Trump faz uma visita surpresa aos apoiadores em frente ao hospital e é saudado como herói
Presidente norte-americano também publica um vídeo: “Aprendi muito sobre a covid. Eu a entendo. É muito interessante”, afirma. Médicos dizem que ele pode ter alta já nesta segunda-feira
A entrada do hospital militar Walter Reed parecia neste domingo a antessala de um comício de Donald Trump. Tocava a todo volume The Eye of the Tiger, a trilha sonora de Rocky, e os apoiadores ali reunidos se referiam ao presidente norte-americano como um “herói”, um “lutador”. Mais de uma centena de fãs do republicano foi ao hospital de Bethesda (Maryland) para mostrar seu apoio ao mandatário, internado desde sexta-feira por coronavírus. Quem teve a surpresa foram eles. Por volta das 17h30 (18h30 de Brasília), o mandatário fez uma visita aos seguidores dentro de um veículo oficial, com máscara, acenando com a mão. “Aprendi muito sobre a covid-19. Aprendi indo verdadeiramente à escola. Essa é a escola de verdade”, disse Trump em um vídeo publicado em sua conta do Twitter minutos antes de interromper sua quarentena. O presidente norte-americano apresenta melhora e pode ter alta já na segunda-feira, dizem os médicos.
As dezenas de partidários do republicano estavam desde o começo da manhã dando apoio ao seu candidato. Alguns chegaram como peregrinos para deixar-lhe ramos de flores, outros gritavam “mais quatro anos!” e vários agitavam bandeiras de Trump-Pence 2020. Ao meio-dia havia somente dois afro-americanos no grupo trumpista; um deles é o dono de uma loja de bandeiras dos Estados Unidos. Pensou que poderia ser uma boa oportunidade para o negócio. Os carros que passavam pelo hospital, localizado em um bairro rico no subúrbio de Washington, apoiavam os manifestantes tocando energicamente suas buzinas.
O carro que os seguidores não esperavam ver era o SUV presidencial blindado em que Trump apareceu. Estava acompanhado por dois agentes do Serviço Secreto, todos de máscara, mas com as janelas fechadas. Os próprios especialistas em saúde da Casa Branca recomendam às pessoas infectadas que se isolem durante pelo menos 10 dias depois de testar positivo. Após ficar duas noites internado no hospital, o mandatário publicou um vídeo na tarde de domingo em que afirmou que “foi uma viagem interessante”. “A covid é uma coisa interessante. Eu a entendo e a compreendo”, disse em um quarto do hospital vestido com um terno.
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) October 4, 2020
Larry Hanson, de 69 anos, dirigiu por duas horas e meia de Richmond (Virgínia) para acompanhar Trump, mesmo simbolicamente. Gosta dele, diz, porque é alguém que trabalha para o homem comum e normal, que fala na linguagem do povo. Para Hanson, as eleições presidenciais de 3 de novembro definirão se os EUA continuam com o modelo capitalista ou se transformarão em socialista. No debate de terça-feira, Trump disse ao candidato democrata, Joe Biden, que seu partido quer se tornar socialista. “Vão te dominar Joe. Você sabe”, afirmou. Essa mensagem do mandatário tocou Hanson profundamente, que considera que Trump “atacou como um pitbull” e que só a imprensa progressista publicou que Biden havia vencido o primeiro cara a cara. “A Fox News, que diz a verdade, disse que não”, aponta.
Trump atravessou boa parte da pandemia na negação: só apareceu em público com máscara em meados de julho, manteve os comícios de campanha e, poucas horas antes de testar positivo, disse em um evento de arrecadação de fundos que o fim da pandemia estava muito próximo. Quando seus seguidores são consultados sobre a atitude do mandatário, tendem a ser esquivos: “a responsável por tudo isso é a China”, “a imprensa mente”, “também não usaram máscaras nos protestos”, “não quer assustar as pessoas”... Bill Donson, de 57 anos, defende que o republicano não usa máscara porque os que o rodeiam fizeram o teste antes de se reunir com ele. Então por que deu positivo? “Porque não sabemos o que aconteceu no debate!”, responde, sem máscara.
Em meio à música country que dispara pelas buzinas e os gritos dos que colocam seu corpo pela janela do carro para apoiar os trumpistas, se escuta uma voz que dizia que as vidas negras importam. É Madison, de 24 anos, que segura um cartaz na ilha que atravessa a rua em frente ao hospital em que se lê: “Por que agora vocês se preocupam com o coronavírus?”. Veio com sua mãe de Gaithersburg (Maryland) para enviar a mensagem à comunidade negra de que nem todos os brancos concordam com “o supremacismo branco apoiado por Trump”. Ela fica chocada que agora os seguidores do presidente norte-americano se preocupem com pandemia após minimizá-la durante meses. Os números de mortos nos EUA chegam a 210.000.
É a primeira vez que Linda, de 62 anos, participa de uma espécie de evento trumpista. Nascida e criada na área em que se encontra o hospital, decidiu se aproximar para apoiar o presidente que, segundo sua perspectiva, foi o mais atacado da história. Mãe de dois militares, reconhece que gostaria que o republicano tivesse uma atitude mais presidencial. “Sou sincera, às vezes desejo que não diga as coisas que diz, mas acho que tem bom coração”. Ao lado dela se encontra uma família asiático-norte-americana. A mulher, de 40 anos, que prefere não dizer o nome, defende que Trump só quer lei e ordem ao país. “Nós viemos da China, um país comunista, e dizemos para vocês: não funciona”, afirma, como se instaurar tal regime autoritário fosse uma opção.
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