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Esquerda latino-americana se reúne no México contra “ingerência imperialista”

Ex-presidente boliviano Evo Morales inaugura um seminário do Partido do Trabalho, dois anos depois de ser derrubado: “O México salvou a minha vida”

El presidente de México, Andrés Manuel López Obrador, recibe al exmandatario boliviano Evo Morales
O ex-presidente boliviano Evo Morales participou do Simpósio Internacional do Partido do Trabalho nesta quinta-feira na Cidade do México.Presidencia de México (EFE)
Francesco Manetto

A esquerda latino-americana se reúne a partir desta quinta-feira na Cidade do México em um seminário organizado pelo Partido do Trabalho (PT), uma formação que apoia o Governo de Andrés Manuel López Obrador, para debater e cerrar fileiras contra a “ingerência imperialista”. A programação, toda dedicada à relação entre os partidos e a sociedade, inclui dezenas de convidados de todos os continentes. A abertura do evento esteve a cargo de um protagonista que, depois de governar a Bolívia por mais de uma década, deixou de ser um símbolo do chamado socialismo do século XXI para se tornar um ícone da resistência à ultradireita. “O México salvou a minha vida”, disse o ex-presidente Evo Morales. E garantiu que esse agradecimento não é uma simples cortesia, pois, segundo seu relato, López Obrador e outros chefes de Estado da região, como o argentino Alberto Fernández, o acolheram quando era perseguido em seu país.

“Quando cheguei, não era para me congraçar com o presidente, com o Governo e com o povo mexicano que eu dizia que ele me salvou a vida. Realmente, irmãs e irmãos, o México e outros países salvaram a minha vida. O México não é somente minha casa, é a casa de todos que lutam pela libertação dos nossos povos”, enfatizou Morales, que na quarta-feira se reuniu com o chanceler Marcelo Ebrard para “agradecer esse gesto generoso” de acolhê-lo quando foi forçado a renunciar por militares, em 2019.

Nesta semana se completam dois anos das eleições que representaram o começo do fim para o ex-presidente. As acusações de fraude agitadas pela oposição e pela Organização dos Estados Americanos (OEA) desembocaram primeiro na renúncia e depois na saída de Morales por pressão da cúpula militar. Sob o risco de ser preso, ele deixou o país e passou alguns dias no México como asilado político antes de viajar para a Argentina. Assim começaram algumas semanas de convulsão e violência. A opositora Jeanine Áñez assumiu a presidência como chefa de um gabinete interino ultraconservador, que acabou se mantendo por um ano no poder com uma atitude abertamente revanchista. Em outubro de 2020, seu candidato perdeu as eleições para Luis Arce, seguidor de Morales, e desde março passado ela se encontra sob prisão preventiva, acusada de terrorismo e rebelião.

O líder indígena recorreu à sua história para exemplificar o que considera ser o fracasso da direita e das políticas neoliberais. “Depois do golpe do ano passado, a ditadura destroçou nossa economia”, afirmou em referência à gestão de Áñez. Morales defendeu o plano de retomada do crescimento do atual presidente e atacou os Estados Unidos, especialmente por sua política de sanções econômicas contra Cuba e Venezuela.

O ex-mandatário boliviano, entretanto, foi o representante do antigo eixo bolivariano mais tolerado por Washington, chegando a ser frequentemente elogiado por investidores estrangeiros. O seminário do PT mexicano reflete, por outro lado, um debate que situa todas as experiências da esquerda no mesmo terreno, quase sem matizes, em virtude do princípio de unidade frente às ingerências estrangeiras. De entrada, só estabelece uma diferença de peso: de um lado apresenta os “países de primeira linha que lutam contra a agressão imperial” —ou seja, Cuba, Nicarágua e Venezuela. De outro lado estariam os “países com Governos progressistas confrontados com a ingerência imperialista” —caso de México, Argentina, Bolívia e Peru. No terreno diametralmente oposto, finalmente, se encontram “os países com Governos de direita” e “as ofensivas neofascistas”.

Neste contexto, o conclave de dezenas de organizações de esquerda —sem que o Morena, partido de López Obrador, apareça entre os organizadores— haverá debates e palestras sobre a nova Constituição do Chile, a situação do Brasil e a campanha pela volta de Lula, a emergência econômica e a pandemia, a integração regional, a crise política em El Salvador, a conquista espanhola, o massacre estudantil de Ayotzinapa e a violação de direitos humanos na Colômbia. O ex-guerrilheiro Rodrigo Londoño, conhecido como Timochenko, foi justamente outro dos oradores da primeira jornada do seminário, que vai até sábado. O ex-líder das extintas FARC, assinante dos acordos de paz e atual presidente do partido Comuns, alertou contra “outro Governo de direita” com vistas às eleições do ano que vem e deixou claro que a guerra não pode ser o destino da Colômbia.

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