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Qualquer um poderá ser presidente do Peru

Seis candidatos estão embolados na liderança 48 horas antes das eleições e nenhum deles ultrapassa 13% nas pesquisas de intenção de voto

Elecciones Perú candidato Pedro Castillo
O candidato Pedro Castillo, na quinta-feira, no encerramento da campanha. / GIAN MASKO / EFEGian Masko (EFE)
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Peru's presidential candidates Yonhy Lescano of Accion Popular party, Daniel Salaverry of Somos Peru party, Julio Guzman of Partido Morado party, Rafael Santos of Peru Patria Segura party and Rafael Lopez Aliaga of Renovacion Popular party are seen on stage after participating in a presidential candidates debate, in Lima, Peru March 31, 2021. REUTERS/Sebastian Castaneda/Pool
Grande incerteza no Peru com cinco candidatos empatados a uma semana das eleições presidenciais

É a hora dos outsiders. Ou os supostos outsiders. Em um Peru, com partidos tradicionais inexistentes e uma encruzilhada de siglas impossível de memorizar, qualquer um pode ser o próximo presidente do país. Seis candidatos estão embolados na liderança em todas as pesquisas, faltando 48 horas para a eleição presidencial, com quase um empate técnico. Nenhum deles ultrapassa 13% das intenções de voto. Entre eles está a líder do fujimorismo, investigada por corrupção e que promete “mão de ferro”, o celibatário que se denomina Porky e se confessa apaixonado pela Virgem, o professor e sindicalista que promete derrubar o Tribunal Constitucional e o conservador que tornará ministro um veterinário peruano que testou uma suposta vacina contra a covid-19 em animais, sem nenhum controle sanitário. O segundo turno, em junho, será disputado pelos dois que conseguiram que seu punhado de votos neste domingo seja um pouco superior ao dos concorrentes. “Terrível” é a palavra que os peruanos mais repetem nos últimos dias.

As pesquisas mostram resultados tão próximos entre seis candidatos que a margem de erro é maior do que a distância entre eles. A única certeza é que no próximo domingo tudo pode acontecer. E o que acontecer será diferente do que teria acontecido há uma semana ou do que aconteceria na próxima. Nenhum candidato conseguiu despertar qualquer tipo de paixão em um eleitorado que assiste atônito ao baile de nomes que as pesquisas apontam. Nos últimos dias todos começaram a olhar para Pedro Castillo, que há cinco dias não alcançava 5% dos votos e agora está em segundo lugar, atrás de Keiko Fujimori. Castillo, um professor de 51 anos que faz campanha com um chapéu de aba larga típico da região andina onde cresceu, ficou conhecido em 2017 por liderar protestos contra avaliações periódicas de professores. Em Lima, onde residem 8,5 dos 32 milhões de peruanos, o professor, considerado de esquerda radical, mal supera os 4% das intenções de voto.

Até duas semanas atrás, todos teriam apostado que Yonhy Lescano, o líder populista do centro, estaria no segundo turno, mas suas chances foram esvaindo-se. “Todos os candidatos são muito fracos. Todos começam a subir em algum momento e, quando isso acontece, os outros começam a atacá-lo e o desinflam”, explica o cientista político e professor da Pontifícia Universidade Católica Martin Tanaka. Em meio ao desencanto generalizado, a última decisão estará nos nichos de votos. Uma janela de oportunidade que está sendo aproveitada por Keiko Fujimori, líder por um porcentual mínimo nas últimas pesquisas e que dois meses atrás ninguém apontava como candidata promissora.

Os irredutíveis do fujimorismo podem definir o futuro do país, mais uma vez, apesar de serem cada vez em número menor e começarem a se voltar para novas opções conservadoras devido ao desgaste político de sua líder, mergulhada em um processo de corrupção pelo qual o Ministério Público pede 30 anos de prisão para ela. A opção gera medo em mais da metade do eleitorado, que rejeita totalmente sua figura e afirma que nunca votaria nela. Mas mesmo que a duras penas ela ultrapasse os 10%, isso pode ser suficiente para ir a um segundo turno pela terceira vez [nas duas anteriores, acabou perdendo].

Para entender o porquê de tão excepcional situação é necessário fazer uma revisão dos últimos cinco anos da política peruana. Em 2016, os tentáculos do caso de corrupção da Lava Jato fizeram o Peru estremecer quando foram descobertas as operações ilegais entre a construtora Odebrecht e os governos peruanos entre 2005 e 2014. Os ex-presidentes Alejandro Toledo, Alan García e Ollanta Humala ficaram encurralados. García suicidou-se com um tiro na cabeça quando estava para ser preso em 2019. O ex-presidente Pedro Pablo Kuczynski também estava envolvido. Nesse mesmo período, Keiko Fujimori ficou presa por três meses e agora continua a campanha em liberdade condicional por financiamento ilegal. E o mesmo destino tiveram outras autoridades eleitas, de prefeitos de Lima a parlamentares, mergulhados em uma corrupção sistêmica. “Quem elegemos, acaba na prisão”, diz a jornalista Rosa María Palacios.

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Os partidos tradicionais tampouco desempenham um papel real nas eleições, em meio a um mar de siglas criadas ad hoc para os candidatos do momento ou que abraçam um determinado líder apoiado por grupos dos mais variados interesses. Sem bases, sem militância, sem ideologia ou aparato. “O pouco de política institucionalizada que havia se pulverizou nos últimos anos e personagens totalmente improvisados e aventureiros acabam sendo os protagonistas”, diz Tanaka. Outras forças políticas com estrutura mais forte, como a esquerdista Verónika Mendoza, que também tem chances, não conseguem decolar. Em parte, pelos contínuos ataques de candidatos conservadores, que a vinculam ao chavismo, em parte pelo que os analistas consideram como falta de conexão com as expectativas da sociedade. “As pessoas estão muito irritadas e neste contexto de polarização os candidatos antissistema estão crescendo fortemente”, explica Alfredo Torres, presidente do instituto de pesquisas eleitoral Ipsos Perú.

Na reta final das urnas, o país segura a respiração. O porcentual dos que optam por votar em branco continua alto, chegando a 28%, de acordo com as pesquisas. O cientista político Tanaka resume o sentimento de muitos: “Passei os últimos 15 anos dizendo que tínhamos um problema muito sério. Mas acontece que nos últimos 15 anos éramos a Inglaterra, isto agora é pior do que poderíamos imaginar, é o nível zero de representação”.

Uma eleição sem partidos

Dos seis candidatos com melhores chances de passar ao segundo turno, apenas Yonhy Lescano pertence a um dos três partidos políticos que foram fundados nas primeiras décadas do século XX. A Ação Popular foi criada pelo ex-presidente e arquiteto Fernando Belaúnde Terry, político de direita que promoveu o desenvolvimento do país por meio de obras públicas.

A Força Popular, chefiada por Fujimori, é o quarto nome pelo qual essa estirpe concorre à presidência. Seu pai chegou à presidência pela primeira vez por meio do Cambio 90, que ele fundou; posteriormente, o partido passou a se chamar Alianza 2000 nas eleições desse ano, e Força 2011, quando ela concorreu pela primeira vez à presidência.

Os demais são grupos políticos que obtiveram registro eleitoral recentemente, não defendem nenhuma doutrina política ou têm valores difusos, e reaparecem apenas em eleições: seja para servir como partido de aluguel ou para disputar eleições.

Os candidatos Hernando De Soto, Pedro Castillo e Verónika Mendoza se candidatam com a sigla de grupos aos quais se associaram ou se aliaram no ano passado. López Aliaga até mudou o nome do partido do qual foi líder até poucos anos atrás porque seu principal dirigente está envolvido em investigações de corrupção: passou de Solidariedade Nacional a Renovação Popular.

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