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Cuba retira credenciais de jornalistas da agência Efe em Havana

As autoridades cubanas devolveram, horas depois, os documentos de dois dos cinco profissionais de imprensa envolvidos, após pedidos feitos pelo Governo espanhol

Cuba Efe
Dezenas de correspondentes durante coletiva de imprensa em Havana.Alejandro Ernesto Pérez Estrada (EFE)

O Governo de Cuba retirou no sábado, véspera da chamada Marcha Cívica pela Mudança, as credenciais dos jornalistas da agência espanhola Efe na ilha. Numa guinada que ninguém esperava, os responsáveis pelo Centro de Imprensa Internacional convocaram com urgência a equipe da agência atualmente registrada em Havana —três redatores, um fotógrafo e um cinegrafista— para comunicar que suas credenciais seriam retiradas, sem esclarecer se a decisão seria temporária ou definitiva. Neste domingo, horas depois da divulgação da medida, as autoridades cubanas recuaram e devolveram as credenciais a dois membros da equipe —um redator e um cinegrafista, após solicitações feitas pelo Ministério das Relações Exteriores da Espanha e por seu embaixador em Havana, Ángel Martín Peccis. A decisão ocorreu dois dias antes da chamada Marcha Cívica pela Mudança, convocada pela plataforma opositora Archipiélago para 15 de novembro e declarada ilegal pelo Governo cubano.

No mesmo lugar e na mesma hora em que o principal líder da plataforma Archipiélago, Yunior García, declarou sua intenção de marchar neste domingo para exigir uma mudança no país, a Universidade de Havana convocou uma “grande feira universitária”. O anúncio veio após o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, ter declarado na TV que o Governo estará “atento” e “preparado” para “defender a Revolução”. Não se sabe se García poderá desfilar ou não, se alguém o acompanhará ou se será detido, como o Governo avisou que aconteceria se ele saísse às ruas. Nesse clima de tensão, os acontecimentos evoluem rapidamente e de forma imprevisível.

Na Espanha, o Ministério de Relações Exteriores, União Europeia e Cooperação convocou o encarregado de negócios de Cuba na Espanha para pedir “explicações” pela retirada das credenciais dos jornalistas da agência Efe. Segundo informaram fontes diplomáticas à Europa Press, o encarregado de negócios, Eumelio Caballero Rodríguez —que atua como embaixador na ausência do atual chefe da legação, Ángel Martin Peccis— foi convocado “logo pela manhã” na sede da chancelaria. A Embaixada da Espanha em Havana também realizou pedidos “às autoridades cubanas para que devolvessem as credenciais aos jornalistas da Efe”, disseram as mesmas fontes.

“Vimos a informação. Estamos investigando e solicitando esclarecimentos às autoridades cubanas”, informou à Efe Nabila Massrali, porta-voz do alto representante para a Política Exterior da União Europeia, Josep Borrell. Segundo Massrali, a medida poderia significar uma “grave violação da liberdade de expressão”. A presidenta da Efe, Gabriela Cañas, pediu que o Governo cubano “reconsidere” sua decisão. “A Agência Efe é um órgão de comunicação social objetivo e responsável que tem informado sobre a ilha durante mais de 40 anos”, escreveu Cañas no Twitter. As autoridades não explicaram aos repórteres “o motivo exato” que os proíbe de exercer o jornalismo na ilha.

Pressões contra a marcha

Opositores e instituições ressaltaram a tensão vivida em Cuba na véspera da manifestação. O principal líder do movimento que promove a marcha, o dramaturgo Yunior García, emitiu na quinta-feira uma declaração dizendo que as pressões do Governo têm sido brutais e que, para evitar que o poder exerça violência contra os manifestantes, ou que estes sejam enviados à prisão por participar do protesto, havia decidido marchar sozinho em Havana.

Por sua vez, os bispos cubanos pediram numa declaração “mudanças necessárias” para melhorar a vida em Cuba e “indulgência” com os presos dos protestos de 11 de julho. Essa manifestação terminou com um morto, dezenas de feridos e 1.270 detidos, dos quais 658 permanecem na prisão, segundo a ONG Cubalex. Cada vez são mais numerosas as vozes, incluindo a de figuras revolucionárias como Silvio Rodríguez, que pedem a moderação e a libertação dos que não participaram de incidentes violentos.

O Governo cubano considera que o novo protesto é uma tentativa de desestabilização e acusou os organizadores de serem financiados pelos Estados Unidos. O presidente Díaz-Canel se referiu ao 15-N: “Criaram uma verdadeira auréola midiática para que o mundo espere o que acontecerá em Cuba em 15 de novembro”, afirmou “Isso não tira nosso sonho. Estamos tranquilos, seguros, mas atentos e em alerta, e preparados para defender a Revolução, para enfrentar qualquer ação de ingerência contra nosso país, sobretudo contra tudo o que atente contra a paz, a tranquilidade cidadã e a nossa ordem constitucional.”

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