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Kamala Harris aceita indicação e se torna a primeira mulher negra candidata de um grande partido nos EUA

Ex-presidente Obama parte para o ataque com um discurso potente contra Trump na terceira noite da Convenção Democrata: “Não se adaptou ao cargo porque não é capaz”

Kamala Harris
Kamala Harris, nesta quarta-feira, durante seu discurso em Wilmington, Delaware.Carolyn Kaster (AP)
Amanda Mars
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In this image from video, Jill Biden is joined by her husband, Democratic presidential candidate former Vice President Joe Biden, after speaking during the second night of the Democratic National Convention on Tuesday, Aug. 18, 2020. (Democratic National Convention via AP)
Democratas formalizam candidatura presidencial de Biden contra Trump
Democratic presidential candidate and former Vice President Joe Biden and vice presidential candidate Senator Kamala Harris take the stage at a campaign event, their first joint appearance since Biden named Harris as his running mate, at Alexis Dupont High School in Wilmington, Delaware, U.S., August 12, 2020. REUTERS/Carlos Barria
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This Dec. 25, 1968 photo provided by the Kamala Harris campaign shows her with her sister, Maya, on Christmas. (Kamala Harris campaign via AP)
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A senadora californiana Kamala Harris aceitou na noite desta quarta-feira a indicação democrata a vice-presidente e se tornou a primeira mulher negra a integrar a chapa presidencial de um grande partido nos Estados Unidos. A confirmação de Harris é parte de uma convenção histórica por muitos motivos, sobretudo porque, devido à pandemia de coronavírus, esse evento da política transcorre de forma virtual neste ano. Seu discurso de aceitação passou do emotivo ao agressivo contra Donald Trump: “Reconheço um predador quando o vejo”, chegou a dizer a ex-promotora, olhando para a câmera e sem citar o nome do republicano.

Precedeu-lhe um poderoso discurso do ex-presidente Barack Obama, que partiu para cima de Trump e fez recordar por que o Partido Democrata continua sem ter muito claro quem poderia substituí-lo em termos de oratória. Foi, contudo, uma noite eminentemente feminina, de mulheres ambiciosas, veteranas da política e da vida, acostumadas a romper barreiras invisíveis. Falaram a ex-secretária de Estado e ex-candidata presidencial Hillary Clinton, a presidenta da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, e a senadora progressista Elizabeth Warren. “Minha mãe não poderia jamais imaginar que eu estaria aqui hoje dizendo estas palavras diante de vocês: aceito a indicação a vice-presidenta dos Estados Unidos da América”, disse Harris.

A história já está feita, mas os democratas precisam agora ganhar a eleição de 3 de novembro. E isso não será fácil, como recordou a intervenção de Hillary Clinton. O Partido Democrata procura, nestas eleições presidenciais, superar o trauma de sua inesperada derrota de 2016, quando um candidato insólito, que chegou a parecer uma sabotagem contra os republicanos, arrebatou a Casa Branca de uma candidata que parecia tirada de um manual. “Na época, eu disse que devíamos lhe dar uma chance, todos os presidentes merecem uma”, afirmou Clinton. “Quem dera Trump tivesse sabido ser um bom presidente.”

A ex-primeira-dama pediu às bases que saiam em massa para votar no dia 3, um apelo com sabor amargo. “As pessoas passaram quatro anos me dizendo: ‘Eu não sabia que ele era tão perigoso’, ‘Ah, se eu pudesse voltar no tempo’. Ou pior: ‘Eu devia ter ido votar’. Esta não pode ser outra eleição do ‘ah, se eu...’ ou do ‘eu devia’...”

Harris, de 55 anos, é algo mais que a companheira de chapa de Joe Biden na corrida presidencial. É uma provável candidata a presidente em 2024 se ganharem neste ano, já que o ex-vice-presidente da era Obama, aos 77, já deixou escapar ao seu entorno que não repetirá mandato. A cadeira do Salão Oval era, na verdade, a que ela aspirava há um ano, quando se apresentou às primárias democratas. Foi dura, teve alguns momentos estelares, mas seus dados nas pesquisas eram ruins e ela se logo se retirou. Calculou bem. Na noite desta quarta, colheu parte dos frutos. A senadora, além disso, também permite vislumbrar uma substituição geracional que não aconteceu nas primárias. O seu foi um dos nomes do futuro do partido designados por Obama quando estava prestes a deixar a Casa Branca, quatro anos atrás.

O ex-presidente se dirigiu aos eleitores na noite desta quarta-feira de um lugar muito significativo: o museu da Revolução Americana, em Filadélfia, onde foi assinada a Constituição. Tachou Donald Trump de incompetente absoluto e de perigo para a democracia. “Não demonstrou nenhum interesse em tratar a presidência como algo diferente de mais um reality show, que pode usar para conseguir a atenção que anseia. Donald Trump não se adaptou ao trabalho porque não consegue. E as consequências desse fracasso são graves. Mais de 170.000 norte-americanos mortos”, disse, em referência à epidemia de covid-19.

“O que fizermos nos próximos 76 dias deixará seu eco nas gerações vindouras”, advertiu Obama. Pediu confiança “na capacidade do Joe e da Kamala de tirarem o país destes tempos obscuros”. Biden, que foi seu número dois em ambos os mandatos (2009-2017), “restaurará o lugar dos Estados Unidos no mundo”, prometeu. “Joe conhece o mundo, e o mundo conhece Biden”, afirmou.

Trump reagiu em sua conta do Twitter, publicando mensagens em letras maiúsculas e exclamações, em que acusava Obama, sem base, de espionar sua campanha. Afirmou que o ex-presidente demorou muito para anunciar o apoio à candidatura de Biden.

O ex-vice-presidente se tornará formalmente o candidato presidencial nesta quinta-feira, dando início a uma nova fase da campanha. Biden, menos enérgico que Trump e pior orador que Obama, é bom em distâncias curtas, no trato direto com o eleitor, algo que a pandemia está impedindo. Sua campanha está limitada a pronunciamentos televisivos e vídeos em redes sociais —enquanto o presidente não deixa de percorrer o país em atos oficiais—, mas logo começará o corpo a corpo, os inevitáveis debates contra seu rival republicano e a reta final da campanha.

Harris agora somará sua força. “Estamos em um ponto de inflexão. O caos constante nos deixa à deriva. A incompetência nos faz sentir assustados. A insensibilidade nos faz sentir sozinhos. É muito. E esta é a realidade: podemos fazer melhor e merecemos muito mais”, afirmou a candidata democrata a vice-presidente dos EUA.

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