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ONU alerta que a crise climática se acelera após redução nos confinamentos da pandemia

Emissões de gases do efeito estufa estão aumentando rapidamente, e nos setores da energia elétrica e indústria já se encontram no mesmo nível ou superior ao observado em 2019, aponta relatório

Chaminés de uma central termoelétrica a carvão em Nantong, na China.
Chaminés de uma central termoelétrica a carvão em Nantong, na China.AP
Manuel Planelles
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Não houve uma recuperação verde nem tampouco um “crescimento mais ecológico”. Pelo menos não até agora. É o que indica o relatório de conjuntura sobre a crise climática que várias agências vinculadas às Nações Unidas divulgaram nesta quinta-feira. A pandemia e os planos para a recuperação econômica depois da paralisação mundial em 2020 haviam sido vistos como uma oportunidade de tentar reverter o desastre ecológico causado pela ação humana devido ao contínuo aumento das emissões de gases de efeito estufa, vinculadas principalmente ao uso do petróleo, carvão e gás natural. Mas, como destaca a ONU, “não há indícios de um crescimento mais ecológico: as emissões de dióxido de carbono [o principal dos gases de efeito estufa] estão aumentando rapidamente outra vez após uma diminuição passageira devida à desaceleração da economia” decorrente dos confinamentos e outras restrições por causa da pandemia de covid-19.

Além disso, as Nações Unidas advertem que “as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera se mantêm em níveis sem precedentes e condenam o planeta a um perigoso aquecimento futuro”. O relatório apresentado nesta quinta-feira se intitula Unidos na Ciência e coincide com a reunião da Assembleia Geral da ONU, que acontece todos os meses de setembro em Nova York.

É a terceira edição deste relatório, e desta vez há dois protagonistas: a frustrada recuperação verde e o novo estudo do IPCC, o painel internacional de cientistas de referência para assuntos climáticos, que anunciou suas mais recentes conclusões em agosto. Entre elas, a ONU ressalta que atualmente “o aumento das temperaturas em nível mundial já provoca fenômenos meteorológicos extremos devastadores em todo o planeta, com efeitos cada vez mais graves nas economias e as sociedades”. Além disso, o aquecimento gerado pela humanidade vem causando mudanças “sem precedentes nas últimas centenas ou inclusive milhares de anos”, e alguns desses efeitos, como o aumento do nível do mar, não têm como ser interrompidos, mesmo que as emissões diminuam.

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A pandemia levou a uma queda histórica nas emissões de gases de efeito estufa pela atividade humana em 2020, mas depois veio uma retomada igualmente notável dessas emissões. “De acordo com algumas estimativas preliminares, entre janeiro e julho de 2021 as emissões mundiais nos setores da energia elétrica e indústria já se encontravam no mesmo nível ou em um nível superior ao observado durante o mesmo período de 2019, antes da pandemia”, afirma o relatório apresentado nesta quinta.

António Guterres, secretário-geral da ONU, afirmou nesta quinta-feira que “a não ser que haja reduções imediatas, rápidas e em grande escala nas emissões de gases de efeito estufa, não poderemos limitar o aquecimento global a 1,5 graus”. Limitar o aumento da temperatura a uma faixa de 1,5 e 2 graus Celsius em comparação à era pré-industrial era o objetivo estabelecido em 2015 no Acordo de Paris. Mas, cinco anos depois da assinatura desse tratado, o rumo das emissões globais não corresponde ao que seria necessário para cumprir esses objetivos.

“A crise gerada pela covid-19 oferece apenas uma redução de curto prazo das emissões mundiais. Não haverá uma diminuição considerável das emissões daqui até 2030, a menos que os países tratem de conseguir uma recuperação econômica que inclua uma descarbonização profunda”, propõe o novo relatório. A ONU elogia que um grande número de países —responsáveis por 63% das emissões mundiais— tenham se comprometido a zerar seu saldo de emissões até 2050. Mas adverte: “Para que estes objetivos continuem sendo viáveis e críveis, precisam ser refletidos com urgência em políticas de curto prazo” e nos planos de redução de emissões para esta década, não para meados do século.

O secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Petteri Taalas, observou em nota que “durante a pandemia escutamos que precisamos reconstruir para melhorar, a fim de traçar um caminho mais sustentável para a humanidade e evitar os piores efeitos da mudança climática na sociedade e nas economias”. “Neste relatório”, prossegue ele, “destaca-se que, até este momento, em 2021 não avançamos na direção correta”.

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