados básicos numa cidade que também é nervosa e mais violenta em determinados horários e regiões.

O paulistano de 2013/14 tem se tornado cada vez mais ativista, até por ser aficionado por redes sociais. Faz campanha pelos desabrigados da chuva, pelos animais abandonados, e se indigna por tudo que possa segregar a população. É essa São Paulo que vale a pena conhecer, que forma uma nova cultura que cresce na maior cidade brasileira. Já não são poucos os moradores da cidade que abandonaram seus carros para andar de ônibus, por exemplo, e aderiram à bicicleta, embora as ciclovias sejam muito recentes por aqui, o que exige cuidado redobrado com os motorizados.

Vendedor de frutas do Mercado Municipal de São Paulo.
Vendedor de frutas do Mercado Municipal de São Paulo.Bosco Martín

Os anfitriões de São Paulo vão ajudar você a descobrir a graça de comer numa banquinha de fruta, de caminhar pela avenida Paulista. Vai lhe contar ainda como fazer a rota das casas e museus modernistas, quando São Paulo vivia uma efervescência intelectual parecida, onde artistas tentavam quebrar o status quo em 1922. Ele certamente está no Facebook e vai adicioná-lo como amigo para marcar baladas e trocar as dicas do que está acontecendo na cidade. Como todos as metrópoles do mundo, temos as partes boas e as partes não tão legais. A pobreza ainda é presente em nossas vidas, e ainda doi ver pessoas dormindo nas calçadas. Há muita gente indiferente a essa miséria humana, mas o paulistano mais consciente está lutando para mudar isso. Não deixe de conhecer esta figura, pois certamente ele vai conduzi-lo ao melhor que há em São Paulo.

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