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“Os talibãs começaram a ir de casa em casa à procura das mulheres ativistas”, denuncia Humira Saqib

Medo dos islamistas já está mudando a maneira de agir das mulheres no Afeganistão

A jornalista afegã Humira Saqib.
A jornalista afegã Humira Saqib.Free Women Writers
Ángeles Espinosa
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Internally displaced Afghan women, who fled from the northern province due to battle between Taliban and Afghan security forces, gather to receive free food being distributed by Shiite men at Shahr-e-Naw Park in Kabul on August 13, 2021. (Photo by WAKIL KOHSAR / AFP)
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“Os talibãs começaram a ir de casa em casa à procura das mulheres ativistas”, afirma a conhecida jornalista e defensora dos direitos da mulher Humira Saqib, que com seus 41 anos lembra nitidamente das sevícias cometidas pelos extremistas contra as afegãs durante sua ditadura (1996-2001). Sua denúncia contrasta com as mensagens de tranquilidade emitidas pelos porta-vozes talibãs. Ela não acredita. Como muitas outras mulheres, optou por se esconder. “As ativistas estamos escondidas aqui, nos escondemos em casas de amigos e familiares e não podemos sair [na rua] pelo risco que corremos”, resume Saqib em uma rápida troca de mensagens.

Não é paranoia. Em meados de julho, os islamitas sequestraram Zahra Jalal, a representante da província de Khost na Rede de Mulheres em Governança Urbana. Outra ativista, Maryam Durrani, escapou de Kandahar, onde promovia a educação das meninas, pouco antes da cidade cair nas mãos dos islamitas. Desde o começo do mês havia recebido várias mensagens que a alertavam de que sua vida estava em perigo.

“Os talibãs assediam e ameaçam regularmente as mulheres nas regiões que controlam”, diz a Femena, uma rede de apoio às feministas do Oriente Médio e Ásia. A organização coletou a assinatura de 1.200 ativistas afegãs e iranianas pedindo proteção aos civis, assim como o reconhecimento das afegãs como cidadãs em igualdade de condição com os homens.Existe um temor estendido entre as mulheres (e os jovens) de que os talibãs acabarão com as liberdades civis das que desfrutavam desde 2001. Os porta-vozes da milícia enviam sinais contraditórios: não escondem que seu objetivo é instaurar um regime governado pela lei islâmica (sharia), mas mantêm a ambiguidade sobre o acesso à educação e ao trabalho das mulheres.

”Dizem que vamos trabalhar e estudar, que levaremos uma vida normal, mas em Herat não deixam que as mulheres e as jovens compareçam às universidades”, diz Saqib. De fato, várias estudantes relataram nos últimos dias como as impediram de entrar nos prédios universitários. Também há depoimentos de funcionárias que foram proibidas de entrar em seus trabalhos. Mas até agora os barbudos não cortaram a internet (quando governaram, proibiram a televisão e o cinema) e também não impuseram a obrigatoriedade de que as mulheres só possam sair à rua cobertas com uma burca e acompanhadas por um homem de sua família, como à época. Muitas, como Saqib, temem que seja questão de dias.

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De fato, o temor de que mudem as regras já está induzindo a tomar medidas. Por enquanto, algumas preferem não se arriscar fora de casa e se o fazem, adotam uma vestimenta mais conservadora, evitando as cores chamativas. Outras, como A.I., temem que precisarão abandonar sua paixão pela música e o esporte. Mas o ambiente começa a ficar nublado: em algumas redes de televisão substituíram as populares séries indianas e turcas por outras islâmicas.

A presidenta da Comissão Independente de Direitos Humanos, Shahrzad Akbar, lembrou no Twitter que “funcionários, empregados do Governo, ex-militares, jornalistas, mulheres ativistas, defensoras dos direitos humanos, juízes e promotores, pessoas que trabalharam com forças estrangeiras, todos têm medo porque apesar de ser civis, todos foram alvo de ataques dos talibãs”. Por isso, pediu à milícia que, “agora que suas forças tomaram Cabul, se responsabilize pelas vidas das pessoas”.

Saqib, por sua vez, pede aos outros países que “trabalhem para salvar as vidas das ativistas, das defensoras dos direitos humanos e das jornalistas”. De seu esconderijo em algum lugar de Cabul também defende que “não desperdicem 20 anos de avanços e deem às pessoas uma garantia internacional de que suas vidas serão protegidas”.

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