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Alex Saab, suposto testa de ferro de Maduro, é extraditado aos EUA após 16 meses em Cabo Verde

O empresário colombiano, apontado como operador financeiro do Governo da Venezuela, partiu neste sábado num avião norte-americano rumo à Flórida

Florantonia Singer
Imagem do passaporte de Alex Saab, cuja extradição foi solicitada pelos Estados Unidos.
Imagem do passaporte de Alex Saab, cuja extradição foi solicitada pelos Estados Unidos.

A extradição do empresário colombiano Alex Saab, apontado pelos Estados Unidos como suposto testa de ferro do líder chavista Nicolás Maduro, foi concretizada. Na tarde deste sábado, jornais de Cabo Verde, onde ele estava detido desde 12 de junho de 2020, informaram que Saab havia partido num avião norte-americano da ilha de Sal, onde cumpria desde janeiro uma medida de prisão domiciliar, rumo à Flórida. Ali enfrentará um julgamento por suposta lavagem de dinheiro vinculada com o Governo venezuelano. Fontes do escritório que defende Saab, liderado pelo espanhol Baltasar Garzón, confirmaram ao EL PAÍS na tarde deste sábado que seu cliente havia sido “levado aos EUA sem notificação do Tribunal Constitucional à defesa”. “Estamos avaliando esse atropelo ao processo legal e emitiremos um comunicado oficial o mais breve possível”, completaram.

Por sua vez, o Governo de Nicolás Maduro denunciou em nota o “sequestro” de Saab “por parte do Governo dos EUA”, em cumplicidade com as autoridades de Cabo Verde, que o torturaram e mantiveram prisioneiro arbitrariamente durante 491 dias, sem ordem de captura nem o devido processo”, uma informação que atribuíram à família do empresário. Nos últimos meses, o chavismo empreendeu uma intensa campanha em defesa do colombiano, que, após sua detenção, foi designado diplomata. Saab operava como enviado especial, mas numerosas investigações jornalísticas descrevem a extensa rede de empresas fantasmas com as quais fazia negócios com a Venezuela, em áreas como alimentação, petróleo, carvão, construção e mineração. Saab, que se tornou o principal provedor dos CLAP, um programa de alimentos subsidiados criado por Maduro em 2015, transformou-se, com a chegada das sanções, num importante operador financeiro de Maduro e seu Governo.

Em 2019, Saab foi incluído na lista negra do Departamento do Tesouro, juntamente com sócios e familiares que integram a estrutura de corrupção. Naquele mesmo ano, foi imputado em seu país por delitos de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, enriquecimento ilícito, exportações e importações fictícias e fraude agravada. Desde 2018, é foragido da Justiça colombiana, com uma ordem de captura por não atender a nenhuma intimação judicial. Seus negócios também têm sido investigados no México.

Em Cabo Verde, sua defesa construiu um labirinto de recursos judiciais para evitar que um homem que sabe muito sobre Maduro e sobre a dezena de funcionários venezuelanos sancionados fosse entregue à Justiça dos EUA. Seus advogados conseguiram dilatar o processo durante 16 meses. O empresário declarou à imprensa que é um perseguido político e que não colaborará com os EUA com as informações que, acredita-se, ele poderia ter para consubstanciar acusações contra altos funcionários do chavismo.

Na Venezuela, Saab empreendeu uma intensa estratégia de recursos, campanhas em meios de comunicação e assédio digital contra Roberto Deniz, jornalista do portal de investigação Armando Info, que desde 2016 tem revelado os negócios do colombiano. A sexta-feira teve seu auge na véspera da extradição. Uma comissão policial cumpriu mandado de busca na residência de familiares do jornalista em Caracas, e o Ministério Público venezuelano emitiu uma ordem de captura contra Deniz, que está exilado na Colômbia desde 2018, após Saab ter processado Deniz e outros três colegas fundadores do portal —Ewald Sharfenberg, Alfredo Meza e Joseph Poliszuk, também no exílio— por difamação agravada e continuada. Na época, ele negava ter vínculos com Maduro.

Já o Governo da Venezuela somou aliados para a defesa de Saab e o transformou em assunto geopolítico. No último encontro entre a oposição e o chavismo, no contexto das negociações no México, o Governo pediu a incorporação de Saab à mesa e realizou um protesto em rejeição à sua detenção. A Rússia defendeu o empresário, afirmando que sua libertação é fundamental para alcançar acordos no México. No comunicado emitido neste sábado pelo Governo da Venezuela, as autoridades desse país lembram papel que atribuíram a Saab, repudiam a “grave violação dos direitos humanos contra um cidadão venezuelano investido como diplomata” e dizem que seu traslado aos EUA atenta também “contra o bom desenvolvimento das negociações”.

A extradição de Saab por parte do Governo de Cabo Verde ocorre apenas um dia antes da realização do primeiro turno das eleições presidenciais deste domingo no arquipélago africano.

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