Júri condena Harvey Weinstein por estupro e crime sexual
Produtor de cinema é considerado culpado de duas das cinco acusações e evita prisão perpétua
Harvey Weinstein foi considerado culpado na segunda-feira de dois dos cinco crimes pelos quais foi acusado: crime sexual de primeiro grau (forçar uma mulher a praticar sexo oral) contra a assistente de produção Mimi Haleyi e estupro de terceiro grau à atriz Jessica Mann. A decisão do júri do primeiro e único processo criminal desde a origem do movimento Me Too absolveu o produtor de cinema das acusações de agressão sexual “predatória”, um termo legal usado para explicar que o crime faz parte da conduta natural do acusado. Estas acusações, pelas quais não foi considerado culpado, eram as mais graves e por elas corria o risco de prisão perpétua. O ex-chefão de Hollywood pode pegar até oito anos de prisão e aguarda um próximo julgamento em Los Angeles.
Nas poucas vezes em que Weinstein, de 67 anos, quebrou o silêncio para se referir às acusações, defendeu sua inocência. Neste julgamento, no qual não prestou depoimento, se declarou inocente das cinco acusações, alegando que as relações sexuais foram consentidas. O outrora aclamado personagem da indústria cinematográfica foi acusado de estuprar Mann em 2014 e forçar Haleyi a forçar o sexo oral em 2006. As cinco acusações que Weinstein enfrentou foram: uma por crime sexual de primeiro grau; duas por estupro, em primeiro e terceiro grau; e duas de agressão sexual “predatória”.
Quatro outras mulheres declararam no julgamento terem sido vítimas desse comportamento e cerca de vinte testemunhas as respaldaram. As que falaram contaram a estratégia do outrora dono da cidade das estrelas para conseguir fazer sexo com elas. O padrão de conduta era agendar uma reunião em seu hotel com a desculpa de contratá-las para um possível trabalho. Para elas, era o homem dos mil Oscars. Uma vez que estavam de portas fechadas, as violava à força, as tocava ou praticava sexo oral. “É assim que a indústria funciona”, disse a uma delas enquanto o rejeitava. Se todas as mulheres que afirmaram publicamente terem sido abusadas por Weinstein tivessem se aproximado do 15º andar do Tribunal Penal do Estado de Nova York, 90 supostas vítimas teriam comparecido.
A vida de Harvey Weinstein ―e da sociedade norte-americana― mudou em outubro de 2017. Duas investigações jornalísticas do The New York Times e da revista The New Yorker, que detalhavam os abusos sexuais cometidos pelo gigante de Hollywood a dezenas de mulheres, revelaram uma conduta criminosa disseminada na indústria. A resposta imediata nas redes sociais foi: “Eu também”. Vítimas de agressões sexuais dos mais diversos lugares do mundo se mobilizaram para conscientizar sobre esse flagelo, dando origem a uma nova era, a era do movimento #MeToo. Desde o aparecimento das primeiras declarações contra o produtor, mais de 90 mulheres quebraram o silêncio para denunciar que também sofreram abusos.
Em dois anos, Weinstein foi expulso da Academia de Hollywood, internou-se em um centro para tratar seu vício sexual, vendeu suas propriedades para financiar sua defesa, divorciou-se de Georgina Chapman, com quem esteve casado por uma década, e perdeu todo o respeito da indústria na qual um dia foi tão poderoso. "Adoro ser a porra do xerife desta merda de cidade”, chegou a gritar numa de suas legendárias festas em Los Angeles. Quando alguém o incomodava, fazia questão de deixar isso bem claro. “Sua vagabunda, quem você está achando que é”, disse ele à jornalista Rebecca Traister durante uma entrevista. O namorado de Traister, também repórter, não gostou do que viu e se meteu no meio. Weinstein o paralisou com uma chave no chão. Assim funcionava o mundo aos olhos do criminoso.
Weinstein enfrenta a uma pena de 5 a 25 anos de prisão pela acusação de agressão sexual em primeiro grau, e de 18 meses a 4 anos por estupro qualificado em terceiro grau. Este julgamento não será o último para o produtor. Em 7 de janeiro, o Ministério Público do distrito de Los Angeles apresentou quatro denúncias formais contra o produtor de cinema por duas agressões sexuais supostamente cometidas em fevereiro de 2013. Os dois supostos abusos aconteceram em dias consecutivos e em quartos de hotel na região de Los Angeles. Segundo a promotora distrital Jackey Lacey, as duas supostas vítimas revelaram os incidentes na época a outras pessoas.