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Convenção Democrata menos convencional da história tem apelos à unidade e ataques a Donald Trump

O obrigatório formato virtual transforma o conclave partidário em um produto televisivo tão eficaz quanto carente de espontaneidade, que busca ampliar a penetração de Joe Biden entre o eleitorado

Un hombre mira el discurso de Michelle Obama en la Convención Demócrata. En vídeo, Michelle Obama apuesta por la candidatura de Joe Biden.Vídeo: CHRIS DELMAS (AFP) / REUTERS
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Democratic presidential candidate and former Vice President Joe Biden and vice presidential candidate Senator Kamala Harris take the stage at a campaign event, their first joint appearance since Biden named Harris as his running mate, at Alexis Dupont High School in Wilmington, Delaware, U.S., August 12, 2020. REUTERS/Carlos Barria
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FILE PHOTO: U.S. Democratic presidential candidate Senator Bernie Sanders addresses a news conference in Burlington, Vermont, U.S., March 11, 2020. REUTERS/Lucas Jackson/File Photo
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Falou-se muito mais sobre pessoas do que sobre políticas. Sobre o caráter do candidato Joe Biden, e sobre a incapacidade de seu rival, o presidente Donald Trump, de lidar com os desafios que os Estados Unidos enfrentam. “Trump é o presidente errado para o nosso país”, resumia no final da noite Michelle Obama, a última primeira-dama democrata.

O primeiro dos quatro episódios desta Convenção Democrata, feita de maneira virtual pela primeira vez em seus quase 200 anos de história, foi estranho no formato. Uma tranquila sucessão de videoclipes, pequenas peças informativas, breves intervenções de eleitores e discursos de figuras partidárias pronunciados em suas casas ou em outras locações espalhadas por todo o país, com a atriz Eva Longoria, sozinha em um cenário, como mestra de cerimônias. Foi a convenção menos convencional da história. Um espetáculo desprovido de qualquer espontaneidade, mas não de emoção. Intimista em alguns momentos, puramente publicitário em outros, e muito diferente de todas as outras convenções, o espetáculo foi mais bem digerido porque há meses boa parte dos telespectadores vem se acostumando com esses enquadramentos em que vemos a sala de alguém, sem outro sinal de vida a não ser o interlocutor.

A palavra do dia: empatia. Essa foi a grande virtude destacada por correligionários do candidato democrata ―algo confirmado inclusive por um supervisor de vagão no trem em que viajava de Delaware a Washington nos seus tempos de senador―, e que o próprio Biden exaltou ao aparecer conversando com familiares de vítimas da violência policial, o problema social mais discutido da história recente dos EUA.

E a mensagem da noite foi que todos cabem na candidatura de Biden e Kamala Harris. As duas horas de programa televisivo percorreram todo o espectro ideológico, do socialista Bernie Sanders a uma série de eleitores republicanos dizendo-se fartos de Trump (e inclusive alguns ocupantes de cargos públicos) e prometendo votar em Biden. “Em tempos normais isto provavelmente nunca teria ocorrido, mas estes não são tempos normais”, afirmou John Kasich, ex-governador republicano de Ohio. “Muitos [republicanos] temem que [Biden] dê uma guinada pronunciada à esquerda e os deixe para trás. Eu não acredito, ninguém manipula o Joe.”

Todos unidos em destacar o bom coração de Biden e o perigo encarnado pelo 45º presidente dos Estados Unidos. “Nero tocava lira enquanto Roma ardia. Trump joga golfe”, disse o senador Bernie Sanders, ex-rival de Biden nas primárias, em um dos discursos mais esperados da noite. Poucas vezes se viu Sanders pedir voto com tanta intensidade para outro político. Chegou a dizer que está disposto a trabalhar contra Trump inclusive com os conservadores, num aceno a esses republicanos cuja presença na convenção tinha irritado muitos de seus seguidores. “Meus amigos, o preço do fracasso é simplesmente grande demais para imaginar”, concluiu, num vídeo gravado em um hotel de Vermont.

Carentes de toda espontaneidade, ouviram-se discursos cuidadosamente escritos e bem ensaiados. A tentativa de acrescentar mosaicos como o do Zoom ao final de algumas intervenções, com seguidores em suas casas aplaudindo, não supria a falta de público que os animasse e às vezes beirava o ridículo. Os discursos ganhavam em eficácia quando tratavam de ser mais intimistas que políticos, como o de Michelle Obama, falando em um plano fechado, sentada num sofá.

A ex-primeira-dama contextualizou o papel que Trump assumiu em seus três anos e meio de presidência, apontando principalmente sua posição frente à pandemia do coronavírus e as tensões raciais. “Donald Trump é o presidente errado para o nosso país. Teve tempo mais do que suficiente para demonstrar que pode fazer o trabalho, mas está claro que está acima dele. Não tem como encarar este momento. Simplesmente não pode ser quem precisamos que seja para nós. Assim é”, afirmou em seu discurso.

Michelle Obama acrescentou que Trump só causou “caos, divisão e falta de empatia” entre os norte-americanos e recordou que, nas eleições de 2016, o republicano não obteve a vitória no voto popular para ser o inquilino da Casa Branca. A ex-primeira-dama pediu voto para Biden com um apelo à empatia e sugerindo as características desejáveis em um presidente dos EUA. “Ser presidente não muda quem você é, revela quem você é”, comentou.

A mensagem foi gravada na sala da sua casa, e a esposa de Barack Obama usava um colar com letras que compunham a palavra “Vote”. Ela está envolvida em campanhas de estímulo ao voto e regularmente publica mensagens nesse sentido em suas redes sociais. “Se você acha que as coisas não vão piorar, acredite em mim, elas vão, se não fizermos algo nestas eleições. Se temos alguma esperança de acabar com este caos temos que votar no Joe Biden como se nossas vidas dependessem disso”, acrescentou. Obama concluiu que não é hora de protestar através do abstencionismo, nem de “brincar com candidatos que não têm chances de ganhar”, em alusão à candidatura do cantor Kanye West.

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