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Evo Morales regressa à Bolívia depois de um ano de exílio

O ex-presidente cruza a fronteira com a Argentina cercado por milhares de apoiadores e segue para Chimoré, a cidade de cultivo de coca onde ele cresceu

O ex-presidente Evo Morales é cercado por apoiadores ao cruzar a fronteira e regressar à Bolívia.
O ex-presidente Evo Morales é cercado por apoiadores ao cruzar a fronteira e regressar à Bolívia.Paolo Aguilar (EFE)

O ex-presidente Evo Morales retornou à Bolívia nesta segunda-feira, depois de 11 meses de exílio na Argentina. Cruzou a pé a ponte que liga a cidade argentina de La Quiaca à cidade boliviana de Villazón, onde milhares de apoiadores o esperavam. Estava acompanhado pelo presidente argentino, Alberto Fernández, que chegou à fronteira após participar, neste domingo, da posse do novo presidente boliviano, Luis Arce. A vitória do candidato do Movimento ao Socialismo (MAS), partido fundado por Morales, permitiu a volta do ex-presidente.

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Logo depois das eleições de outubro, que Arce venceu com 55% dos votos, um juiz suspendeu o mandado de prisão que o Governo interino de Jeanine Áñez emitira contra o ex-presidente. Pouco antes de cruzar a fronteira, Morales fez um breve discurso no qual relembrou a travessia dessa mesma ponte quando era criança e acompanhava sua família para trabalhar na colheita argentina de cana. “Venho de muito baixo e fui presidente pela unidade do povo boliviano”, explicou. E demonstrou alegria: “Eu sabia que voltaria para a Bolívia, mas não pensei que seria tão rápido. É um fato histórico”. Morales estava acompanhado por seu ex-vice-presidente, Álvaro García Linera, e dois ex-ministros de seu Governo.

Em Villazón estavam à sua espera milhares de jovens bolivianos que vieram recebê-lo, até mesmo desde a véspera. Eram camponeses, trabalhadores da colheita da folha de coca, mineiros com os capacetes de trabalho, indígenas com trajes típicos e militantes da esquerda argentina que ficaram horas ao lado de quiosques de comida e bebida, enquanto alguns grupos folclóricos apresentavam canções e danças típicas. “Vim porque o presidente Evo Morales Ayma defendeu as culturas nativas”, disse um indígena a um canal argentino. “Durante 500 anos nos pisotearam, agora é a hora de os povos indígenas nos governarmos para sempre”, acrescentou.

O presidente Arce não mencionou Evo Morales em seu discurso de posse no domingo. Supõe-se que não o fez por causa da animosidade que o líder do MAS desperta em uma parte da população boliviana, que o considera um “ditador” e questiona suas repetidas tentativas de se reeleger presidente. Contudo, Morales é muito querido nos setores populares e pretende demonstrar isso no percurso que fará nos próximos dias pelo sul da Bolívia. Seu destino final é Chimoré, uma cidade na área de cultivo de coca onde o ex-presidente viveu desde muito jovem e pretende continuar residindo no futuro.

Ele chegará a essa cidade na quarta-feira, 11 de novembro, exatamente um ano depois que um avião mexicano o retirou do aeroporto local para evitar que fosse detido pelos policiais amotinados contra seu Governo. No dia anterior tivera que renunciar à presidência, acuado pela combinação de uma paralisação nacional de atividades, bloqueios nas ruas das principais cidades, um motim policial e a “sugestão” das Forças Armadas de que deixasse o poder.

Em um vídeo filmado para se despedir da Argentina, o político boliviano agradece aos presidentes do México, Andrés López Obrador, e a Alberto Fernández: “Fizeram o impossível desde o início para me tirar com vida da Bolívia. Sem a ajuda deles a história seria muito diferente”. Também agradece o “apoio fundamental” do presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, e a solidariedade de outros chefes de Estado, incluindo o da Venezuela, Nicolás Maduro, e o de Cuba, Miguel Díaz-Canel. Morales registrou que a Argentina resistiu a inúmeras pressões externas “para que Evo não ficasse nesta terra”. Lembrou que muitos colaboradores e jovens ativistas de seu partido tiveram que se exilar com ele porque eram perseguidos pelo Governo interino. Outros ficaram trancados por um ano na residência do embaixador mexicano em La Paz, porque Áñez não quis conceder-lhes salvo-conduto para deixar o país. “O apoio dos irmãos argentinos às denúncias do povo boliviano contra o golpe, as violações dos direitos humanos e o papel nefasto da OEA foram fundamentais para revelar o estado de não direito que se montou em meu país”, afirma no vídeo.

A Organização dos Estados Americanos (OEA) denunciou como fraudulentas as eleições de outubro de 2019, vencidas pelo MAS, o que desencadeou a crise política que culminaria na derrubada de Morales. O ex-presidente afirma que “a Bolívia recuperou a democracia hoje a um custo altíssimo, pela perda de vidas, os feridos, os detidos e os injustamente perseguidos, e o sofrimento de milhares de famílias”. Por fim, ele se despede dos argentinos: “Uma parte do meu coração fica na Argentina para sempre. Vou continuar lutando pela Pátria Grande, a democracia, os direitos do povo e a defesa de nossos recursos naturais”.

Evo Morales chegou a La Quiaca por estrada, vindo de Jujuy, onde pousou em um avião da Força Aérea Argentina que o buscou em Buenos Aires. Ele aproveitou a parada para visitar Milagro Sala, uma polêmica ativista que está em prisão domiciliar acusada de desvio de fundos de sua organização de assistência social, mas que a esquerda argentina considera uma “presa política” punida por sua rebelião contra os poderes locais. “Jallalla [parabéns, em aimará e quéchua] Evo Morales”, gritou Sala na entrevista coletiva dos dois líderes indígenas.

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