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Apuração oficial na Bolívia confirma vitória de Luis Arce com 55,1% dos votos

Candidato do ex-presidente Evo Morales ganha em primeiro turno com uma vantagem superior a 26 pontos sobre o principal adversário, Carlos Mesa

Seguidores do MAS comemoram a vitória de Luis Arce na cidade de El Alto, em 19 de outubro.
Seguidores do MAS comemoram a vitória de Luis Arce na cidade de El Alto, em 19 de outubro.RONALDO SCHEMIDT (AFP)
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Após longos quatro dias de apuração, o Tribunal Eleitoral da Bolívia apresentou os resultados definitivos das eleições de domingo passado. Luis Arce, do Movimento ao Socialismo (MAS), obteve uma vitória inclusive maior do que a prognosticada pelas apurações rápidas. Com 55,1% dos votos, ficou 26,3 pontos à frente do seu adversário mais próximo, Carlos Mesa, que teve 28,8%. O direitista Luis Fernando Camacho triunfou em Santa Cruz, a região mais rica e a segunda mais densamente povoada do país, o que lhe permitiu reunir 14% da votação nacional.

Arce já era tratado como presidente eleito vários dias antes do anúncio do resultado oficial, pois a maior parte dos políticos bolivianos —com a chamativa exceção de Camacho— reconheceu sua vitória já na segunda-feira. O tribunal foi criticado pela demora na apuração e por ter sido incapaz, pouco antes da votação, de lançar o sistema de apuração rápida que havia prometido. O sistema anterior tinha sido desmantelado logo depois da anulação das eleições de 2019 por suposta fraude.

Com estas cifras, o MAS obtém a maioria absoluta em ambas as câmaras da Assembleia Legislativa Plurinacional, mas não os dois terços que teve entre 2009 e 2019. Isto não limitará sua capacidade de atuação, por exemplo, na hora de aprovar o novo imposto sobre grandes fortunas com o qual Arce quer financiar uma parte de seu plano de recuperação após a crise econômica causada pela pandemia. Contar com dois terços de votos só é necessário para nomear algumas autoridades do Estado sem a participação de outras forças políticas. Entretanto, os presidentes da maior parte dos governos democráticos bolivianos preferiu designar essas autoridades de forma interina, para que eles mesmos pudessem nomeá-las.

No Senado, que é eleito por território e população, Arce terá 21 representantes, Mesa terá 11, e Camacho contará com 4. Arce ganhou em 6 dos 9 departamentos (regiões) da Bolívia; Mesa em 2, e Camacho em 1. Na Câmara de Deputados, com um total de 130 assentos, 73 formarão a bancada do MAS, 41 parlamentares serão aliados de Mesa, e 16 de Camacho.

Arce obteve uma votação sete pontos percentuais superior à dada em 2019 a Morales, o histórico líder do MAS, embora inferior a outros resultados prévios do ex-presidente. As comparações sobre as distâncias e semelhanças envolvendo os dois políticos e as especulações sobre o relacionamento que manterão nos próximos cinco anos inundam a imprensa local. Enquanto isso, o presidente eleito prepara seu Gabinete em meio a múltiplas pressões por cargos por parte das organizações sindicais integradas ao MAS.

Ninguém na Bolívia previu um resultado tão contundente, que causou perplexidade entre os que se opõem mais fervorosamente ao MAS. Após um ano em que a esquerda foi alvo de perseguições judiciais, denúncias midiáticas e desprezo social dos setores mais altos da população e dos políticos de outras correntes, supunha-se que ela estava debilitada e não era majoritária. Aparentemente, e de acordo com algumas análises publicadas na imprensa, esta mesma situação de adversidade potencializou seu compromisso, unificou suas fileiras e lhe permitiu voltar a dominar o cenário.

Nos últimos dias houve protestos espontâneos nas cidades de Santa Cruz e Cochabamba para pedir a anulação da votação e repudiar as autoridades eleitorais. Centenas de manifestantes se reuniram perto dos centros de apuração para criticar o fato de o MAS ter sido autorizado a disputar eleições. Argumentavam que o partido esquerdista deveria ter sido eliminado pela fraude que supostamente organizou em 2019.

Os participantes desses protestos são extremistas de direita que defendem diversas teorias conspiratórias. Somente Camacho e o Comitê Cívico Pró-Santa Cruz não os desautorizou. O comitê, que tem muita influência nesta região fronteiriça com o Brasil, baluarte da oposição ao MAS, exigiu que o Tribunal Eleitoral prove que as eleições foram limpas. Outras personalidades da centro-direita e da direita, por sua vez, pediram a Camacho e seus seguidores que “reconheçam a derrota” e se mantenham no âmbito democrático. Todos os organismos internacionais que enviaram missões de observação eleitoral à Bolívia emitiram uma mensagem de respaldo ao trabalho das autoridades eleitorais.

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